Para Frei Betto, esquerda não estava preparada para resistir ao golpe de 64

Em seu comentário semanal à Rádio Brasil Atual, o escritor Frei Betto criticou nesta segunda-feira (24) a falta de ações de resistência organizada à instauração do golpe civil-militar no Brasil em 1º de abril de 1964. Para ele, a esquerda deveria estar organizada para impedir que o país fosse governado sob regime antidemocrático durante 21 anos.

“A esquerda que bradava ser capaz de mobilizar milhares de trabalhadores em caso de ameaça de golpe não dava as caras. Onde estava a resistência de toda aquela multidão que havia aplaudido João Goulart no mega comício na Central do Brasil, em 13 de março, no Rio de Janeiro?”, questiona.

No dia do golpe, Frei Betto participava do Congresso Latino-americano de Estudantes, em Belém. O teólogo conta que, mesmo com notícias confusas e incertas sobre a ditadura, as lideranças estudantis decidiram imediatamente encerrar o evento. “Foi um salve-se quem puder”, disse. No Norte, a maioria das notícias sobre o golpe nas grandes capitais chegava por meio do rádio, explica o comentarista, que só retornou ao Rio de Janeiro nove dias depois.

O presidente João Goulart havia sido deposto e partido para o exílio. Assim, o então presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli, assumiu o controle da República sob tutela dos militares. A situação provisória se estendeu até 11 de abril, quando houve escolha presidencial indireta: votariam apenas os membros do Congresso Nacional que não haviam sido cassados por “divergências políticas com o regime”. O marechal Castelo Branco tomou posse em 15 de abril como o primeiro governante do período da ditadura.

“Nossos sonhos libertários se derretiam”, lamenta o escritor. “A gente se perguntava por que as tropas comandadas pelo general Olímpio Mourão Filho, que desceram de Minas Gerais ao Rio de Janeiro, não se depararam com nenhuma dificuldade, nenhum obstáculo, nenhuma resistência”, completa.

Frei Betto conta que o apartamento em que morava, com reuniões da Ação Católica do Rio de Janeiro, foi invadido na madrugada de 6 de junho por agentes do Centro de Informações da Marinha (Cenimar). “Fomos todos arrastados para o Comando Naval, no centro da cidade, e depois encarcerados no quartel dos fuzileiros navais, na Ilha das Cobras. A ditadura, então, pela primeira vez me atingiu na pele.”

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