Campanha nacional de vacinação retoma papel do Brasil como referência mundial em imunização

Queda brusca de vacinação nos últimos anos, provocada pelo negacionismo e falta de coordenação de políticas públicas, colocou Brasil entre os países com a menor cobertura vacinal do mundo

O lançamento da campanha nacional de vacinação, que aconteceu na tarde da última segunda (27), no Distrito Federal, fugiu dos padrões de outras campanhas oficiais de governo. Ao lado do personagem Zé Gotinha, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, recebeu a dose bivalente da vacina contra o coronavírus, pelas mãos do vice-presidente Geraldo Alckmin.

Dados divulgados pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), mostram que a taxa de vacinação infantil sofreu no Brasil uma queda brusca, de 93,1% para 71,49%, entre 2019 e 2021, e isso colocou o país entre as dez nações com a menor cobertura vacinal do mundo.

“Como um país, que se tornou referência em vacinação, comprometeu, em tão pouco tempo, esse legado?”, questiona o secretário de Saúde da Contraf-CUT, Mauro Salles. “Precisamos lembrar que foi o Brasil que implementou, em 1973, uma das maiores plataformas de vacinação do mundo, o PNI ou Programa Nacional de Imunizações”, lembra. “Foi graças ao PNI que, entre 1974 e 2014, o número de mortes de crianças menores de 5 anos de idade despencou 90%. Foi graças ao PNI que o país conseguiu eliminar doenças como poliomielite, Rubéola Congênita e tétano neonatal. Então, o que aconteceu foi uma grande desarticulação que enfraqueceu essa política de saúde tão importante”, acrescenta. “Nós, da categoria bancária, lutamos durante toda pandemia para garantir vacinas, e, se o governo passado não tivesse atrasado a aquisição dos imunizantes, muitas vidas teriam sido salvas”, completa Mauro Salles.

Outro ponto que também contribuiu para o enfraquecimento da imunização no país foi a disseminação de informações falsas pelas redes sociais, e a partir de quem estava sentado na cadeia da presidência da República. “Por diversas vezes, o então mandatário, Jair Bolsonaro, durante o enfrentamento da pandemia pelo coronavírus, menosprezou e colocou em dúvida a eficácia das vacinas. Essa comunicação, transmitida por alguém que era o presidente, também contribuiu para que o Brasil, até então com um histórico de sucesso nas políticas de imunização, passasse a liderar o número de mortes por covid-19. Tanto que, no início de 2022, quando finalmente o programa de vacinação contra esta doença já estava em andamento, 80% dos internados em UTI por covid-19 eram pessoas não imunizadas“, completou.

O ex-presidente, além de colocar em dúvida a eficácia das vacinas contra o coronavírus, incluiu no sigilo decretado de 100 anos a sua própria carteira de vacinação. Há cerca de dez dias, graças ao fim do sigilo, determinado pelo atual presidente Lula, o ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Vinícius de Carvalho, confirmou que o militar reformado recebeu dose da vacina Janssen no dia 19 de julho de 2021. Naquele mês, o Brasil chegou a registrar mais de 1.700 óbitos a cada 24 horas por covid-19.

Fique atento

O calendário de vacinação contra a covid-19 entra na segunda etapa, a partir do mês de março. Em fevereiro, o público-alvo que recebeu o reforço do imunizante bivalente foi formado por pessoas:

  • Com mais de 60 anos,
  • Gestantes e puérperas,
  • Pacientes imunocomprometidos,
  • Pessoas com deficiência,
  • Pessoas vivendo em instituições de longa permanência (ILP),
  • Povos indígenas, ribeirinhos e quilombolas,
  • Trabalhadores da saúde.

Na segunda etapa, que acontece a partir deste mês, o público-alvo será:

  • Toda a população com mais de 12 anos.

Na terceira etapa, prevista para ocorrer ainda em março:

  • Crianças e adolescentes de 6 meses a 17 anos.

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