Em um momento de crise sanitária, social e política, o Ministro
da Economia, Paulo Guedes, afirmou que nos próximos 90 dias devem ser
anunciadas “três ou quatro” privatizações. A entrega das estatais brasileiras
para o setor privado é uma política que sempre guiou o governo Bolsonaro e seu
ministro da Economia. Para Luís Miguel, professor de ciência política da
Universidade de Brasília, essa medida em um momento de pandemia é uma
estratégia para passar despercebido pela sociedade e não gerar mobilizações
populares.
“Ele está anunciando agora que quer privatizar nos próximos 90 dias, 4 grandes
empresas públicas. mas não diz quais são elas. Ou seja, não permite que a
sociedade reflita sobre as implicações da transferência para as empresas
privadas para o patrimônio público, não permite que a sociedade se pronuncie,
não permite que o debate seja aprofundado. É por isso também, que ele vê a
pandemia de coronavírus como uma janela de oportunidades para fazer ainda mais
rápido o projeto de privatização”, explica o professor.
Mesmo não detalhando quais empresas serão privatizadas nos próximos meses,
Guedes sempre indicou as estatais que visa priorizar, como os Correios, a Caixa
Econômica Federal e a Eletrobrás. Para Fabiana Uehara, secretária de Cultura e
representante da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro
(Contraf-CUT) nas negociações com a Caixa, é muito importante a mobilização da
sociedade civil na defesa das instituições públicas.
“A privatização não nos interessa, não interessa a população. Por que quando
você privatiza, você tira o que é de todos e dá apenas para alguns e isso que é
a questão do serviço privado. Não é para todos, é para uma minoria que pode
pagar. Então quando a gente luta pelo fortalecimento das estatais, nós lutamos
para poder levar mais dignidade, melhor atendimento, melhores serviços para
toda a população. E nesta luta, estamos lutando pela Caixa 100% pública, por
que é uma empresa centenária, que leva dignidade, leva bancarização e atende a
toda a população”, afirma.
Com um ambiente democrático já bastante fragilizado, Luís Miguel considera que
o pacote de privatizações do governo expõe ainda mais a relação direta do
estado com o grande capital, desamparando o povo brasileiro.
“O que a gente vê cada vez mais é a degradação do debate democrático. Um debate
que deveria envolver a sociedade. Um debate que deveria colocar a sociedade
como participante da tomada de decisão e é essa degradação para satisfazer os
interesses do mercado”.