Bancários do Paraná mandam recado em Conferência Estadual: resistir pelos bancos públicos

Cerca de 300 bancários e bancárias se reuniram em Londrina com o objetivo de fortalecer a organização sindical para enfrentar retrocessos no país

A 21ª Conferência Estadual da categoria bancária, realizada em Londrina nos dias 20 e 21 de julho, destacou a importância dos bancos públicos para a população e o país durante o último painel sobre bancos públicos, que encerrou os debates. Cerca de 300 trabalhadores bancários dão o seu recado: intensificar a luta para que se reverta o processo de privatização do BB e da Caixa, com forte resistência em relação à defesa dos bancos públicos.

Segundo o bancário paranaense Roberto Von Der Osten, Betão, secretário de Relações Internacionais da Contraf-CUT, que realizou uma exposição, a ideologia vigente no país é do individualismo, consumismo e desqualificação política, com as quais querem fazer parecer que a esquerda representa o passado, não mais o futuro da humanidade e onde a direita vem colocando o mercado contra o Estado. Propagam que o capitalismo livre é eficaz e querem atribuir ao socialismo a antidemocracia e a corrupção. . 

Por isso, a luta em defesa dos bancos públicos contra a privatização é uma das prioridades do movimento sindical bancário desde o rompimento marcado pelo golpe que culminou no impeachment da presidenta Dilma, em 2016.

Ultraliberalismo

De acordo com Roberto, o golpe marcou também o retorno do ultraliberalismo no país, com um novo regime iniciado por Temer, que implementou um plano de governo de direita, com retomada histórica dos ciclos mundiais do liberalismo e seus impactos aqui no Brasil, com destaque para as consequências das privatizações dos bancos públicos nos anos FHC, que condicionou a transferência de recursos federais aos estados à venda de empresas energéticas, de telefonia e dos bancos estaduais, com a criação do Conselho Nacional de Desestatização (esse conselho foi retomado por Temer). 

A partir da implantação do Plano Real, em 1994, dos 24 bancos públicos estaduais, sobraram atualmente apenas sete. Os bancos públicos federais Caixa e Banco do Brasil estão, portanto, ameaçados.

Para Roberto, a globalização do capitalismo veio nos anos 1970, os Estados passam a defender bancos e empresas em detrimento das pessoas. O que marca o retorno neoliberal no mundo como no Chile, com a ditadura Pinochet, com Margaret Tatcher na Grã-Bretanha e Ronald Reagan nos EUA. O modelo capitalista implantado é a partir da teoria de Milton Friedmann, estudada pelos ‘Chicago Boys’, os estudantes de economia da Escola de Chicago a partir da década de 1950. 

Betão lembrou que Paulo Guedes, ministro da economia de Bolsonaro, Roberto Castello Branco, que está na Petrobrás, e Rubem Novaes, no Banco do Brasil, são os ‘Chicago Boys’ do Brasil e estão no governo implantando o modelo ultraliberal de capitalismo, que é privatista.

Mas, segundo o secretário, o ciclo do neoliberalismo se rompeu com as eleições de Lula e Dilma, pelo Partido dos Trabalhadores, que promoveram programas sociais de inclusão e um pacote estatal de desenvolvimento, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Contudo, é consenso que o Brasil nunca teve um projeto de bem-estar social. Para ele, a saída é pela esquerda, pela democracia, com nova unidade das forças progressistas, nas ruas e na política.  

Segundo Jair Pedro Ferreira, presidente da Fenae, o retrocesso volta à tona, com um Plano de Desligamento Voluntário em vigência, em 2019, a Caixa deve encerrar o ano com 20 mil empregados a menos. Uma redução que representa o fechamento de “três Banestados”.  

Sobre a importância dos bancos públicos, Jair apresentou dados importantes, somente no Paraná, 82% dos empréstimos são concedidos pelo BB e Caixa, que é responsável por 90% do financiamento habitacional. Para a “faixa 1”, de baixa renda, esse índice sobe para 95%. No Paraná, 1,5 milhão de pessoas depende do Bolsa Família. O Banco do Brasil é responsável por 90% dos financiamentos rurais.

E outros dados alarmantes: Algumas mudanças já ocorrem no papel da Caixa, ainda um banco público: foram retiradas do banco as operações com grandes empresas, com cartões, seguros e gestão de fundos.

Frente Parlamentar em defesa dos bancos públicos

Ferreira também lembrou que o movimento sindical bancário se organiza em frentes, uma delas é mista parlamentar, para defender os bancos públicos. Outra iniciativa recente é o projeto “Reconta aí” (@recontaai nas redes sociais), com explicações sobre o papel dos bancos e a importância dos públicos para a população e o país. 

Uma importante pauta conjunta em destaque no painel de defesa dos bancos públicos é a luta pela manutenção das universidades públicas federais, da educação pública. Ferreira destacou que a educação é um dos principais elementos da diminuição das desigualdades. “Que tipo de sociedade que eu quero? Quando as pessoas têm emprego e renda ninguém lembra. Essa progressão (da qualidade de vida das pessoas) se rompeu com o golpe”, define.

Organização sindical 

Com aumento real garantido, a conferência destacou a importância de fortalecer a organização sindical para enfrentar retrocessos no país. As conferências regionais e estaduais são preparatórias para encontro nacional da categoria em ano que a pauta de reivindicações não é reajuste salaria. Pois, a diferença é que, em 2019, está em vigência uma Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) que garante direitos por dois anos e reajuste que contempla reposição da inflação mais 1% de aumento real, em todas as verbas salariais, a partir de setembro. Mas, o calendário de lutas foi mantido e fortalecido por debates conjunturais aprofundados para enfrentar o momento político e econômico desfavorável aos trabalhadores e aos movimentos progressistas. 

De acordo com Junior Cesar Dias, presidente da Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito do Paraná (FETEC-CUT-PR), entidade responsável pela realização da Conferência Estadual, mesmo não tendo negociação efetiva com banqueiros em 2019, há também o envolvimento com questões gerais. “Por isso, as conferências foram mantidas para nos inserir nesses debates, o ataque é geral contra todos os trabalhadores”, disse. “Nós fizemos avaliação de nossos problemas específicos, mas também do cenário político e econômico do país. Para nós, nossa categoria tem uma atuação bastante efetiva, tem se destacado na defesa dos direitos dos trabalhadores como um todo e também tem se envolvido nas pautas da sociedade”.   

Outros temas 

Os cerca de 300 participantes, entre delegados e ouvintes, puderam participar de painéis com abordagens de assuntos pertinentes para a categoria, entre eles: Análise: novos bancários entram para trabalhar em banco sem nunca ter precisado de uma agência bancária; saúde e condições de trabalho apresenta ações sindicais para combate de metas e Reforma da Previdência desafia capacidade de articulação entre movimentos sociais e sindicais com minoria combativa de deputados na Câmara. Durante os intensos debates realizados durantes os temas, a categoria definiu propostas dos trabalhadores do estado e delegação para a Conferência Nacional.

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