O secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, apresentou nesta terça-feira um programa de três etapas para restaurar a estabilidade do setor bancário do país. A ajuda em conjunto do Departamento do Tesouro, do Federal Reserve (Fed, o BC americano) e do setor privado pode chegar a US$ 1,5 trilhão.
Desse total, US$ 500 bilhões serão usados para retirar ativos “podres” (difíceis de serem vendidos) dos bancos e US$ 1 trilhão será oferecido ao mercado na forma de novos empréstimos.
Segundo o secretário, governos e bancos centrais no mundo todo “praticaram políticas que (…) causaram uma enorme expansão do crédito, elevando os preços dos imóveis e o mercado financeiro a níveis que desafiavam a gravidade”.
“Investidores e bancos assumiram riscos que não entendiam. Indivíduos, empresas e governos tomaram [dinheiro] emprestado além de suas possibilidades. As recompensas que os executivos no setor financeiro receberam de distanciaram de qualquer avaliação realista de risco”, afirmou.
O secretário destacou que houve falhas sistemáticas na regulamentação, por parte de diretores, de agências de classificação de risco e dos órgãos do governo. “Essas falhas ajudaram a estabelecer o fundamento para a pior crise econômica em mais de uma geração”, disse.
Uma vez que a ajuda do Estado é um “privilégio, não um direito”, Geithner anunciou um endurecimento das condições para a concessão do dinheiro dos contribuintes aos estabelecimentos financeiros.
O dinheiro do governo, segundo ele, é essencial para garantir o interesse do resgate dos papéis ruins relacionados ao mercado imobiliário, centro da crise financeira. “Nosso objetivo é usar o capital privado (…) para criar um mecanismo de mercado para valorizar esses ativos”, destacou o secretário do Tesouro.
Geithner estimou, por fim, que seu plano representava uma “refundação fundamental” do plano de resgate do sistema financeiro colocado em prática pelo governo de George W. Bush, muito criticado por parlamentares e a opinião pública.
O plano anunciado pelo Tesouro para estabilizar o sistema bancário terá três fases:
1) As instituições bancárias serão submetidas a um “teste de resistência abrangente e cuidadosamente projetado”. Com esse teste, os balanços dos bancos ficarão “mais limpos e mais fortes”. Além disso, o secretário informou que instituições que precisarem terão acesso a um novo programa de garantias de capital;
2) O Tesouro, além do Federal Reserve (Fed, o BC americano), da FDIC e de investidores privados, criarão um fundo de investimento dos setores público e privado. “Esse programa vai fornecer dinheiro e financiamento públicos para ajudar a dar apoio ao capital privado para ajudar os mercados privados a funcionar de novo”, disse o secretário.
O Fed, por sua vez, já anunciou hoje que preparou uma expansão considerável de um instrumento de garantia de títulos
3) Junto com o Fed, o Tesouro usará ao menos US$ 1 trilhão na compra de títulos securitizados ligados ao crédito e ao consumo –como crédito estudantil, financiamento de automóveis, empréstimos para pequenas empresas e crédito imobiliário comercial. Trata-se, na verdade, da elevação de US$ 200 bilhões para US$ 1 trilhão de linha anunciada em novembro do ano passado, cujas compras de papéis só começaram neste mês.
No sistema bancário americano, 40% do consumo americano ocorre a partir de financiamentos com vendas de títulos.
Hipotecas
Geithner também indicou que anunciaria em algumas semanas um plano “completo” para a habitação que viria em ajuda aos proprietários ameaçados com a execução de hipotecas residenciais.
O Fed e o Tesouro irão comprometer US$ 50 bilhões para reduzir dívidas hipotecárias e modificar regras de empréstimos no setor. Empresas que receberam ajuda pública serão obrigadas a aderir ao programa, segundo o Tesouro.
O plano incluirá compra de títulos lastreados por hipotecas emitidos pelas companhias Fannie Mae e Freddie Mac, salvas pelo governo americano no ano passado.