Valor Econômico
Marli Lima
Parte da família Vieira, fundadora do banco Bamerindus, vai ser paga pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) caso seja aprovada uma proposta que será votada no dia 22 em Curitiba (PR) por integrantes da Associação Brasileira dos Investidores Minoritários do Grupo Bamerindus.
Outra parte da família continua com os bens bloqueados, à espera do avanço do processo de liquidação da instituição, que sofreu intervenção em 1997 e passou para as mãos do HSBC.
“Vamos receber nesse acordo eu, minha mãe e meus irmãos”, diz Francisco Vieira, neto do fundador do banco e irmão de Fernanda Vieira Richa, mulher do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB).
Segundo ele, que é sócio da holding Autoplan e possui investimentos em empresas que prestam serviços a instituições financeiras, há outros integrantes da família na ação. “Muitos fizeram poupança com ações do Bamerindus. Vão optar por receber agora a morrer lutando”, comentou.
Depois de quase 14 anos e oito ações judiciais movidas pelos acionistas, o FGC propôs o pagamento de R$ 7,74 por ação do banco e R$ 5,52 por ação da Bamerindus Participações, que em 1997 valiam R$ 12,90 e R$ 9,00, respectivamente – ou seja, o pagamento será de 60%.
“Queríamos receber os R$ 12,90, mas acho que agora teremos um acordo definitivo”, diz o vice-presidente da associação, Jair Capristo. Como esses minoritários possuem cerca de 8 milhões de ações das duas empresas, o valor do desembolso é estimado em cerca de R$ 50 milhões.
O FGC ainda é credor de mais de R$ 5 bilhões da massa falida do Bamerindus e, se os minoritários encerrarem suas ações na Justiça, o fundo pode leiloar ativos que estão bloqueados e pagar credores, ele inclusive.
Fora da proposta que será votada estão, por enquanto, ex-diretores do banco e membros da família que ocupavam cargos no Bamerindus, como o ex-controlador, José Eduardo Andrade Vieira, e a irmã dele, Maria Christina de Andrade Vieira, atual presidente da Fundação Cultura de Curitiba.
Zé Eduardo, ou Zé do Chapéu, como era conhecido, possui 14 ações na Justiça que questionam a intervenção do Banco Central e seus desdobramentos. Hoje, com 72 anos de idade, ele vive em Londrina, norte do Paraná, e dedica-se à administração do jornal “Folha de Londrina”.
“O custo emocional foi grande. Não tenho conta em banco. Vivo em suspenso”, reclama Maria Christina, que era diretora de infraestrutura e fazia parte do conselho de três empresas ligadas ao Bamerindus. Com a proximidade da solução para os minoritários, ela aguarda as novas etapas que virão. “Agora vai andar. É o que tenho ouvido.” Ela lembra de um acerto que foi feito três anos atrás entre os envolvidos no processo, entre eles o FGC, que tem como condição o fim das ações judiciais. E espera receber por suas ações do banco.
O advogado de Zé Eduardo, Harry Françóia Júnior, afirmou que o cliente não vai impor restrição ao pagamento dos minoritários e não quer inviabilizar o acordo com o FGC. “É o início para resolver a liquidação do banco”, comentou. Sobre os questionamentos legais do ex-banqueiro, ele acrescentou não se tratar apenas de assunto financeiro. “Tem aspecto moral.”
Os problemas recentes enfrentados pelo banco PanAmericano chegaram a adiar a solução para os minoritários do Bamerindus, porque exigiram atenção de pessoas envolvidas no processo.
Para os próximos passos, após a aprovação da proposta de compra das ações, espera-se que o FGC envie cartas aos cerca de 1,2 mil membros da associação para que cada um receba o dinheiro. Além deles, há outros 53 mil investidores do banco, com lotes menores de ações, que, caso queiram, poderão aderir à associação nos próximos dias. “Foi como tirar leite de pedra. Uma grande vitória”, diz James Marins, advogado da associação.
Ele moveu a primeira ação ainda em 1997, pedindo a suspensão da venda para o HSBC. Perdeu, mas na sequência questionou outros pontos do contrato, como a avaliação dos imóveis. Um deles, lembra, foi o fato de que o HSBC pagou R$ 380 milhões pelos ativos intangíveis do Bamerindus, parcelados em sete anos, e recebeu valor semelhante à vista, como verba de reestruturação.