A Contraf-CUT promoveu o lançamento nacional, ao vivo, da campanha “Menos Metas, Mais Saúde”, nesta quarta-feira, 18 de agosto, no auditório da entidade, em São Paulo, com a realização de um seminário sobre o assédio moral. Os palestrantes Roberto Heloani, doutor em Psicologia Social, professor e pesquisador da Unicamp e da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), e Margarida Barreto, especialista, pesquisadora e médica do trabalho, debateram as novas formas de gestão e a cobrança por produtividade que tanto têm afetado a saúde mental e a dignidade dos bancários.
A mesa de abertura foi coordenada pelo secretário de saúde da Contraf-CUT e membro da comissão do Instituto Nacional de Saúde do Trabalhador da CUT (Inst-CUT), Plínio Pavão. Também participaram o secretário-geral da Contraf-CUT, Marcel Barros, e a assessora da Secretaria Nacional de Saúde do Trabalhador da CUT, Cláudia Rejane de Lima, representando Manoel Messias Melo, secretário de Saúde do Trabalhador da CUT.
Para Plínio, é fundamental difundir a campanha e discuti-la na mesa de negociação com os banqueiros. “Temos insistido na importância de se debater a organização do trabalho e, para isso, é preciso que o bancário se conscientize, uma vez que as metas estão inseridas neste contexto”, destaca Plínio.
“O trabalho deve nos ajudar a viver melhor, e não o contrário. Por isso, é essencial debater o tema do assédio moral entre os bancários. Precisamos discutir a violência organizacional, entre outros temas, para definir o rumo que tomaremos em defesa dos direitos dos trabalhadores”, ressalta Marcel.
Para Claudia Rejane, os bancários têm participado ativamente da política de Saúde do Trabalhador da CUT, colaborando para que fosse criada a Secretaria Nacional de Saúde do Trabalhador da CUT. “Também foi brilhante a abertura de espaço para os bancários denunciarem a lógica perversa de trabalho no qual estão inseridos, assim como a discussão dos limites físicos, psíquicos e o sofrimento que passa o trabalhador. Temos que lutar pela saúde, satisfação e para que a dimensão política do trabalho esteja sempre em evidência”, frisa Claudia.
Metas na lógica da luta de classes
Para Heloani, as metas fazem parte de uma lógica não somente da organização do trabalho, mas também da luta de classes. “São questões centrais obscurecidas pela tecnologia e que trazem a impossibilidade do trabalhador se indignar por si e pelos outros”.
Heloani apresentou um histórico da evolução do trabalho no setor bancário, enfatizando o processo de reestruturação ocorrido na década de 1990, quando foi intensificada a automação dos serviços, o enxugamento dos postos de trabalho e os programas de demissões voluntárias (PDV´s), que propiciaram o aumento exorbitante nos lucros dos bancos. “Havia naquele período número maior que o dobro de bancários que há atualmente. Este foi o resultado de um conceito gerido pelo ‘Deus Mercado’, que se apresenta como racional, não é corrupto e que ainda diz que dialoga de igual para igual com todos atores sociais. Ou seja, sempre estará direcionado para aquele que oferece mais lucros”, ironiza Heloani.
Na avaliação de Margarida Barreto, as metas são um desafio que diz respeito a todos os trabalhadores e não somente aqueles que tem o problema manifestado. “O assédio moral faz parte da organização coletiva. Não podemos cair na indiferença com quem está ao nosso lado. Quando isso acontece, se banaliza e se caminha para a barbárie. A violência organizacional é um problema que diz respeito a todos nós”, afirma a especialista.
Metas insanas e inalcansáveis
A médica do trabalho classifica as metas como insanas e inalcansáveis, criticando as empresas que estimulam o trabalhador em muitos casos com brindes e presentes. “As políticas de metas são pensadas e analisadas pelos superiores de forma autoritária, unilateral e inatingível. Trata-se de um modelo de gestão baseado na ‘excelência’ que tem uma única mensagem: ‘vender, vender, vender’. O trabalhador tem a obrigação de ser forte, produzir melhor que o concorrente, atender todas as demandas e canalizar as energias individualmente”, ressalta Margarida Barreto.
Para ela, a forma como o trabalho está organizado mexe na estrutura da nossa cabeça. “Desestrutura nossa forma de pensar, agir, de se relacionar com o outro, com nossa família, amigos. Se o trabalho é ensandecido, nós também ficamos. Nosso corpo responde com adoecimento através da depressão, irritação, alteração constante de humor, sensação de pânico, medo, falta de estímulo para se locomover ao trabalho, e até mesmo com o suicídio. Aquele que está sofrendo, imagina que o único modo de se livrar de todos os problemas é acabando com a própria vida. Assim se livra de tudo”, alerta a pesquisadora.
Heloani ainda contesta o modo como as empresas fazem a política de metas sem consultar os trabalhadores. “Como é possível estabelecer metas sem contar com a opinião daquele que a pratica?”, questiona Heloani.
Para ele, uma política de metas aceitável seria aquela compatível com os limites do trabalhador e que não ocasione um desgaste na saúde de uma forma geral. Ou seja, metas com anuência daquele que trabalha. “É como diz o médico francês Christophe Dejours: ‘quem conhece o limite é o trabalhador’. É o bancário que sabe os limites físicos e psíquicos no qual atua e sofre. Da forma como acontece, não só se escraviza, como também compromete a saúde e a relação do trabalhador com a família, amigos etc”, conclui Heloani.
Ao final do evento, que contou com mais de 70 participantes, houve debates sobre os temas expostos. Logo após, o presidente da Contraf-CUT promoveu o lançamento do primeiro volume dos Cadernos Contraf-CUT, coletânea temática que será publicada periodicamente para aprofundar assuntos como: saúde, emprego, ramo financeiro e igualdade de oportunidades, dentre outros.