Reunido em Moscou, G-20 debaterá reforma de cotas do FMI

Valor Econômico
Assis Moreira, de Moscou

As discussões no G-20 em Moscou começam hoje com um confronto entre países emergentes e europeus sobre a redistribuição de poder no Fundo Monetário Internacional (FMI). A reunião técnica antecede o encontro de ministros de finanças e presidentes de bancos centrais.

Apesar dos compromissos assumidos, os europeus continuam insistindo em não abrir mão de mais cotas, o que significa manter intacto seu poder no Fundo, e em não reconhecer a nova realidade econômica trazida pela expansão dos emergentes.

Negociadores dizem que a lógica do europeus levaria os emergentes a brigar entre si. Ou seja, os emergentes mais dinâmicos, o que inclui a China, Brasil ou Índia, só poderiam crescer sua fatia no FMI às custas de emergentes menos dinâmicos, para não mexer na representação europeia.

É nesse cenário que a Rússia organiza hoje uma reunião de alto nível técnico sobre a reforma da arquitetura financeira internacional. Não se espera nenhum avanço na discussão sobre redistribuição de poder no FMI diante do bloqueio do europeu que causa crescente irritação e consternação entre os países em desenvolvimento.

No entanto, a realidade é clara. De um lado, a Europa só representa hoje 20% do PIB mundial medido em Paridade de Poder de Compra (PPC), enquanto seus países têm quase 30% do poder de voto no Fundo.

Os emergentes, por sua vez, continuam aumentando sua fatia no PIB global. Mas no Fundo estão subrepresentados, ao mesmo tempo em que são chamados a assumir mais responsabilidades – como aumentar o capital do Fundo para eventualmente socorrer os próprios europeus em crise.

O montante de financiamento que um país pode obter no FMI é baseado nas suas cotas.

Até agora, duas reformas prometidas fracassaram, para reconhecer a maior importância dos emergentes. Em outubro do ano passado, por falta de ratificação pelo Congresso dos Estados Unidos, não entrou em vigor o aumento das cotas para os emergentes, conforme acertado no G-20 de 2010 na Coreia do Sul. Pelo arranjo, o Brasil ficaria entre os dez maiores em cotas e em poder de voto no Fundo.

No fim de janeiro, foi a resistência dos europeus que fez capotar a revisão da fórmula de cotas para redistribuir o poder de decisão a partir de 2014.

Os europeus alegam que o acertado no G-20 foi que os países “discutiriam” a reforma, e discutido foi. Os emergentes, por seu lado, querem evitar ficar dependendo de uma nova negociação. O plano da Rússia, no comando do G-20 este ano, é agora pelo menos conseguir o que foi delineado no FMI: aprovar a revisão da fórmula até o fim do ano, antes da próxima reforma geral de cotas programada para até janeiro de 2014.

A fórmula atual dá enorme peso para as economias mais abertas, e pequenas, a ponto de a cidade-Estado de Cingapura ter mais importância no FMI do que a Indonésia. Parte da pujança de Cingapura é derivada da prestação de serviços justamente para a Indonésia.

Para corrigir essa situação, emergentes insistem que seja levado mais em conta a proporção de certos países no PIB global, ao invés de apenas abertura ao comércio externo.

A China faz parte dos Brics – bloco que denomina Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul -, mas também faz uma espécie de “G-2” com os Estados Unidos. Mas quando a briga é mais difícil, parece consciente de que o melhor é uma tentativa de coordenação entre os emergentes.

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