O ex-juiz e atual ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, prestou depoimento na terça-feira (2) a três comissões da Câmara: de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ); de Trabalho, Administração e Serviço Público; e de Direitos Humanos e Minorias, sobre as revelações do site The Intercept Brasil e sua condução dos processos da Operação Lava Jato. Infelizmente, o ministro se esquivou de todas as perguntas feitas pela oposição e se concentrou em atacar o The Intercept, site responsável pelas divulgações.
Assim como já havia feito no Senado, Moro afirmou não reconhecer a autenticidade dos diálogos, mas admitiu que “algumas” (mensagens) podem ser dele, “algumas podem ter sido adulteradas total ou parcialmente”. As mensagens foram divulgadas “com sensacionalismo”.
Imparcialidade de Moro em xeque
No depoimento, o ministro foi questionado sobre vários aspectos que, segundo os deputados, comprometem sua conduta como “juiz imparcial” na condução de processos da operação Lava Jato, incluindo o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Diversos parlamentares questionaram o ex-juiz a respeito do que ele poderia apontar como realmente falso nas revelações do site The Intercept Brasil.
“Existe algum dos diálogos que vossa excelência negue? Algo como ‘esta frase eu não falei?’”, questionou Alessandro Molon (PSB-RJ). “Não parece que, ao aconselhar a substituição (da procuradora Laura Tessler), sai do papel de juiz e passa para o lado da acusação?” Segundo Molon, com essa atitude Moro “perde a imparcialidade e coloca em risco o papel do juiz num processo penal”. “Vossa excelência não gostaria de ser julgado por um juiz que tenha um lado.”
“Jamais aconselhei o Ministério Público a fazer qualquer coisa”, respondeu o ministro. Pela terceira vez, afirmou que juristas não “vislumbraram qualquer ilicitude” nas mensagens divulgadas e mencionou nominalmente o ex-presidente do STF Carlos Veloso.
Durante todo o depoimento, Moro insistiu que as mensagens são fruto de hackeamento e obtidas “por meios criminosos”. Repetiu também várias vezes que, mesmo tendo dito frases reproduzidas nas reportagens, elas podem “ter sido adulteradas, inseridas palavras”.
Por exemplo, no caso da frase “In Fux we trust”. Em resposta a mensagem de Dallagnol segundo a qual a força-tarefa poderia contar com o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), Moro teria respondido: “In Fux we trust” (“em Fux nós confiamos”, em tradução livre). “Posso ter dito, não lembro”, disse Moro. “Se existiu, foi uma paródia de uma inscrição do dólar norte-americano”, explicou.
PF investiga Glenn e ‘Intercept’?
Conhecido pela defesa da Operação Lava Jato e por atacar políticos da esquerda brasileira, o site O Antagonista publicou nesta terça-feira (2) a informação de que a Polícia Federal pediu ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) um relatório das atividades financeiras de Glenn Greenwald, editor do The Intercept. Segundo o site, o objetivo seria verificar alguma movimentação atípica relacionada à “invasão” dos celulares de integrantes da Lava Jato. “Trata-se de uma ação de inteligência. O advogado americano só será investigado se houver algum indício de que tenha encomendado o serviço criminoso”, finaliza o texto.
O ministro Sergio Moro não negou. A Polícia Federal, sob comando de Moro, teria pedido ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) um relatório de atividades financeiras do profissional de imprensa. A Justificativa seria entender que Glenn Greenwald estaria sendo investigado dentro do contexto de ações de hackers, que teriam obtido o material das reportagens.
O ato foi encarado como um atentado contra a liberdade de imprensa. “Eles não estão nem mesmo escondendo seu abuso de poder para retaliar jornalistas”, disse Glenn.