Diante do pior momento da história, o ministro da Economia,
Paulo Guedes causa espanto aos órgãos de imprensa internacional ao afirmar que
promete vender todo o patrimônio brasileiro. A declaração, feita na noite desta
quarta-feira (10), durante uma intensa agenda com banqueiros e agentes do
sistema financeiro internacional nos Estados Unidos, foram publicadas pelo
Defend Democracy in Brazil, que ficou perplexo diante de um discurso que vai
contra a soberania nacional.
Segundo Guedes, a meta de privatização será “facilmente” superada em 30% a 40%.
“Discretamente, sem fazer barulho, já vendemos US$ 12 bilhões”, disse durante
evento organizado pela XP Investimentos. Ele garantiu que na surdina, o governo
já está implementando a venda dos bens nacionais. “Nossa meta é vender US$ 20
bilhões este ano”, afirmou. O ministro também deixou claro que se depender do
atual governo, o Brasil em breve não terá mais uma empresa estatal de petróleo.
“As declarações de Paulo Guedes mostram o perigo que este governo representa
para o país. Se em 100 dias já vendeu US$ 12 bilhões do patrimônio nacional, ao
final de quatro anos o Brasil não será mais dos brasileiros”, observou a
presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT),
Juvandia Moreira.
“Eles estão promovendo um verdadeiro desmonte dos bancos e demais empresas
públicas e, pior ainda, acabando com todas as políticas sociais voltadas à
população pobre de nosso país. Tudo isso para ter mais dinheiro para pagar
juros aos bancos e grandes especuladores. O Estado Mínimo que eles querem
implantar é isso. Mínimo para a população pobre, mas máximo para a elite
econômica”, completou Juvandia.
Petrobras à venda
Nas palavras de Guedes, “a Petrobras tem que focar no seu principal negócio. Explorar petróleo, é isso que vai fazer. O resto vende. Assim se concentra no que tem que fazer, se torna mais eficiente, concentrada, fácil de vender”.
Segundo o professor do Instituto de Economia da Unicamp, Pedro Linhares Rossi, privatizar tudo é uma insanidade ideológica. “A ideia de vender tudo é criminosa. Choca até a diplomacia internacional”, disse.
Para o professor, a ideia de fatiar a Petrobras e vendê-la, deixando-a só com poço de petróleo, por exemplo, desmonta todo o instrumento que o Estado tem de gerar avanço tecnológico, com uma política industrial de emprego, de controle da cadeia produtiva, de gerar crescimento. “E esse processo já vem acontecendo. No fundo é despir a capacidade do Brasil de controlar o próprio destino, que é soberano. Acabar com a capacidade do Brasil poder atuar de forma a decidir sobre o próprio desenvolvimento de forma democrática”, afirmou Rossi.
Brasil à venda
O ministro da Economia do atual governo não se importou nem
um pouco em afirmar: “Já vendemos 12 aeroportos, concessões, estamos
vendendo tudo!”. Ainda assim, disse à plateia de potenciais compradores do
patrimônio brasileiro que tudo vai bem no país.
De acordo com o professor de economia, um ministro de Estado que diz uma coisa
destas só pode estar ruim da cabeça. “A privatização de um bem público, ou
serviço público estratégico precisa de um amplo debate nacional. Uma coisa é
terceirizar uma esteira rolante de um aeroporto, por exemplo, outra coisa é o
Estado brasileiro privatizar uma estatal de cunho estratégico para o país”,
explicou Pedro.
A contragosto
Confirmando sua agenda antinacional, Guedes, reforçou a
intenção de aumentar a venda de empreendimentos, caso a liquidação da
Previdência não seja aprovada pelo Congresso Nacional.
O ministro disse ainda que se trata de “ignorância” e “egoísmo” a resistência à
sua proposta de reforma da Previdência. Pois, segundo ele, será preciso R$ 1
trilhão para fazer a transição para um sistema privado, aos moldes do que foi
feito no Chile, que hoje paga menos de um salário mínimo para 80% dos
aposentados.
Segundo Rossi, tem tanta ocorrência de afirmações absurdas neste governo, que é
difícil avaliar o que é pior. “Há uma certa proteção na imagem do ministro
Paulo Guedes, achando que é aquele que carrega uma agenda pró-mercado. Mas, ele
é tão insano quanto os outros ministros. O radicalismo dele é de uma violência
enorme, sem nenhum embasamento histórico, econômico e técnico”, comentou.
Guedes garantiu que a reforma da previdência será aprovada porque os políticos
estão encurralados, pressionados pela opinião pública.
Uma pesquisa CUT/Vox Populi, divulgada enquanto o Ministro discursava em Nova
York, contradiz o ministro. A pesquisa revela que 65% rejeitam a proposta de
reforma apresentada pelo governo. Em outra pesquisa, realizada pelo Datafolha, a
porcentagem de brasileiros contrários à reforma da Previdência do governo Bolsonaro
é de 51%.
Agenda com banqueiros
Nesta quinta-feira (11), Guedes se reúne com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Steve Mnuchin, com o ministro de finanças da China, Liu Kin, e com representantes do setor de investimentos do banco JP Morgan. O ministro ainda cumpre agenda com presidentes dos Bancos Centrais dos BRICs e do G20, além de uma reunião privada com ministros de finanças sobre a Venezuela.