A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) parabeniza os bancários de Curitiba e região pelos 88 anos de seu sindicato. Somente com a participação da categoria é possível construir uma instituição forte e combativa como é o Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região.
O ex-presidente do sindicato, Elias Hennemman Jordão e o presidente da CUT/PR, Márcio Kieller, divulgaram um artigo com informações importantes sobre a história de luta e conquistas do sindicato. Os autores ressaltam a necessidade de organização e participação dos bancários para que a entidade possa resistir e a defender os interesses da categoria e de todos os trabalhadores.
Segue abaixo o artigo na íntegra.
A
ARTE DE ENVELHECER
SINDICATO DOS BANCÁRIOS E FINANCIÁRIOS DE CURITIBA E REGIÃO 88 ANOS
Por Elias Hennemman Jordão e Márcio Kieller
O Sindicato dos Bancários e Financiários de Curitiba e região completa seus 88 anos de existência em um momento impar da história mundial A pandemia de Covid-19, o Coronavírus a maior peste do século XXI que já infectou mais de quatro milhões de pessoas matou mais de 500 mil em todos os países do todo, no Brasil, no Paraná e nas cidades de Curitiba e região, o nosso sindicato dos bancários chega aos seus 88 anos de existência, lutas, batalhas e conquistas.
Desafios sempre foram e são parte da rotina de um sindicato que se propõem de fato a fazer à luta política, de representar as trabalhadoras e trabalhadores do ramo financeiro e não foram poucos nessas oito décadas, desafios das mais variadas ordens, políticos, econômicos, sociais e por último a grande crise sanitária.
Para a categoria bancária o dia 06 de julho de nascimento político da nossa entidade, claro que como todo o nascimento decorreu de um período de gestação, ou de organização das pessoas que compreendiam a importância política de se atuar coletivamente. A organização coletiva trás avanços de forma mais rápida e objetiva para todos do que a luta individual. Esses ensinamentos nos remontam as bases fundadoras do sindicalismo pós-revolução industrial. E os bancários de Curitiba e do Paraná caminharam nesse sentido e construíram os pilares para que o nosso sindicato fosse fundando há 88 anos. Poucos anos antes da imposição da ditadura varguista do Estado Novo.
Da fundação do sindicato para os dias atuais passamos por períodos importantíssimos e da historia mundial e da república brasileira, enfrentamos o fascismo e os fascista dos anos trinta, capitaneados pelo integralismo de Plinio Salgado. Vimos o desenrolar da Segunda Guerra Mundial, que vitimou milhões pelo mundo. Vimos a União Nacional dos Estudantes nascer e encantar a juventude estudantil. Vimos o Partido Comunista do Brasil – o PCB injustamente ser colocado na ilegalidade pelo argumento que a preposição “do” Brasil, o que o tornava um dos braços externo dos Comunistas soviético no Brasil, isso trouxe a semi-clandestinidade aos dirigentes sindicais ligados ou filiados ao partido comunista que sofreram muito para poderem se organizar após a cassação do registro do PCB em 1947.
Vimos o movimento do Petróleo é Nosso puxado pelos setores democráticos da sociedade e a ala desenvolvimentista que resultou na criação da Petrobrás em 1954. Vimos a UDN não se conformar em perder o poder político para os trabalhistas e arquitetar o golpe de 1964 já a partir de 1961 com o parlamentarismo que tornou Tancredo Neves uma espécie de primeiro ministro esvaziando o poder do presidente da República João Goulart, assim como vimos à volta por cima que o trabalhismo através do plebiscito sobre forma de governo que devolveu as prerrogativas presidências a Jango e acabou desembocando no Golpe Civil Militar de 1964 levando nosso país a uma cruel ditadura que perdurou por 21 anos.
Durante esse período os dirigentes bancários foram duramente perseguidos, houve intervenções políticas em muitos sindicatos, inclusive no nosso sindicato dos bancários, que já havia sofrido uma intervenção política nos anos 40, levando a uma atuação muito mais branda e fora dos propósitos da representação política e sócio-econômica que é o papel de origem das organizações sindicais. Muito se transformaram em associações englobando em suas atividades ações assistencialistas e esportivas. Que num contexto histórico de continuidade de existência e de alternativas de organização, continuaram sendo muito importantes para que as entidades pudessem se reestruturar e voltar a ter uma atuação política. Ação que começamos a ver novamente com a retomada do movimento sindical organizado a partir do ABC paulista que desembocaram nas grandes greves de trabalhadores no final dos anos 70, mesmo sob égide do período mais sangrento e cruel da ditadura militar que se constituiu a partir do AI-5 que entrou em vigor em dezembro de 1968. Na toada dos ventos internacionais acompanhamos o desenrolar das guerras do Camboja e Vietnã e a guerrilha do Araguaia aqui no Brasil.
Em 1970 o Brasil conquistava o tricampeonato mundial de Futebol. O início dos anos 70 foi duro e os ventos de reconstrução da liberdade que começaram a mudar aqui no Brasil no berço da Social democracia terreno das grandes empresas multinacionais instaladas no ACBD paulista, local que nos anos finais da década 70 daria palco as grandes greves de metalúrgicos e também ao aparecimento do maior líder popular do Brasil Luís Inácio da Lula da Silva, um dos responsáveis pela formação do maior partido de trabalhadores do America Latina o PT e a também da Central Única dos Trabalhadores, a CUT em 1983 dando outro ruma à organização e uma nova cara ao sindicalismo corporativo das décadas passadas que haviam sido massacrados pela ditadura civil e militar que tomou conta do Brasil.
Os sindicatos e os dirigentes sindicais acompanharam e participaram ativamente dessa guinada na história política brasileira que rumava no sentido da abertura política e democrática com a exigência de eleições gerais e livres para todos os cargos inclusive para a presidência, através da histórica campanha das Diretas Já! Movimento que empolgou o país, mas bateu na trave por que o Congresso sobre forte influência da antiga linhagem política atrasou as eleições diretas por mais quatro anos. Mas dessas manifestações sugiram as condições objetivas para a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte em 1986, que sob o comando do deputado Ulysses Guimarães entregou uma nova carta magna ao Brasil, a Constituição Cidadã de 1988. Que até os dias de hoje ainda carece de regulamentação de diversos artigos a começar por um que a categoria bancária historicamente cobra que é a regulamentação do artigo 192 da Constituição Federal que versa sobre o Sistema Financeiro. Entre outras questões que a nova constituição trazia estava a proposta de realizar em 1993 um plebiscito sobre forma de governo que o Brasil deveria adotar presidencialismo ou parlamentarismo.
Nesse contexto o Sindicato dos bancários buscava sua democracia interna pedindo eleições para acabar com as intervenções que sofrerá durante a ditadura militar. Ao passo que acontecia a democracia que elege em 1988 o como presidente em disputa apertada com Lula, Collor de Mello que enrolado num mar de corrupção, sofreu impeachment numa linda campanha conduzida pelos partidos democráticos e populares e pelas entidades estudantis UNE e UBES. Assumindo o seu vice Itamar Franco, que inaugura o Plano Real tendo como seu ministro da economia aquele que viria a ser seu sucessor o presidente sociólogo Fernando Henrique Cardoso, que governou o país por duas gestões desastrosas entre 1994 a 2002 nos quesito sociais e econômico que estava voltado a dar mais atenção aos banqueiros e grande empresários da comunicação do que ao povo.
Em 1993 a chapa que tinha apoio da CUT e seus sindicatos ganha as eleições e começa um novo ciclo histórico no sindicato que passa a ter uma política de sindicato cidadão, compreendendo as bancárias e bancários como seres humanos geograficamente presentes e atuantes em uma comunidade. E sobre essa nova orientação filosófica e política o Sindicato acompanha o desenrolar das muitas das passagens históricas que descrevemos aqui após o fim do período ditatorial no Brasil, inclusive durante os governos democráticos e populares o Sindicato tem uma atuação muito forte, pois em todos os anos sem exceção foram construídas campanhas salariais e minutas de reivindicações de nossas convenções que só foram conquistadas através de greves da categoria bancária. Vimos nesse período à crise econômica mundial de 2008, enfrentamos muitas campanhas eleitorais sempre com a perspectiva do sindicato cidadão, fornecendo nossos melhores dirigentes sindicais, homens e mulheres para concorrem e representar os bancários e as trabalhadoras e trabalhadores em geral.
Depois de a ofensiva neoliberal privatista ter dado errado nas eleições em 2014, com a reeleição da Presidenta Dilma que democraticamente governava o país até meados de 2016 quando se arquiteta contra ela um golpe totalmente sem fundamento, mas como se disse na época por um político hoje no ostracismo, tem que junto tudo, como supremo, como tudo, para tirar o PT do poder. Como resultado desse golpe entra o ilegítimo e parceiro do golpe Michel Temer que vice-presidente na chapa de Dilma Rousseff e leva o país ao caos com o enfraquecimento das políticas e programas sociais que eram bem valorizados nos governos democráticos e populares.
O governo ilegítimo de Temer começa a implementar a lógica de estado mínimo e aprofundar a retirada de direito, acabando com avanços importantes da CLT de 1943 e aprovando a reforma Trabalhista e deixando caminho armado para a reforma da previdência que acabou com a perspectiva da maioria do povo, homens e mulheres de terem o sagrado direito a uma aposentadoria digna. Enquanto que no cenário da política dava se margem para a criação de uma extrema direita de viés fascista. Que com as armações e golpes levaram ao poder em 2018 uma concepção política baseada nas mentiras e fakenews aliada a medidas de perseguição política a esquerda brasileira, como descrevemos do caso do impeachment da presidenta Dilma, prisão injusta e sem provas do ex-presidente Lula. A esquerda denunciou porem sem ter a atenção dos grandes veículos de comunicação, travava uma luta inglória contra as artimanhas de uma operação que ao invés de passar o Brasil a limpo, quebrou a indústria nacional e entregou uma gama muito grande de nossas riquezas minerais e naturais ao capital estrangeiro.
O movimento sindical em geral e o movimento sindical bancário sempre teve a clareza que estávamos vivendo sob um golpe arquitetado depois de 2016 e que as perseguições eram injustas e incabidas. E assim foi a luta política sindical de lá para cá em tempos de Bolsonaro, um governo de poucos e totalmente impopular para as trabalhadoras e trabalhadores, que teve um ano muito ruim nas mais diversas áreas, com a formação e a atuação de um quadro de ministros risíveis, cômicos e, em muitos aspectos trágicos como a nomeação de Weintraub para o ministério da Educação dentre outras e outros ministros. Inclusive com o juíz que conduziu a operação Vaza Jato, abrindo mão de ser juiz para virar ministro por poucos meses, pois entregou em rota de colisão com o presidente inábil e sem condições política de governar que é Bolsonaro. Haja vista o índice de aprovação que tinha e tem piorado consideravelmente a frente do maior problema de saúde que o mundo e o Brasil enfrentam.
Em meio a uma turbulência e efervescência política, econômica e de crise sanitária que em meados de março deste ano que o Sindicato dos Bancários e Financiários de Curitiba e Região, o quinto maior sindicato da categoria no país novamente se destaca por sua atuação junto ao comando nacional dos bancários representando sua base com firmeza e determinação cobrando dos banqueiros medidas protetivas, primeiramente da vida e de todos os seus direitos como: emprego, salário, auxílios e condições de trabalho. Mais uma vez ficou evidenciada a diferença que faz uma categoria representada por sindicatos fortes que enquanto as maiorias das categorias estavam e estão à mercê de governos sustentados pelo capital e preocupados em atender interesses dos patrões, editando MP`s de interesses dos empresários, deixando os trabalhadores expostos na berlinda e em condições precárias com retiradas de direitos ou até mesmo sem emprego no momento que mais precisam; enquanto isso com a importância do nosso sindicato na negociação nacional conseguimos já na primeira semana de decretada a pandemia mundial colocar em tele trabalho metade da nossa categoria em nível nacional com todos os seus direitos garantidos dentre eles o direito mais precioso da saúde e da vida, além da redução drástica e limitada presencial e com toda proteção necessária.
O nosso sindicato não ficou somente na negociação, além de cobrar semanalmente dos bancos protocolos de cuidados cobrou também do estado, do município e do poder público medidas que colocou em segurança a vida dos trabalhadores bancários e dos clientes, monitorando e fiscalizando diariamente o cumprimento do negociado, dos decretos e das decisões do poder público. Por mais imperceptível que seja para o trabalhador, temos convicção que a nossa intervenção tem feito toda a diferença na vida dos bancários e de suas famílias e a maioria da categoria percebe isso e aposta e confia no sindicato como a sua esperança de condições de trabalho no seu dia a dia.
O movimento sindical e o sindicato no seu papel social e cidadão também não esqueceu os demais trabalhadores, tanto que entendeu a necessidade dos bancos públicos atenderem a parcela necessitada da sociedade de receber o auxilio emergencial e também os programas sociais, sempre cobrando segurança, condições de trabalho e de proteção à saúde e à vida.
Nada disso acontece ou se conquista por acaso; se por um lado a jovialidade traz pujança e vitalidade nas ações, é a vivencia de décadas de conjunturas adversas que traz a experiência e é a experiência que nos conduz a caminhos sólidos e seguros, e experiência é o que não falta ao nosso sindicato que sabe que para defender os interesses da nossa categoria não se pode andar sozinho e por isso andamos em unidade nacional com a nossa Central Única dos Trabalhadores a CUT, com a nossa Federação a FETEC e com a nossa Confederação a CONTRAF e por isso somos fortes com capacidade de resistir às adversidades.
É neste contexto depois de ter passado por diversas conjunturas acima citadas; criação da CLT, ditadura militar, intervenções nos sindicatos, diversos governos, diversas reformas, desafios diários que o sindicato dos bancários e financiários de Curitiba e região com uma nova direção recém eleita e compromissada com a classe trabalhadora completa seus 88 anos já mirando a proximidade dos seus 90 anos com a mesma determinação desde a sua fundação e de todas as suas décadas de existência histórica determinado a resistir e a defender os interesses da nossa categoria e de todos os trabalhadores.
Vida longa ao Sindicato dos Bancários e Financiários de Curitiba e Região.
ELIAS HENNEMANN JORDÃO
Diretor da CONTRAF/CUT – Brasil e Ex-Presidente do Sindicato dos Bancários e Financiários de Curitiba e Região nas gestões 2014/2017 e 2017/2020
MARCIO KIELLER
Presidente da CUT/PR e Mestre em Sociologia Política pela UFPR