A nova alta da taxa básica de juros significa que o Brasil perderá R$ 6,5 bilhões em investimentos públicos para pagar rendas a donos de títulos do mercado financeiro ao longo de 2014. Se somada às elevações promovidas pelo Banco Central desde abril de 2013, a alta de meio ponto promovida na quinta-feira (15) significa em torno de R$ 42 bilhões a menos só neste ano. Para que se tenha uma ideia do tamanho do prejuízo, todos os recursos destinados ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em 2014 somam R$ 63,2 bilhões.
Agora, a Selic está em 10,5% ao ano, 3,25 pontos a mais que o patamar mais baixo da história, registrado do começo de 2013 até abril, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) deu início a uma série de sete elevações. Ontem, em Brasília, a decisão foi tomada por unanimidade, sem indicativo sobre a interrupção ou a manutenção da trajetória de alta.
A economista do Dieese Patrícia Pelatieri, colunista da Rádio Brasil Atual, lamenta que a decisão seja tomada em um momento em que nada indicava a necessidade de elevação. “O Brasil vive uma contradição, uma vez que com o crescimento global ainda lento, incerteza, um dos únicos caminhos possíveis para o país crescer seria o aumento do investimento público, que puxaria também o investimento privado”, afirmou em seu comentário de hoje.
O IPCA, índice de inflação oficial, fechou 2013 em 5,91%, abaixo do teto da meta, de 6,5%, e dentro da média mantida durante o governo Dilma Rousseff. Mas durante todo o ano passado foi promovida uma campanha, pelo mercado financeiro e por parte da mídia tradicional, de alerta sobre a alta de preços, o que provocou a elevação da Selic e levou à inversão da tendência desejada no início da atual gestão.
Em janeiro de 2013, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, celebrava a taxa de juros mais baixa da história e afirmava que o capital passaria por uma fase de desintoxicação ao deixar a especulação para rumar aos investimentos produtivos. Em dezembro, teve de admitir que a elevação da Selic atrapalhou o crescimento da economia.
Agora, analisa Patrícia, pode ter pesado na decisão do Copom a tensão trazida por um ano eleitoral, em que se acirrará o debate entre austeridade e crescimento econômico. “O que estamos vendo é que o governo vem convergindo com o mercado financeiro numa posição mais conservadora. Nosso temor, olhando os trabalhadores e a população de maneira geral, é que além da eficácia duvidosa dessa medida, uma desaceleração ainda maior da economia brasileira vai, em alguma medida, afetar negativamente o mercado de trabalho e pode colocar em risco todos os ganhos sociais obtidos desde 2003”, avalia.
Para quem deseja provocar mais tensão, os primeiros meses do ano são oportunos, geralmente marcados por alta nos preços dos alimentos. É também a hora chave para definir o crescimento da economia, e neste sentido a alta na taxa de juros é negativa para um governo que precisa garantir seus próprios investimentos e estimular o setor privado, naturalmente conservador e lento, a investir.
As elevações do último ano, avalia Patrícia, já provocaram uma redução no ritmo justamente no contexto em que era preciso acelerar a economia, ainda atrapalhada pelo baixo dinamismo do mercado internacional e pela perda de fôlego do mercado interno. “Nos parece que, mais que uma necessidade técnica, foi uma tentativa do governo de eliminar qualquer onda de pessimismo no mercado e apostar, talvez, numa retomada só em 2015.”