(Curitiba) Metas abusivas, assédio moral e clima de competitividade são fatores que adoecem os trabalhadores bancários e consolidam a política de exploração dos banqueiros. Eles defendem seus lucros à qualquer preço. A isonomia de direitos, presente nas reivindicações dos trabalhadores bancários, é uma das prioridades na negociação com a Fenaban – Federação Nacional dos Bancos. A categoria luta para que bancários afastados por motivo de doença tenham os mesmos direitos dos da ativa.
“Vamos lutar para que afastados tenham os mesmos direitos que os trabalhadores da ativa. Os bancários que adquiriram problemas de saúde por causa do serviço bancário não podem ser punidos. A retirada de direitos adquiridos pela categoria aumenta as dificuldades dos trabalhadores. Ele sofre perdas financeiras exatamente no momento em que mais necessita, ou seja, mantém as mesmas e apresentam-se novas necessidades e despesas, sendo que muitas vezes já está com seu orçamento comprometido em gastos com tratamentos e medicamentos”, lamenta Admilson Aparecido de Figueiredo, secretário de Políticas Sindicais da FETEC-CUT-PR e bancário do Itaú que apresenta lesão no ombro decorrente de seu trabalh como programador.
Hoje, os trabalhadores em licença médica não recebem o tíquete-refeição, após o 15º dia de afastamento pelo INSS e a cesta-alimentação (R$ 230) deixa de ser concedida após seis meses. O pagamento da PLR cai para o correspondente a 1/12 por mês trabalhado. "Também perdemos benefícios como abono e em programas de remuneração variável, como o Agir do Itaú, por exemplo. Além disso temos a complementação salarial ao valor do INSS apenas por dois anos", finaliza.
"O que deixa o trabalhador doente é o banco. E infelizmente, os trabalhadores só buscam auxílio do Sindicato quando já estão com a corda no pescoço", conta Roseli Paschoal, assistente social do Sindicato dos Bancários e Financiários de Curitiba e Região. "Eles já esgotaram todos os recursos, estão adoecidos e não aguentam mais. A cultura do silêncio impera dentro dos bancos. Até porque a produtividade cai e os trabalhadores doentes estão mais suscetíveis a uma demissão", ressalta.
"Eles têm medo de se afastar por temer as perdas salariais e o preconceito que enfrentam por estarem encostados". Roseli não se refere apenas a perda dos tíquetes e cesta-alimentação, mas também das horas extras, que reforçam o orçamento, e do vale transporte, como também o aumento de despesas com remédios, tratamentos e até mesmo a condução até os locais onde buscam atendimento médico. "Em muitos casos, quando não é detectado o nexo causal, o trabalhador afastado não tem estabilidade de emprego ao voltar".
Ela conta que muitos trabalhadores que são afastados por doenças contraídas no ambiente de trabalho não têm condições de retornar. "Ficam apresentando atestados médicos picados para conseguir breves afastamentos, outras vezes pedem a conta por não conseguem uma readaptação as condições de trabalho que o adoeceram", analisa. "Seria necessário que os bancos desenvolvessem políticas de acolhimento aos trabalhadores que estão retornando de um afastamento. Que o banco buscasse resgatar a qualidade de vida desse funcionário. Mas o foco deles está na exploração, na produtividade e não na recuperação de seus funcionários. O pior é que a maioria dos trabalhadores que adoecem no trabalho são aqueles funcionários que vestem a camisa da empresa, que são extremamente responsáveis e comprometidos com os bancos e são deixados na mão na hora que mais necessitam".
Perdas pessoais
Roseli alerta que a maior perda é a da identidade. "Muitos trabalhadores afastados são rotulados, deixam de ser reconhecidos como produtivos e sofrem muito preconceito. Eles se sentem como leprosos modernos, são tratados como se tivessem uma doença contagiosa. São desvalorizados, excluídos e não tem chances de produção. Isso sem mencionar que individualmente eles se auto excluem, sentem-se como se tivessem perdido a identidade de profissionais, de trabalhadores", ressalta Roseli.
Ela ressalta que muitos trabalhadores afastados se tornam indivíduos "poliqueixosos", isolados no âmbito familiar, sem convívio social. "Por vezes eles tem medo de participar de atividades sociais e de termo momentos de lazer. O ciclo de amizades se fecha. Se sentem incomodados, como se não tivessem direito e com medo da reação dos outros", relata Roseli.
Fonte: Patrícia Meyer – Fetec PR