Atividade deu continuidade à agenda de luta por memória, verdade e justiça
Os participantes do Encontro Nacional das Comissões da Verdade de Sindicatos CUTistas, que aconteceu no Rio de Janeiro nos dias 29 e 30 de janeiro, fecharam o evento com uma manifestação na Praça Lamartine Babo, no 1º Batalhão de Polícia do Exército, na Tijuca, zona norte do Rio, onde durante a ditadura funcionou o Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) nos anos 70.
Na praça, entidades ligadas aos direitos humanos inauguraram no ano passado, um busto em homenagem a Rubens Paiva, um dos muitos brasileiros torturados e mortos nesta dependência militar.
O coordenador da Comissão Nacional Memória, Verdade e Justiça e secretário nacional de Políticas Sociais da CUT, Expedito Solaney, contou que 20 sindicatos ligados à central têm comissões da verdade e a intenção é que este número cresça. De acordo com o sindicalista, o objetivo da manifestação foi destacar que a Comissão Nacional da Verdade (CNV) preparou o relatório com a conclusão das investigações sobre os casos de desrespeito aos direitos humanos durante a ditadura no Brasil.
“É um ato simbólico, um ato importante. Para nós, é fundamental resistir e registrar. Lutar para que o resultado da Comissão Nacional da Verdade não fique no Arquivo Nacional. Nós não queremos ser revanchistas, queremos que se faça justiça”, analisou.
Solaney destacou, no entanto, que agora é momento do relatório entrar na pauta dos movimentos sociais e populares, do Congresso e do governo. O sindicalista defendeu que é preciso exigir o cumprimento das recomendações do documento. “Por exemplo, a instauração do inquérito que culmine com a prisão dos torturadores. Apresentaram nome e sobrenome de militares que perpetraram crimes de lesa-humanidade e que não prescrevem, então não se justifica a Lei da Anistia”, contou.
Para Gilney Viana, ex-deputado federal pelo Mato Grosso, que cumpriu nove anos e 10 meses de prisão durante a ditadura, quanto mais pessoas tomarem conhecimento dos crimes cometidos pela ditadura, maiores são as chances de acabar a impunidade dos torturadores. “O problema é que a Lei de Anistia atual é resultado de um acordo feito por cima. Temos que aumentar a pressão política contra a impunidade, para derrubarmos a interpretação do STF, que referendou os termos da lei em 2010. As resoluções da OEA, que não aceitam a impunidade, é outro caminho importante.”
Apresentando sequelas físicas devido às bárbaras torturas sofridas no DOPS do Rio Grande do Sul, no DOPS de São Paulo (comandado pelo delegado Fleury) e no DOI-Codi paulista, então chefiado por Carlos Brilhante Ustra, o jornalista Pinheiro Salles causou consternação e revolta ao falar do drama que viveu. Mas terminou sua fala com uma conclamação: “Pelo fim das desigualdades sociais e da opressão. Por um Brasil verdadeiramente democrático, viva o socialismo.”
A americana Jana Silverman, que trabalha no Centro de Solidariedade do AFL-CIO, em São Paulo, disse que a história já comprovou que houve apoio ativo dos Estados Unidos em ações de repressão no Brasil. “Foram operações pagas com o dinheiro do povo americano. Nós não aceitamos isso. Moralmente achamos que precisamos nos unir com os nossos companheiros do Brasil para dizer que precisamos lembrar esta experiência para pedir justiça”, disse.
Jana Silverman acrescentou que o AFL-CIO desenvolve projetos em parceria com a CUT em outras áreas, como o meio ambiente. A sindicalista também concorda que o relatório da CNV foi um avanço, mas para ela é preciso buscar mais.
“Não pode parar aí. O relatório não pode ficar só no papel. Estamos apoiando os nossos companheiros da CUT para pressionar e mobilizar a sociedade brasileira, juntamente aos sindicatos dos Estados Unidos, para que termine em reparações efetivas”, disse.