Contraf-CUT defende mudança na forma de organização do trabalho
Vários países, como o Brasil, celebram nesta segunda-feira (28) o Dia Mundial de Segurança e Saúde no Trabalho. A data estabelecida pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) também é conhecida como Dia Mundial em Memória às Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho. Isso porque em 28 de abril de 1969 uma explosão em uma mina, em Virgínia, nos Estados Unidos, matou 78 trabalhadores.
No Brasil, a CUT e as demais centrais chamam a atenção para o aumento dos casos de doenças e mortes relacionadas à rotina estressante de trabalho. “Assédio moral no trabalho e a violência organizacional adoecem e podem matar” é o tema das mobilizações e dos debates promovidos pelos trabalhadores este ano.
A categoria bancária está entre as que mais sofrem os efeitos do assédio moral e da forma de gestão adota pelos bancos, que prioriza o lucro, com metas cada vez mais altas em detrimento da saúde dos funcionários.
O secretário de Saúde do Trabalhador da Contraf-CUT, Walcir Previtalle, afirma que o combate ao assédio moral e às doenças causadas pelo modelo de administração do setor bancário precisam passar por intervenção direta dos trabalhadores.
“Para a melhoria da saúde dos trabalhadores é necessário a participação dos empregados no processo que define a organização do trabalho, prevendo a intervenção nos ambientes de trabalho. Tudo passa pela democratização das relações de trabalho no Brasil, garantindo o cumprimento das convenções da OIT, como a 144 por exemplo”, explica Walcir.
Assédio moral e depressão
No ramo financeiro, as doenças relacionadas à saúde mental já superam as do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo, as chamadas LER/Dort.
Em 2013 foram 18.671 afastamentos de bancários por problemas de saúde. Do total de auxílios-doença acidentários concedidos pelo INSS, 52,7% tiveram como causas principais os transtornos mentais e as doenças do sistema nervoso. Isso significa dizer que, de cada dez bancários doentes, cinco são por depressão.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), até 2020 a depressão passará da 4ª para a 2ª colocada entre as principais causas de incapacidade para o trabalho no mundo. Estima-se que 121 milhões de pessoas sofram com a depressão, sendo 17 milhões somente no Brasil e, segundo dados da OMS, 75% nunca receberam um tratamento adequado.
Saúde e condições de trabalho
A consulta da Campanha Nacional dos Bancários de 2013, realizada pelos sindicatos, sob a coordenação da Contraf-CUT, ouviu 37.097 funcionários de bancos públicos e privados sobre diversos assuntos de interesse da categoria. O combate ao assédio moral e às metas apareceram nas principais expectativas dos trabalhadores.
Entre os entrevistados, 66,4% responderam que querem o fim das metas abusivas, 58,2% pedem o combate ao assédio moral e 27,4% assinalaram segurança contra assaltos e sequestros.
“Os bancários sofrem as consequências de um ambiente de trabalho autoritário e adoecedor. Os bancos falam tanto em equipe, mas a cobrança é individualizada, o que gera tensão e sofrimento mental para o trabalhador. O assédio moral e o ritmo intenso de trabalho causam várias doenças. É fundamental e urgente combater a origem de tudo isso, mas hoje não há espaço para diálogo nos locais de trabalho”, destaca Walcir.
Audiência pública em Brasília
A Contraf-CUT participa nesta terça-feira (29), junto com as centrais sindicais, de uma audiência pública no Congresso Nacional sobre o assédio moral nas relações de trabalho. O encontro está sendo coordenado pela Frente Parlamentar Pela Segurança e Saúde no Trabalho, presidida pelo deputado Vicentinho (PT-SP).
O propósito é discutir e acelerar a tramitação de projetos de lei, como o PL 7.202/10, que propõe alterações na Lei Previdenciária e tipifica a ofensa moral como acidente de trabalho.
“Os bancos e os empresários, de forma geral, tentam propagar a ideia de que o assédio moral é uma questão individual, que surge do atrito pessoal entre os funcionários, por exemplo. Mas não é assim, é uma prática ilegal, não podemos naturalizar o assédio moral, é um problema coletivo e as decisões dos poderes legislativo e judiciário são fundamentais neste sentido”, avalia o dirigente da Contraf-CUT.
Agenda de 28 de Abril
Além das mobilizações dos trabalhadores, outras entidades também promovem atividades no Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes de Trabalho.
O ministro do Trabalho e Emprego, Manoel Dias, estará em São Paulo pela manhã para debater ações de segurança e saúde no ambiente de trabalho. O encontro com representantes dos trabalhadores e dos empregadores, organizado pela Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo, é na Fecomércio, no bairro da Bela Vista.
A Fundacentro tem seminários agendados em mais de dez cidades. Na sede da capital paulista, o tema abordado é a segurança química no Brasil e em outros países, a partir das 9h30, em Pinheiros.