A primeira mesa do Seminário sobre metas abusivas e adoecimento no trabalho abordou as metas abusivas e riscos psicossociais e os impactos à saúde dos bancários.
Elisa Ferreira, psicóloga, especialista em psicologia clínica, perita assistente na justiça do trabalho, consultora e assessora em saúde do trabalhador, explicou os quadros de sintomas de bancários que podem indicar o início do adoecimento. “A sociedade está acostumada a perguntar se está com problemas em casa, com os filhos, com o casamento, na vida pessoal de forma geral, quando na verdade, o problema está no local de trabalho. Precisamos ficar atentos.”
Elisa, que é membro da comissão intersetorial em saúde do trabalhador e da Comissão de saúde mental do conselho municipal de saúde de Florianópolis, além de Pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Educação e Saúde (CNPq), diz que o maior problema é a vergonha dos trabalhadores em assumir um problema. “Menos de 20% dos bancários, com este tipo de problema, apresentam os atestados ou buscam seus direitos para os tratamentos. Eles têm medo de apresentar a documentação e ficarem com um X nas costas. Temos que coibir este tipo de mentalidade nos bancos.”
Metas abusivas
A segunda mesa da manhã tratou de metas abusivas, seus limites legais e a estratégia jurídica de enfrentamento. Jane Salvador Gizzi, advogada trabalhista; mestre em Direito Econômico e Social PUC/PR; professora licenciada do Centro Universitário Unibrasil e membro do Instituto Declatra, explicou os efeitos deste tipo de gestão na vida do trabalhador. “Às vezes o trabalhador atingiu a meta, mas a que custo? A cobrança abusiva leva à precarização da existência, quando o trabalhador faz as coisas sem perceber, trabalha resistindo, trabalha adoecido, até não aguentar mais.”
Há também a forma de trabalho como mercadoria, apontou ela. “A falta de identidade do trabalhador, ele trabalha como se o negócio fosse dele. Ele tem na cabeça que precisa se pagar. Ele acaba sendo o responsável pelo lucro para pagar por ele mesmo.”
Outro modelo de repercussão e o modelo de vida “Just In time”, tudo para agora. “As metas não são mais semestrais, são do dia, da semana. É tudo para ontem, o que aumenta muito a cobrança. Isso vem junto com o abuso do direito mediante das técnicas e políticas de gestão: metas abusivas, controle do tempo, do ritmo e da produtividade”, explicou a advogada.
Para Elisa, o melhor tipo de enfrentamento é o trabalho e a união junto ao movimento sindical. “Sem a união dos trabalhadores, todos vão sofrer sozinhos, cada um em seu local de trabalho”, finalizou.
Antônio Vicente Martins, assessor jurídico do Sindicato dos Bancários Porto Alegre, completou a apresentação da colega. Ele mostrou alguns inquéritos que envolvem programas de metas pelos altos índices de adoecimento. “Os bancos têm uma violação sistemática das métricas de saúde, o que acaba gerando o adoecimento de toda a categoria. Os bancos também não só dificultam o processo de entrega dos atestados, como impõem uma política punitiva aos trabalhadores afastados”, disse. “Por isso, ele não tem interesse em ter um controle de adoecimento de seus quadros de funcionários, pois ficariam claro que as políticas de gestão são as culpadas”, completou.