Cerca de 3 mil camponeses estarão no Acampamento Nacional pela Reforma Agrária, entre os dias 10 e 21 de agosto, em Brasília. De acordo com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a mobilização denunciará que a reforma agrária continua parada e à margem do desenvolvimento do país.
Durante a atividade, os trabalhadores também exigirão o assentamento das 100 mil famílias acampadas, crédito para produção, habitação rural, educação e saúde. Ainda segundo o MST, há famílias acampadas há mais de cinco anos vivendo em situação precária à beira de estradas e em áreas ocupadas, vítimas da violência do latifúndio e do agronegócio.
O Sinpaf (Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário), filiado à CUT, é uma das entidades parceiras do acampamento. “A defesa da reforma agrária é um dos pontos do nosso Estatuto. A participação efetiva no acampamento proporcionará não só uma formação política, mas também a compreensão de movimentos sociais na luta pela reforma agrária e dos direitos dos trabalhadores urbanos e rurais”, observa o presidente do Sindicato, Valter Endres.
No acampamento, serão realizadas oficinas e grupos de discussão, o que permitirá aos participantes a convivência com lideranças de todas as regiões do país. “Essa mobilização acontecerá num clima de liberdade democrática e de exercício de cidadania, no qual os trabalhadores discutirão questões envolvendo desde o exercício do uso de recursos naturais na produção de alimentos, à necessidade de desenvolvimento de tecnologias apropriadas à agricultura familiar e aos assentamentos rurais, até os direitos sociais e previdenciários, envolvendo saúde, educação e segurança da população urbana e rural”, completa Valter.
Agosto, mês de lutas
O Acampamento Nacional é uma das mobilizações da classe trabalhadora que as entidades dos movimentos sociais e sindical estão organizando para o mês de agosto. As centrais sindicais realizarão a Jornada Nacional Unificada de Lutas com mobilizações em todo o Brasil, no dia 14.
Os trabalhadores do campo e da cidade estarão unidos contra a crise e as demissões, por emprego e melhores salários, pela manutenção e ampliação de direitos, redução das taxas de juros e da jornada de trabalho (sem redução de salários), pela reforma agrária e urbana e em defesa dos investimentos em políticas sociais.
Números da concentração fundiária no Brasil
– O Brasil é o segundo país com a maior concentração da propriedade fundiária, atrás apenas do Paraguai, onde também atuam latifundiários brasileiros.
– De acordo com o Incra, 1% dos estabelecimentos agrícolas controla 45% das terras, enquanto 90% dos pequenos estabelecimentos têm apenas 20% da área agricultável.
– Em 1992, havia 19 mil latifúndios com mais de 2 mil hectares. Juntos, somavam 121 milhões de hectares. Em 2003, o número de propriedades aumentou para 32 mil e a área total desses latifúndios agora soma 132 milhões de hectares (em 11 anos, 12 milhões de hectares foram apropriados pelo latifúndio.)
– Para assentar as 4,5 milhões de famílias sem-terra basta desapropriar as 28 mil propriedades que concentram os 45% das terras.
– Há 120 milhões de hectares de terras boas para agricultura e pecuária que não produzem nada.
– No Brasil, mais de 30 milhões de hectares pertencem a empresas estrangeiras.
– 32 mil latifundiários concentram 132 milhões de hectares.
– Apenas 30% dos imóveis cadastrados no Incra são considerados produtivos.
– O Brasil possui 250 milhões de áreas devolutas (áreas que pertencem ao Estado e foram apropriadas ilegalmente pelo latifúndio).