Imaginem a seguinte situação: Agenor, responsável por administrar a tradicional Tratoria e Risttorante, decide submeter a empresa a uma reformulação, reduz o número de funcionários em algumas unidades, que passam a se chamar Lancherias. As Lancherias não possuem cozinheiros, por isso, os funcionários responsáveis pelo preparo da comida serão chapistas, com salários reduzidos. Seis meses depois, Agenor resolve re-reestruturar a empresa e torna as Lancherias em Cantinas, elevando os chapeiros a cozinheiros, mas mantém o mesmo salário do cargo anterior. Detalhe: durante todo esse processo o menu sempre foi o mesmo.
Essa história, em tom cômico, foi descrita por um funcionário do BB sobre a nova reestruturação anunciada pelo banco, nesta semana. A administração da empresa informou que irá transformar os postos de autoatendimento (PAAs) em “Lojas”, que voltarão a ter o status de agência.
Voltando um pouco no tempo, em janeiro deste ano, o BB anunciou um plano de reestruturação que vem resultando no fechamento de unidades e enxugamento do número de funcionárias e funcionários e sobrecarregando os que ficam. Nesse processo, algumas agências foram transformadas em PAAs, com gerentes de relacionamento subordinados a gerentes-gerais de agências maiores.
Os funcionários pagam a conta
Agora, nesta semana, o banco anunciou que os PAAs serão elevados ao status de “Lojas”, os gerentes de relacionamento serão “promovidos” a gerentes gerais, com mais responsabilidades e riscos inerentes ao cargo, entretanto, sem aumento salarial efetivo.
“Com toda essa manobra, que vem ocorrendo desde janeiro, o banco conseguiu fazer uma ampla redução salarial, aumentando a responsabilidade do funcionário, com a possibilidade de ele ser descomissionado por ato de gestão”, alertou o representante da Federação dos Bancários da CUT do Estado de São Paulo (Fetec-CUT/SP) na Comissão de Empresa dos Funcionários do BB (CEBB), Getúlio Maciel.
“O gerente de relacionamento que hoje fica nesses postos [de autoatendimento], vai ser promovido, entre aspas, para ter muito mais responsabilidade, assinar pelo banco, ter procuração pelo banco e não ter ponto eletrônico e ganhar 170 reais a mais. Sendo que, em alguns casos, os gerentes vão ganhar menos. Com a criação do Performa, de outra reestruturação que o banco rebaixou os salários, todas as comissões tiveram o valor reduzido, mas, em muitos casos, os gerentes mantiveram o mesmo valor através de uma complementação da verba. Agora, no momento em que eles forem, entre aspas, promovidos, vão perder a complementação dessa verba”, explicou a representante da Federação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro de Minas Gerais (Fetrafi/MG) na CEBB, Luciana Bagno.
Em resumo, em alguns casos, gerentes de relacionamento que forem promovidos para gerente geral acabarão com os salários mais baixos. “Vale destacar ainda que, durante todo esse processo de reestruturação, os gerentes de relacionamento das PAAs sempre tiveram as mesmas responsabilidades, mas só poderiam ser descomissionados se tivessem três avaliações negativas, uma a cada semestre, por desempenho. Agora, eles poderão ser descomissionados por ato de gestão”, observou Getúlio Maciel.
“A cada nova reestruturação os funcionários do BB se sentem mais desvalorizados. Sempre com aumento da carga de trabalho e das responsabilidades e redução do salário. As reestruturações vão se sobrepondo, somando anomalias e, inevitavelmente, aumentando o passivo trabalhista do banco”, ponderou Luciana Bagno.
Banco de mercado
“No lançamento do balanço do último semestre, o vice-presidente de Gestão Financeira e de Relações com Investidores, José Ricardo Fagonde Forni, disse que uma das finalidades futuras da reestruturação seria a redução de despesas, principalmente no que tange às despesas administrativas e de pessoal. Então, essas reestruturações visam diminuir salários para apresentar um balanço melhor à custa dos funcionários, numa ótica que privilegia os acionistas em detrimento da qualidade de atendimento e responsabilidade social”, destacou o coordenador da CEBB, João Fukunaga.
A CEBB procurou o banco para mais esclarecimentos sobre a nova reestruturação. “Estamos preocupados com o impacto dessas alterações, em tão pouco tempo e da forma como estão acontecendo, na vida dos funcionários. Se o banco quer fazer mudanças que correspondam às necessidades do mercado, precisa considerar que tanto o mercado como a empresa são formados por pessoas reais que não podem ser simplesmente movimentadas, como se fossem peças de um tabuleiro”, concluiu Fukunaga.