O debate sobre as mudanças estruturais no mercado de trabalho bancário e os desafios dos sindicatos no novo contexto mundial abriu os trabalhos do Seminário de Organização Sindical, que acontece até quinta-feira (25), na Sede da Contraf-CUT.
O secretário geral da Contraf-CUT, Gustavo Tabatinga, explicou que “o intuito deste seminário é preparar os dirigentes e os trabalhadores para enfrentar esses anos difíceis que estão só começando. Novas formas de trabalho e nova forma de organização de cadeia produtivo não exigir a reinvenção do modelo de representação dos trabalhadores e um novo método de atuação sindical.”
O professor Moisés Marques, da Faculdade 28 de agosto, apontou os principais desafios dos sindicatos com a nova conjuntura no Brasil e ideias de soluções para os problemas que a atual conjuntura impõe.
Marques observou que há bastante tempo se fala da indústria 4.0, de como ela afeta o trabalho como um todo e particularmente o trabalho bancário. “No Fórum Social Mundial, um painel mostrou que 56% das crianças de hoje vão trabalhar, quando crescer em algum emprego que não existe hoje. A automação e a inteligência artificial vai eliminar boa parte dos empregos atuais”, observou o professor.
Para Marques, no futuro haverá ainda menos emprego do que existe hoje e também haverá mudanças na forma como as pessoas vão se credenciar para conseguir continuar trabalhando. “A tecnologia aproxima mais as pessoas, cria mercados, facilita uma série de processos e operações e diminui custos. Vemos isso nas empresas de hospedagem e hotelaria que não tem hotel, pois eles geram custos, companhias de táxis, que não possuem veículos. Criaram uma modalidade empresas que vende um produto sem ter esse produto. No setor bancário muitos trabalhadores atuam em homeoffice, usando seus próprios equipamentos”, disse.
Ao contrário de algumas pessoas, que estão chamando de “uberização” essa nova característica de trabalho. Marques prefere denominar como “wazerização”. “Os bancos, por exemplo, estão levando os clientes para um lugar, mas sem um caminho testado. Provavelmente vão levá-los a passar no meio de um tiroteio”, afirmou o professor, lembrando que pessoas já foram alvejadas com tiros no Rio de Janeiro ao seguir por um trajeto indicado pelo Waze, e que o mesmo aplicativo criou um nó no transito de São Paulo após um erro em seu sistema operacional.
“Temos que explorar as falhas nas tecnologias. Pois as empresas que as utilizam falam das vantagens, mas existe um outro lado que nem sempre é divulgado. Também não podemos deixar de observar e mostrar que os bancos reduziram seus custos com o uso da tecnologia, mas os clientes pagam cada vez mais caro pelos serviços que na maioria das vezes eles mesmos têm que executar”, completou.
No encerramento, o professor afirmou que “não tem como brigar contra a tecnologia. O que a gente pode fazer é prever o que vai acontecer e buscar alternativas para isso.”
Fausto Augusto Junior, coordenador do Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Socioeconômicas (Dieese), disse que não gosta de colocar a tecnologia no centro das mudanças. Ele acha que leva a gente olhar o mundo de maneira invertida, até porque a tecnologia sempre existiu, desde a criação do fogo, passando pela revolução industrial até o dia de hoje.
Para ele a análise é outra. “Não é um momento simples que estamos vivendo. É um momento de muitas agruras, após o desmonte do processo de construção de um projeto de mundo que a América Latina vinha construído. Vivemos a maior crise desde a depressão de 1929.”
Por isso, ele acredita que o primeiro passo é lembrar como as outras crises foram superadas. “Com guerras e as ascensão de uma nova potência política e econômica, como os Estados Unidos.”
Para Augusto Junior a pergunta que fica é como vamos superar esta crise, que já ultrapassou dez anos? “Como a esquerda e a direita não conseguem dar respostas, começa a surgir o que surgiu lá trás, que é a extrema direita. Hoje vemos a crise da esquerda no mundo.”
Ele aponta um erro atual que é os pensadores de esquerda fazerem uma análise em pelo século 21, com conceitos no início do século 20, principalmente quanto ao neoliberalismo.
Para onde vão os direitos que a classe trabalhadora conquistou? Eles vão para o mercado
Fausto Augusto Junior, coordenador do Dieese
Outra questão em jogo, segundo o coordenador do Dieese, é para onde vão os direitos que a classe trabalhadora conquistou? “Eles vão para o mercado. Por isso, o trabalhador precisa olhar o sindicato como uma entidade que ele reconhece. Que efetivamente o defende perante a exploração e opressão. Porém, se toda essa estrutura do sindicalismo que foi construída desde a década da 1950 continuará a existir e se nós continuaremos relevante, eu não sei. Esta é a pergunta que temos de fazer.”
De acordo com ele, “o problema não é o governo Bolsonaro, este acelera o processo, mas o sindicato precisa mudar. Como vamos ser relevantes neste mundo que se transforma? Para isso, nós temos que entender o mundo. Mas, com certeza não é o sindicato que a gente construiu lá trás.”
Fausto Augusto Junior finalizou sua palestra ao dizer que, neste momento de crise dos movimentos sociais, a hora é de construir um projeto de pós ultra neoliberalismo. “Eu acredito que seja possível e necessário. O mais importante é como é vamos manter a relevância sindical social e a partir daí transformar o modelo sindical.”
O Seminário da Direção Nacional continua nesta quarta-feira com o painel Pluralidade e Financiamento Sindical – experiências internacionais.
Na quinta-feira serão realizadas dias palestras “Desafios frente à nova conjuntura e a construção do Macrossetor Serviços-CUT e “Oficina Ferramentas para a Comunicação”.