A cada oito dias, Rio Grande do Sul tem um ataque a banco com reféns

Remédios consumidos por vítima de ataque a banco

O jornal Zero Hora publicou no domingo, dia 8, uma reportagem especial sob o nome de “Bancários na mira” sobre os ataques a bancos com sequestros de bancários e reféns no Rio Grande do Sul, mostrando o crescimento das ações criminosas e os traumas de gerentes e familiares. O assunto foi também a manchete principal de capa da publicação: “A cada oito dias, RS tem um ataque a banco com reféns”.

> Clique aqui para ver a relação de ataques:

Leia a íntegra da reportagem:

O trauma de quem foi refém do crime

Gerentes de banco entraram na mira dos assaltantes no Estado. O número de ataques com reféns e com vítimas mantidas em cárcere privado quadruplicou em comparação ao ano passado. Dos 40 casos até a semana passada (em 2012, foram nove), metade envolve bancários ou seus familiares.

O ano de 2013 é um dos mais violentos para bancários e seus familiares. Vítimas do crime organizado, eles são alvo preferido de quadrilhas especializadas em ataques a banco. O trauma muda as rotinas e abala famílias.

Um casal de bancários, moradores de Canoas, na Região Metropolitana, teve a vida alterada às 8h40min de 5 de julho. Naquela manhã, eles foram fechados por três carros no caminho do trabalho. Funcionário de um banco privado, o homem, que por segurança tem a identidade preservada, gerenciava 10 agências quando foi alvo de uma quadrilha formada por pelo menos cinco bandidos armados.

Na casa, estavam uma tia da mulher, a babá, e, dormindo, os dois filhos do casal. Separada em dois carros, a família, incluindo o menino de três anos, passou a manhã inteira na mão dos assaltantes. Enquanto o gerente era pressionado para entregar o dinheiro da agência, os demais foram colocados em um carro do mesmo modelo de um dos veículos da família, tática usada pela quadrilha para não alertar os vizinhos.

– Eles disseram “calma, que a gente não vai fazer nada com vocês, é só colaborar” – recorda a vítima, que ainda se recupera das agressões.

O grupo monitorava a rotina do gerente há três meses, e a ameaça, na manhã daquela sexta-feira, era clara:

– A gente quer o banco, e tu és a chave. Colabora porque pegaram teus filhos.

Sem chave do cofre, vítima foi humilhada

Sem a chave do cofre, o bancário foi chamado de mentiroso. Sob constante ameaça, ele só foi liberado, com o carro da família, mas sem celular, às 11h, no bairro Humaitá, em Porto Alegre.

– Sabemos tudo da tua vida e se a gente desconfiar que tu mentiu vamos atrás dos teus filhos – anunciaram os assaltantes.

Minutos depois, parentes eram libertados a pé no bairro Sarandi. Hoje, ele contabiliza seis internações em uma clínica psiquiátrica e presencia a filha de apenas 11 anos tomando medicamentos tarja preta. Como o marido, a mulher se afastou do trabalho e carrega a responsabilidade e a tentativa de reerguer a casa em um novo endereço – a atual, transformada em cativeiro por bandidos, está à venda.

Coordenadora do Departamento de Saúde do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região (SindBancários), Jaceia Netz alerta para o impacto da violência:

– É como se elas (vítimas) não tivessem tomado medidas de proteção familiares. Isso gera, além do estresse pós-traumático, outro processo de adoecimento, que é a responsabilização.

A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) alega, em nota, que a segurança dos funcionários e clientes é uma preocupação central dos bancos associados. Nas agências, medidas preventivas, como cofre com dispositivo de tempo e redução do dinheiro, foram adotadas. Com relação aos ataques a funcionários, que começam fora do ambiente de trabalho, a Febraban diz que uma parceria com as polícias e a Justiça tem indicado “novos padrões de proteção”.

Para o titular da Delegacia de Repressão a Roubos e Extorsões do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), Joel Wagner, está ocorrendo uma migração da criminalidade:

– Eles são dinâmicos e atuam onde existe rentabilidade maior. Talvez daqui a dois ou três meses, voltem os ataques a carros fortes. Em muitos casos, uma quadrilha copia a outra e até pessoas sem experiência acabam se aventurando.

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