Cerca de 15% da população do estado do Acre está desabrigada por causa das enchentes que atingem o estado desde o mês passado. As águas dos rios começam a baixar, mas o risco de novas inundações não está descartado. Para agravar a situação, a população acreana, cerca de 900 mil pessoas, ainda vive o risco com surtos da Covid-19 e dengue, além de doenças como hepatite A e leptospirose, muito comuns após enchentes. O quadro no estado fica mais dramático com conflitos na fronteira com o Peru, onde refugiados haitianos tentam sair do Brasil.
“A situação ainda está muito complicada. Os rios ainda estão cheios apesar de ter começado a vazante. A Covid-19 está crescendo por aqui e também temos uma linha crescente de contaminação por dengue. Além disso, temos o problema migratório na fronteira com o Peru”, relatou o presidente do Sindicato dos Bancários do estado, Eudo Raffael Lima da Silva.
Desabrigados
A população do Acre é de aproximadamente 900 mil habitantes e Eudo calcula que atualmente existam cerca de 130 mil pessoas desabrigadas, cujas residências foram alagadas pelas águas. Os desabrigados estão concentrados em 11 dos 22 municípios do estado. O Sindicato dos Bancários do Acre desenvolve campanha de solidariedade para os atingidos pelas enchentes na capital, Rio Branco, e na segunda cidade do estado, Cruzeiro do Sul.
Apesar das águas estarem baixando, o presidente do Sindicato dos Bancários avalia que a Prefeitura de Rio Branco não tem feito os trabalhos de limpezas das áreas que foram alagadas. “A situação sanitária piorou muito porque tem bairros alagados pelos igarapés, não tanto pelos grandes rios. As águas estão baixando, mas por uma falta de ação da Prefeitura, as doenças começam a aparecer. Tem bairros que não estão mais inundados, mas estão cheios de lama e esgoto. O problema é que o esgoto desce todo para o rio”, destaca Eudo.
Rios
A enchente atingiu os principais rios do estado. O Rio Acre saiu da cota de alerta, de 13,50 metros, em Rio Branco. A Defesa Civil Municipal informou que o manancial, que chegou à marca dos 15,80 metros no último dia 17, neste domingo (28) marcou 12,98 metros. A cidade de Tarauacá, a quarta do estado, com 42 mil habitantes, ficou com 90% de sua área debaixo das águas do rio Acre.
O terceiro município do estado, Sena Madureira, com 45 mil habitantes, também foi atingido pela cheia do rio Iaco, que atingiu a cota de 16,10 metros no domingo (28). Cruzeiro do Sul, a segunda maior cidade do estado, com 90 mil habitantes, teve um terço de sua população atingida pela enchente do rio Juruá. Desde o dia 15 a cidade está em estado de emergência, que deve durar 60 dias.
Outro problema acreano é o dos refugiados haitianos que tentam deixar o estado e atravessar a fronteira com o Peru. Um grupo de pelo menos 300 haitianos ocupou a ponte da Integração que liga a cidade acreana de Assis Brasil, na fronteira com o Peru, no dia 14. Com a fronteira fechada, eles tentaram sair do Brasil, mas foram impedidos pelas autoridades peruanas. “Foram presos alguns coiotes que estavam tirando dinheiro dos haitianos para atravessá-los para o pais vizinho”, revelou o presidente do Sindicato dos Bancários do Acre. Coiote é um intermediário que facilita a passagem de imigrantes ilegais pelas fronteiras. A fronteira do Acre com o Peru está fechada desde março de 2020.
Lockdown de feriado
As medidas tomadas pelo governador do estado, Gladson Cameli (PP), para controlar a ampliação do contágio da Covid-19 também são consideradas insuficientes pelo presidente do Sindicato. “O governador aqui inventou um lockdown só à noite, um lockdown de feriado, mas liberou tudo nos dias de semana. De segunda a sexta funciona desde o supermercado até o boteco. Isso, com a soma das aglomerações das pessoas nos abrigos, isso deve ter uma explosão no sistema de saúde, que já está em colapso há algum tempo. Faz duas semanas que a ocupação nas UTIs, quando não está 100%, está 90%”, relatou Eudo.
O presidente do sindicato dos Bancários do Acre informou que a campanha de solidariedade aos desabrigados envolve principalmente jovens de Rio Branco, que arrecadam alimentos para as vítimas. Em Cruzeiro do Sul, diretores da entidade arrecadavam produtos de higiene. O sindicato contratou um assistente social para ajudar nos trabalhos de triagem das doações.
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