O Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região realiza nesta segunda-feira (30), a partir das 18h30, ato em defesa do mandato do vereador de Curitiba (PR), Renato Freitas (PT), que enfrenta processo de cassação do mandato. Estarão presentes o próprio Renato e Carlos Pronzato, diretor do documentário “Renato, um de nós”, que será lançado na ocasião. O evento acontece no Auditório Amarelo, na sede do sindicato, à rua São Bento, 413, no centro da cidade.
Renato foi acusado de quebra de decoro parlamentar por participar, em 5 de fevereiro, de ato antirracista em protesto pelo assassinato do imigrante congolês Moïse Kagambe, covardemente espancado até a morte, em um quiosque de praia, no Rio de Janeiro em 24 de janeiro deste ano, quando foi cobrar o pagamento por trabalho que ali tinha prestado. O protesto ocorreu na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, construída por pessoas escravizadas no centro de Curitiba e historicamente destinada à comunidade negra.
Segundo o secretário de Combate ao Racismo da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Almir Aguiar, trata-se de um caso claro de perseguição política por racismo. Na verdade, como afirma Almir, “o que incomoda a maioria branca e racista do parlamento local é sua militância contra o racismo, o que incomoda aquela gente é o cabelo estilo afro e a postura afirmativa de Renato contra o preconceito”.
A própria Arquidiocese de Curitiba disse, em carta à Câmara, que ele “cometeu certos excessos”, mas não interrompeu missa, e por isso, pede “punição proporcional aos fatos”. A entidade diz que a “manifestação contra o racismo é legítima, fundamenta-se no Evangelho e sempre encontrará o respaldo da Igreja”. A arquidiocese também reconhece a militância de Renato. “Percebe-se no vereador o anseio por justiça em favor daqueles que historicamente sofrem discriminação em nosso país. A causa é nobre e merece respeito”, afirma a mensagem.
Racismo e processo viciado
Quando o processo estava no Conselho de Ética, onde foi aprovado por 5 votos a 2, Renato recebeu um e-mail com ameaças e agressões racistas. A mensagem tem sido atribuída ao relator do caso, vereador Sidnei Toaldo (Patriotas), que se justifica dizendo que sua conta de e-mail foi invadida. Renato, na ocasião, denunciou ao portal Ponte que a mensagem “estava me chamando de negrinho, dizendo que iria me caçar e me xingando de outras coisas mais”.
Desde o dia 19 de maio o processo se encontra suspenso pela Justiça. A liminar, da juíza Patrícia Bergonsi, da 5ª Vara da Fazenda Pública de Curitiba, impede o julgamento em plenário até o fim da sindicância sobre a autoria do e-mail. A mesa da Câmara tentou cassar a liminar, mas não obteve sucesso. A magistrada também aponta violação do processo por causa da parcialidade do Conselho, por seus membros terem declarado o voto em áudios.
Renato não tem ilusão de preservar seu mandato, diante do quadro que considera de perseguição política. “Sou realista em relação ao ambiente político que vivo, provinciano, coronelista e que carrega consigo as piores tradições políticas brasileiras. Mas confio no Poder Judiciário”, declarou ao portal Ponte. Em entrevista ao portal A Pública, o vereador disse que, em condições normais, a votação em plenário deveria ser “uma possibilidade de segunda discussão, mas não é o que ocorre. Inclusive, vazou que 13 vereadores, ligados ao prefeito, já assinaram o decreto de cassação. Precisa de 20 para formar maioria (entre 38 vereadores). Para mim o que resta é o recurso judicial”.
Veja no YouTube: Entrevista com o vereador Renato Freitas (PT) – Tição, Programa de Preto nº 154 – 26/05/22
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