As agências do HSBC no município do Rio de janeiro amanheceram fechadas nesta terça-feira, dia 18, em todo o município do Rio de Janeiro em protesto contra as demissões de mais de 100 bancários efetuadas pelo banco na última sexta-feira, dia 14. A paralisação de 24 horas foi definida em assembléia realizada na noite de segunda-feira. Até mesmo unidades que nunca aderiram a movimentos paredistas ficaram fechadas, como a unidade de um grande shopping center que atende ao segmento Premier.
A adesão dos funcionários foi maciça e nem mesmo a coação imposta pelo banco foi capaz de fazer os bancários entrarem para trabalhar. No Centro, um advogado percorreu agências e enfrentou piquetes, tentando coagir os bancários a furarem a greve. Numa das unidades, o advogado passou pelos piqueteiros, entrou na agência, mandou os seguranças acenderem as luzes e, aos gritos, chamou os funcionários “que quisessem” entrar. Alguns bancários, mesmo intimidados, permaneceram fora da agência, sob orientação dos dirigentes sindicais que estavam no local.
A situação dos bancários do HSBC é dramática em todos os locais de trabalho e não apenas no prédio administrativo, onde aconteceu a maior parte das demissões. A escassez de funcionários é comum, já que o banco é um dos campeões no número de afastados por doença ocupacional. É um círculo vicioso: excesso de trabalho causa o adoecimento e, com o afastamento dos doentes, a sobrecarga sobre os que permanecem é ainda maior, e o risco destes adoecerem é constante. Mas, como o banco contrata pouco, bancários são transferidos de uma agência para outra para “tapar buraco”, mas o problema nunca é resolvido. Nas unidades onde a situação é melhor, o corpo de funcionários é suficiente apenas para permitir o funcionamento mínimo da agência em condições normais, sempre havendo acúmulo de serviço nos dias de pico. Na maioria, há poucos bancários e as filas para o atendimento são imensas e constantes. Na unidade Cinelândia, no Centro, dos três caixas, dois foram demitidos. Agora, o tesoureiro, que já assumia os guichês de atendimento em dias de grande movimento, terá que acumular funções todos os dias, ganhando por um e trabalhando por dois.
Como se não bastasse demitir os bancários há 50 dias do Natal, o banco o fez de maneira arbitrária e cruel. “Eles não tiveram nem a dignidade de dizer os nomes dos demitidos. Colocaram todo mundo numa sala e foram chamando somente os nomes dos que iriam continuar. Estes saíram para retornar aos seus locais de trabalho, enquanto os dispensados ficaram na sala. As cartas de demissão já estavam prontas e algumas traziam até a data para homologação da dispensa”, relata uma bancária dispensada que trabalhava no Searj, no prédio administrativo.
As demissões atingiram não só os empregados do banco, mas também da Losango, a financeira do grupo. E alguns dos dispensados eram ex-empregados do HSBC que atuavam em postos de trabalho extintos e foram transferidos com a promessa de segurança no emprego. “Em todas as reuniões, eles nos tranquilizavam, garantindo que não seríamos dispensados. Agora, acontece isso”, relata uma funcionária. Entre os dispensados, muitos tinham mais de 15 anos de banco, alguns já eram empregados há quase três décadas e estavam próximos da aposentadoria. Nem mesmo os empregados com bom desempenho foram poupados. “Na última avaliação, no meio do ano, minha gerente me deu nota 2, que é a melhor que um funcionário consegue alcançar. Chegei a receber um certificado de excelência por isso, mas fui demitida mesmo assim”, relata uma dispensada.
Atividade sindical
Em todo o município do Rio de Janeiro, apenas uma agência não aderiu à paralisação. Em Campos, em solidariedade aos colegas cariocas e temendo a expansão da onda de demissões, os bancários também fizeram greve de 24 horas. Em Petrópolis, as agências ficaram fechadas até o meio-dia. Em Teresópolis e Macaé, houve panfletagem junto a clientes e bancários informando sobre a situação.
Reunião
Na tarde de terça-feira, os dirigentes sindicais da base da Federação se reuniram com o executivo de relações sindicais do HSBC, Gilmar Lepchak, e seu assistente, Antônio Carlos, para negociar. O objetivo dos sindicalistas era a reversão das demissões, mas, logo de saída, o banco disse que isso não aconteceria. Foi buscado, então, um acordo para minimizar o impacto negativo das dispensas. Ao final da reunião, os representantes do banco concordaram em levar à diretoria as seguintes propostas: concessão de 13ª Cesta Alimentação aos demitidos, pagamento de um adicional rescisório de 1 salário para quem tem até 10 anos de banco e 2 salários para quem tem mais de 10 anos e não desconto do dia parado (18/11). Na manhã desta quarta-feira, o banco comunicou aos sindicalistas que todas estas reivindicações foram acatadas. O movimento sindical foi representado na reunião pelos presidentes da Federação, Fabiano Júnior, e do Sindicato do Rio, Vinícius Assumpção, e pelos dirigentes Vinícius Codeço, da Feeb, e Wanderley Souza, do Seeb-Rio, representante da Federação na COE do banco.
Durante o encontro, foram discutidas somente as demissões ocorridas no Searj. Os representantes do banco garantiram aos sindicalistas que não haveria mais demissões decorrentes de reestruturação no estado do Rio de Janeiro. Segundo Lepchak, quando houver mudanças no Searj, os empregados serão remanejados para outras unidades do banco. O executivo não respondeu se o Searj será desativado, apenas afirmou que não haveria mais demissões de empregados lotados no setor. Quanto às demissões nas agências, o banco informou que os motivos são específicos e não as discutiu.
Fabiano Júnior, presidente da Federação, avalia a reunião: “Houve um esforço para negociar e para que o banco revisse as demissões. Avançou-se pouco, não no que se esperava, mas no que foi possível. A atividade de paralisação foi fundamental para mostrar a importância da atuação dos trabalhadores”, declarou Fabiano. O dirigente, no entanto, entende que os bancários não devem deixar de se empenhar: “Os demitidos devem ir à Justiça reivindicar seus direitos e até pleitear a reintegração. A Federação e o Sindicato do Rio estão abertos e vão dar todo o suporte de que estes trabalhadores precisarem”, disse Fabiano.
Articulação internacional
Os dirigentes do HSBC de todo o país estão reunidos em São Paulo para o encontro anual de bancos. Os sindicalistas redigiram uma moção de solidariedade aos bancários demitidos e de repúdio à atitude do banco de demitir em massa. No final da semana haverá a 4ª Reunião Internacional das Redes Sindicais de Bancos Internacionais e os dirigentes sindicais de toda a América Latina vão fazer um ato público em protesto contra as demissões do HSBC.