Começou nesta sexta-feira, dia 24, o 20º Congresso Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil. O evento reúne delegados de todo o país na sede do Sindicato dos Bancários de Brasília para debater as pautas específicas de reivindicação a serem negociadas com o banco na mesa permanente. O encontro vai até domingo 26.
O congresso começou com uma análise de conjuntura feita por Clóvis Scherer, supervisor técnico do Escritório Regional do Dieese/DF. Ele relembrou o tamanho da crise econômica mundial, que vem sendo comparada à crise de 1929. “Aquele momento marcou uma inflexão profunda no modelo de desenvolvimento capitalista. A crise atual também coloca em xeque todo o funcionamento da economia como nós conhecemos”, disse.
A crise ainda está em desenvolvimento, o que gera grande incerteza sobre qual a intensidade e duração dos problemas. “Há quem diga que as economias centrais só voltarão a se desenvolver de fato depois de 2014. A crise está em aberto e seus efeitos serão sentidos ainda por muito tempo”, diz Scherer.
Para o economista, a crise coloca um cenário de incertezas em que os trabalhadores terão o desafio de fazer sua voz ser ouvida. Nesse contexto, alguns pontos importantes são a revisão da regulamentação do sistema financeiro mundial, controle sobre o câmbio e os movimentos do capital, revisão do papel do FMI e do Banco Mundial, ampliação de políticas de proteção social, entre outros.
Um ponto em destaque é a valorização dos empregos e da renda dos trabalhadores. Scherer explicou que o modelo de desenvolvimento adotado nos Estados Unidos baseado no aumento do endividamento das famílias e uma das causas da crise, está muito relacionado à diminuição da renda dos trabalhadores. “Os salários nos EUA e Europa foram contidos nos anos 90 e as famílias só puderam manter consumo a partir de endividamento”, afirmou. “É preciso rever a distribuição de renda entre capital e trabalho para que o consumo possa ser retomado e contribuir para a superação da crise”, concluiu.
O supervisor do Dieese também considera importante o retorno do papel do Estado na economia. “Ficou clara a necessidade de os Estados nacionais intervirem não só para superar os problemas imediatos. Também há uma grande discussão sobre a necessidade de o Estrado voltar a investir principalmente em infra-estrutura para gerar estímulos para a indústria e a economia. Mas em que grau essa participação se dará ainda está em aberto”, afirmou.
Segundo Scherer, a crise chega no Brasil principalmente pela restrição imediata do crédito internacional, redução do comércio externo e fuga de recursos investidos no mercado financeiro. “No entanto, a economia brasileira tem um setor público fortalecido – tanto por outra correlação de forças na discussão sobre o papel do Estado quanto financeiramente”, diz.
A existência de empresas públicas é um fator central. “Elas ajudam a dar condições de realizar políticas contra crise. Os bancos federais foram uma garantia do crédito nesse momento em que houve estrangulamento”, analisou. Além disso, o fortalecimento do mercado interno e as maiores reservas cambiais são fatores positivos, além da pauta de exportações mais diversificadas. “Outros países estão sofrendo muito mais com a queda das importações dos EUA. Para se ter uma idéia, nos últimos meses a China se tornou o principal importador de produtos do país”, afirmou.
Quanto ao impacto no mercado de trabalho, o economista lembrou que a crise chega num momento em que o Brasil está muito aquecido, com um crescimento do emprego formal de cerca de 60% nos últimos 10 anos. Além disso, houve crescimento significativo do salário real dos trabalhadores. “Por isso, podemos dizer que parte do estimulo econômico que tivemos foi ligado ao consumo das famílias e se deve muito à recuperação e formalização do mercado de trabalho”, disse Scherer.
O supervisor do Dieese listou uma série de desafios para a sociedade brasileira, entre eles garantir a aprovação pelo Congresso de uma política perene de valorização do salário mínimo, redução das taxas de juros e do spread, expansão do investimento público – especialmente na agricultura família, saneamento e habitação, garantia de que as políticas de estimulo econômico venham amarradas com contrapartidas sociais – com boa qualidade de emprego, respeito a leis trabalhistas etc. “É preciso desmontar essa estrutura que favorece os detentores do capital financeiro”, afirmou.
Além disso, ele vê questões específicas a serem tratadas pelo movimento sindical nas negociações coletivas, especialmente a preservação do emprego, dos acordos coletivos e do poder de compra. “A defesa do emprego e da renda é estratégica. Nos últimos anos o número de negociações que conseguiram reajuste real de salário aumentou e mesmo depois da crise essa tendência ainda não mudou. Os ajustes promovidos pelas empresas têm sido feitos no emprego, não com reduções de salário”, afirmou.
O economista destacou também a importância de lutar por uma nova regulamentação do mercado de trabalho, especialmente com a adoção da Convenção 158 da OIT, que inibe demissões imotivadas e diminuiria a rotatividade do mercado.