Bancos fogem de debate sobre redução do spread bancário em Porto Alegre

A sala de reuniões da Comissão de Economia da Assembleia Legislativa do RS estava lotada nesta quinta-feira, dia 4, para debater a necessidade da redução do spread bancário como medida de combate à crise financeira. Trabalhadores, representantes do movimento sindical e de entidades empresairias, economistas… menos os banqueiros. “Esperamos que os representantes dos bancos apareçam”, disse o presidente da Comissão de Economia, deputado Heitor Schuch (PSB).

Mas quem mais precisava ouvir sobre a distorção do spread bancário no Brasil e as alternativas para redução das taxas não se fez presente. Várias alternativas foram apresentadas para mudar o cenário, entre elas a ideia defendida pelo secretário-geral do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região (SindBancários), o economista Fábio Soares Alves, de ter critérios fixos para a formulação do spred.

Fabinho lembrou que o item inadimplência varia conforme os interesses dos banqueiros. “A média história da inadimplência no Brasil é de 7%. Isso não explica a diferença do que é cobrado. É preciso regular o sistema para que esse disparate não aconteça mais”, alegou.

O deputado Raul Carrion (PC do B) classificou de escandaloso o spread praticado no País. Segundo ele, as taxas cobradas pelos bancos em território brasileiro variam entre 40% e 300%. O parlamentar citou o Itaú como exemplo, uma vez que o banco é um dos que o pratica as mais altas taxas,chegando a 167% no caso do cheque especial e 125% para o crédito pessoal.

“É um absurdo. O Itaú não respeita seus clientes e os submete a cobranças abusivas. Além disso, com todos esses recursos em caixa, o banco ainda se nega a investir em segurança, com a instalação dos vidros blindados, e de recompensar seus funcionários”, critica a diretora do SindBancários e funcionária do Itaú, Cátia Cilene, que assistiu aos debates.

O diretor da Feeb/RS, Amaro Souza, afirmou “que não há escândalo maior que o spread bancário cobrado no Brasil, é 11 vezes maior que o praticado nos países desenvolvidos, e os lucros exorbitantes que os bancos auferem no país. Trata-se da transferência para o sistema financeiro de parte significativa dos impostos pagos por todos nós. Que a responsabilidade social vença a ganância”.

O professor do IPA, economista David Fialkon Sobrinho, criticou a forma com que os bancos lidam com a questão. Fialkon Sobrinho apresentou os dados do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), que revelam um spred 11,04 vezes maior no Brasil em comparação a países em desenvolvimento.

Ficou ainda mais alto com a crise, sob o argumento dos banqueiros de que a inadimplência poderia subir. “Na verdade, a inadimplência sobe porque o spred é alto” afirma. Ele exemplifica com os números divulgados pela Fiesp, que apontam um custo de R$ 8,2 bilhões aos brasileiros, levando-se em conta a diferença entre o crescimento do spread versus o crescimento da inadimplência.

E mais: o professor fez o levantamento das taxas anuais, com base nos índices praticados na semana passada, e chegou a números estarrecedores. O crédito pessoal chega a 49,19% ao ano, crédito parcelado a 136,59%, CDC automóveis 36 meses a 30,5%, cheque especial a 191,98% e, no caso do cartão de crédito, ao absurdo de 310,99% anuais. “A taxa mensal é de 12,5% ao mês. “Ou seja, o percentual do mês supera a própria Selic”, critica o especialista.

Entre as possibilidades para que o spread seja reduzido, o economista cita o aumento da concorrência – prejudicado com as recentes fusões e aquisições no setor -, uso dos bancos públicos como reguladores de mercado, facilidade de acesso aos fundos e a fixação de patamares máximos de juros para cada modalidade pelo Banco Central.

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