10º CONCUT: Brasil caminha na contramão da sustentabilidade, diz debatedor

A atual situação mundial é absurda e inviável quando analisada pelos pontos de vista da sustentabilidade e de questões sociais, humanas e econômicas. Foi com esta constatação que iniciaram os debates do seminário internacional na manhã desta terça-feira, 4, na 10ª CONCUT.

O apontamento foi feito pelo economista Theotonio dos Santos, que também culpou as divergências entre teoria e prática na política neolibertal como a principal causa do atual desequilíbrio econômico mundial. Segundo ele, ao mesmo tempo em que os teóricos neoliberais defendiam a diminuição gradativa da intervenção do Estado na economia, houve um movimento, liderado pelos EUA, de canalização de recursos para controle político e econômico mundial.

“Hoje, o Estado atua como organizador da dívida pública e da atividade comercial em todo o mundo”, afirmou. “É o Estado que remunera o atual setor financeiro, e acabamos contribuindo para uma economia desequilibrada, que financia o consumismo norte-americano, onde se importa mais do que se exporta, consomem mais do que produzem”, criticou.

O economista defendeu, ainda, que cabe aos movimentos sindicais e sociais a luta pela igualdade na distribuição de renda e na geração de empregos. Para ele, é necessário que haja maior participação desses movimentos na mudança da atual política internacional a fim de se garantir o repasse de recursos para setores fundamentais para a sociedade, como saúde e educação. “A concentração de renda no setor financeiro é inaceitável para a classe trabalhadora, que sempre acaba pagando pelo consumismo”, afirmou. “A atual política neoliberalista pode até recuperar a economia em um curto prazo, mas em cinco ou dez anos, se não mudarmos as políticas estatais, a conseqüência será uma crise ainda maior que a atual”, alertou.

Desenvolvimento X Sustentabilidade

Assim como o desequilíbrio macroeconômico tende a se agravar se não acontecerem mudanças nas políticas mundiais, a busca pelo desenvolvimento e pelo crescimento econômico tende a entrar em conflito com questões básicas da sustentabilidade. O alerta foi dado pelo professor da Faculdade de Economia e Administração da USP, Ricardo Abramovay.

Segundo ele, há uma grande lacuna ambiental que não é considerada quando as sociedades desenvolvem planos de crescimento econômico. Exemplo desta falha está no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) no Brasil, que, para Abramovay, “não é uma solução, mas um profundo agravamento dos nossos problemas ambientais”. “O Brasil está atrasado no sentido de não levar em conta a relação entre economia e ecossistemas em seu planejamento. Essa relação deve estar no coração do planejamento, mas acontece que primeiro se pensa o projeto e só depois se pensa no meio ambiente”, lamentou.

Para o professor, também cabe aos trabalhadores e aos movimentos sindicais a reflexão sobre como a busca desenfreada pelo crescimento pode afetar cenários futuros. “Os trabalhadores devem ter posição decisiva para alterar a concepção do que é riqueza e a maneira com que a sociedade se relaciona com os recursos dos quais dependem”, afirmou. “Os trabalhadores precisam saber se o seu país vai desenvolver sua inteligência e sua capacidade para explorar de maneira sustentável seus recursos naturais, como a Amazônia, que sofre com a escassez de tecnologias que preservem nossa biodiversidade”, completou.

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