Nesta quinta-feira (19), “um dos mais escandalosos casos de racismo anunciado poderá se concretizar”, como diz o secretário de Combate ao Racismo da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Almir Aguiar. A Câmara Municipal de Curitiba (PR) votará no plenário a cassação do vereador Renato Freitas (PT), advogado de 38 anos, negro e destacado militante contra o racismo.
Renato é acusado de quebra de decoro parlamentar por ter participado de um protesto, em fevereiro, na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, pelo fim da violência contra pessoas negras. No período em que o processo estava no Conselho de Ética da Casa, pelo qual foi aprovado por cinco votos contra dois, o parlamentar negro recebeu um e-mail com ameaças e agressões racistas. A mensagem tem sido atribuída ao relator do caso, o vereador Sidnei Toaldo (Patriotas), que se justifica dizendo que sua conta de e-mail foi invadida.
Renato, na ocasião, em reportagem do portal informativo Ponte, denunciou que a mensagem “estava me chamando de negrinho, dizendo que iria me caçar e me xingando de outras coisas mais. Embora eu ache que esse e-mail é esmola demais, no sentido de que eu acho que ele não cometeria um erro tão grave desses, embora eu acredite que ele pense assim, isso daria para a gente a oportunidade de mostrar a verdadeira face dessas pessoas. Eles teriam que suspender o processo de votação para que isso ocorresse”.
Insultos criminosos
A mensagem faz outros insultos criminosos ao vereador, com frases como “a Câmara de vereadores de Curitiba não é seu lugar, Renato. Volta para a senzala” e “vamos branquear Curitiba e a região Sul, queira você ou não. Seu negrinho”. Para Almir Aguiar, “a sociedade não pode aceitar a cassação do Renato, pois a única motivação para isso é a sua raça e sua origem na periferia”. O dirigente pontua que o que estão tentando cassar é sua postura afirmativa. “O que incomoda a maioria branca e racista do parlamento local é sua militância contra o racismo, o que incomoda essa gente é o seu cabelo estilo afro”, diz.
Renato Freitas não tem esperanças de preservar seu mandato diante do quadro, que considera de clara perseguição política. “Sou realista em relação ao ambiente político que vivo, provinciano, coronelista e que carrega consigo as piores tradições políticas brasileiras. E numa cidade ainda que se identifica como europeia e, portanto, o berço civilizacional do país. É um nível de arrogância, de prepotência, orgulho e corrupção profunda, principalmente na coisa pública deles. Mas confio no Poder Judiciário”, declarou ao portal Ponte, mostrando que não tem apego ao cargo, mas que manterá sua disposição para a militância contra o racismo.
Igreja é contra cassação
A própria Arquidiocese de Curitiba enviou uma carta à Câmara, solicitando que Renato não perca o mandato. A entidade religiosa diz que ele “cometeu certos excessos ao ocupar um local sagrado”, mas não interrompeu missa. Por isso, pede “punição proporcional aos fatos”. A carta diz ainda que a “manifestação contra o racismo é legítima, fundamenta-se no Evangelho e sempre encontrará o respaldo da Igreja”. A arquidiocese também reconhece a militância de Renato. “Percebe-se no vereador o anseio por justiça em favor daqueles que historicamente sofrem discriminação em nosso país. A causa é nobre e merece respeito”, afirma a mensagem.