Financial Times
Francesco Guerrera e Sharlene Goff
A regulação do setor bancário global deu mais um passo ontem em direção à convergência, depois que uma comissão do Reino Unido propôs medidas que aproximarão as regras financeiras do país das americanas, reduzindo os temores de que bancos britânicos possam trocar Londres por Nova York.
A Independent Banking Commission (IBC), liderada por John Vickers, não chegou a forçar os bancos a separar seus negócios com títulos de suas operações de empréstimos comerciais e de varejo – um plano radical que vinha enfrentando forte reação do setor.
Banqueiros reagiram com alívio à proposta da comissão, dos bancos britânicos colocarem suas operações de varejo – depósitos, empréstimos a pequenas empresas e sistemas de pagamento – em uma subsidiária separada e manter mais capital contra ela do que o anteriormente exigido. As medidas visam garantir que as unidades de varejo poderão continuar funcionando mesmo que as operações de banco de investimentos e banco comercial sofrerem grandes perdas, como aconteceu na crise financeira.
As mudanças propostas – que precisam ser finalizadas até setembro – são parecidas com as regras dos Estados Unidos, onde os bancos têm limitados os volumes de depósitos que podem usar nas atividades de banco de investimento e banco comercial.
“As propostas refletem a estrutura que foi montada nos EUA na última década, que exige que o banco comercial seja separado das demais atividades financeiras”, escreveu em uma nota a clientes Simon Gleeson, sócio da Clifford Chance.
No entanto, o plano britânico vai mais além que o americano, onde os bancos não enfrentam as mesmas exigências de capital para suas unidades de varejo. Pelas recomendações de Vickers, os bancos britânicos teriam de manter 10% de seu capital “Tier 1” em suas unidades de varejo, mais que os 7% previstos no Acordo da Basileia III.
Mesmo assim, banqueiros e analistas disseram que as recomendações da comissão não desencadeariam um êxodo de bancos e banqueiros da City de Londres – uma ameaça que vinha sendo feita por alguns executivos antes da divulgação das propostas.
“As decisões das grandes instituições bancárias sobre onde localizar suas sedes provavelmente serão mais influenciadas por avaliações de longo prazo do crescimento do mercado e das estratégias de negócios, do que por essas recomendações”, escreveu Richard Reid, diretor de análises do International Centre for Financial Regulation, em uma nota a clientes.
As autoridades reguladoras nacionais vêm tentando obter uma maior coordenação na maneira como as regras são elaboradas e implementadas, para desarticular a “arbitragem reguladora” pelos grandes bancos.