(Curitiba) A segurança bancária no Brasil é insuficiente, mal organizada e está aquém dos padrões internacionais. Tanto que foi aqui o segundo maior assalto a banco do mundo, no Banco Central de Fortaleza, em 2006. Durante o 3º Seminário Nacional de Segurança Bancária, que aconteceu nesta quarta-feira, 30, as falhas ficaram evidentes e também a falta de proteção à vida dos bancários, vigilantes, clientes e população
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A sistematização dos dados sobre segurança bancária é precária. Tanto que intelectuais e pesquisadores chegaram a fazer um manifesto para pedir maior clareza sobre o tema. Há estados, onde a legislação obriga que a Secretaria de Segurança Pública divulgue os dados, como é o caso do RS, SC, SP, RJ MG. Já o Paraná surge como um dos mais atrasados na transparência de dados. O pesquisador, Cléber Lopes, da Unicamp, fez uma peregrinação à Secretaria de Segurança Pública durante vários dias e não conseguiu nenhuma informação a respeito que pudesse contribuir para o debate do Seminário. Da mesma forma, diversas entidades e a própria imprensa foram à Secretaria, solicitando os dados e não foram atendidas. A Secretaria de Segurança Pública recusou o convite para participar do seminário.
Mais de 160 pessoas, provenientes de diversos estados, como RS, SC, SP, MG, ES, RJ, DF, participaram do evento. Esta é a segunda vez que Curitiba sedia um seminário de segurança bancária. A primeira foi em 2004. Para Marisa Stedile, presidente do Sindicato dos Bancários de Curitiba, o objetivo do evento foi alcançado. “O foco deste seminário foi a proteção da vida dos bancários, clientes e população. Em primeiro lugar devem estar as pessoas e não a proteção do lucro de cada dia do banco”, afirma.
Diversos representantes dos bancos estiveram presentes, entretanto nenhum deles aceitou falar publicamente sobre o tema. “Sentimos a ausência dos banqueiros apresentando seus dados, suas justificativas, seu investimento
Diagnóstico
Um dos momentos mais importantes do Seminário foi a apresentação de uma pesquisa coordenada pelo especialista em segurança da Unicamp, Cleber Lopes. A pesquisa mostra que na proporção, São Paulo é o Estado que tem o maior risco no interior das agências. O Rio Grande do Sul aparece em segundo lugar, seguido por Santa Catarina e Rio de Janeiro. A estimativa foi feita levando em consideração o número de agências
Na avaliação de Cleber, os dados apresentados são uma mostra do que acontece hoje em nível nacional. “Traçamos um perfil em quatro importantes unidades da federação e a conclusão que chegamos é a de que quando as autoridades civis e militares, as instituições financeiras, as categorias profissionais e a sociedade possuem dados e registros precisos sobre ocorrências nas agências bancárias, o combate à criminalidade se torna mais eficaz. Não existe política de segurança pública sem dados concretos. Para implementar é preciso diagnosticar”, explicou.
Carta de Curitiba
Ao final do seminário, os participantes elaboraram a carta de Curitiba com as principais reivindicações das entidades presentes. Umas das principais é a criação de uma central de monitoramento em tempo real integrada com as policias civil e militar e as secretarias de segurança pública. Outra reivindicação foi a mudança do layout das agências para resguardar o sigilo das transações financeiras, impedir a observação dos caixas e facilitar o posicionamento dos vigilantes.
Outras exigências são: proibição do transporte de valores e de chaves de cofres por funcionários dos bancos, instalação de portas de segurança com detectores de metais e utilização de vigilantes no auto-atendimento, emissão de boletim de ocorrência e de Comunicado de Acidente de Trabalho.
Os participantes também reivindicaram a atualização da lei 7.102, de 1983, que rege a segurança privada no país e cobraram a aplicação da portaria da Policia Federal que estabelece dois vigilantes por agencia bancária.
Contraf destaca preocupação com lotéricas e punição aos bancos
O secretário geral da Contraf, Carlos Cordeiro, salientou em sua fala a preocupação da entidade com a proteção dos trabalhadores e clientes das lotéricas. “As lotéricas são postos de atendimento da Caixa Econômica, e deveriam seguir as mesmas imposições legais de segurança dos bancos, mas ninguém assume esta responsabilidade. Hoje, as lotéricas simbolizam a discriminação que os bancos realizam com os clientes de baixo poder aquisitivo. Na visão do banco, eles não trazem lucro e não merecem proteção”, ressalta.
“Hoje já há obrigatoriedade do uso de colete a prova de balas por vigilantes, entretanto, poucos bancos estão cumprindo esta portaria”, lamenta. “Existem três tipos de punições aos bancos que não cumprem a legislação: advertência, multa – no máximo de 20 mil reais e interdição de agência. A mais eficiente é a última, pois funciona como um restaurante fechado pela vigilância sanitária, afeta diretamente a imagem do banco”. Cordeiro afirmou que até hoje nenhum banco foi punido desta forma.
Vigilantes em alerta
Colocar em prática os planos de segurança das instituições bancárias e investir em sistemas efetivos de proteção à vida. Estas são as propostas da Confederação Nacional de Trabalhadores em Vigilância/Prestadores de Serviços (CNTV/PS) e do Sindicato dos Vigilantes de Curitiba e Região, apresentadas no Seminário Nacional de Segurança Bancária.
O presidente da CNTV/PS, José Boaventura Santos, ressaltou a precariedade das atuais políticas de segurança do país e a necessidade de fiscalização no setor. “A Polícia Federal tem papel fundamental de exigir de implementação das normas legais de proteção por parte dos bancos”. Segundo Boaventura, este é o caminho para a prevenção a assaltos. “As instituições bancárias condicionam a instalação de equipamentos de segurança à estética das agências em detrimento da vida de bancários, vigilantes e clientes. Com isso, têm-se as brechas para os marginais atuarem”.
O presidente do Sindicato dos Vigilantes de Curitiba e Região, João Soares, enfatizou a falta de preocupação dos banqueiros. “É grave o problema da aplicação de recursos para aumentar a guarda dos valores. O dinheiro está sempre muito bem protegido dentro dos estabelecimentos enquanto os vigilantes estão trabalhando sem coletes à prova de balas, escudos e portas giratórias com baixa sensibilidade a objetos metálicos”.
A PM e a sociedade
Representando o Comando Geral da Polícia Militar do Paraná, o Capitão Marcos Vieira, Chefe da Seção de Inteligência da Cia. de Choque e Comandante da RONE, apontou algumas medidas de segurança que vêm sendo implementadas e que podem contribuir para um combate mais eficaz a criminalidade nas agências bancárias. Vieira destacou a integração entre as Polícias (Civil, Militar e Federal) e um patrulhamento mais intenso na parte interna dos bancos, sugerindo a ampliação do debate com a sociedade e a realização de projetos educativos.
“Este é um evento histórico porque nós estamos quebrando alguns paradigmas e nos unindo para combater a criminalidade nas agências. Essa discussão tem que ser aprofundada e sugiro a realização de campanhas educativas voltadas para a orientação dos funcionários, clientes e usuários. Esse é um aspecto fundamental e que deve ser trabalhado de forma conjunta. O resultado será positivo para todos”, reforçou.
A abordagem do Capitão Marcos Vieira também se concentrou na análise histórica dos números de assaltos a bancos no Estado. Segundo ele, no final da década de 80, pelo menos três agências eram assaltadas a cada semana. Com a implantação do “Tático Móvel Choque” este número baixou para praticamente “
O evento contou ainda com a presença de Roni Barbosa, presidente da CUT/PR, deputado estadual Professor Luizão (PT), Jéferson Furlan Nazário, do Sindicato das Empresas de Segurança e Wilson Ferreira Bonfim, da Polícia Federal.
Fonte: Seeb Curitiba