Valor Econômico
De Brasília
Os grandes bancos estão praticamente livres das punições criadas pela autoridade monetária para quem não ajudasse, por meio da compra de carteiras de crédito, as instituições pequenas e médias com problemas de falta de liquidez. Segundo balanço do BC, no último dia de novembro os grandes bancos tinham usado R$ 27,312 bilhões dos depósitos compulsórios na compra de carteiras e outras operações, como investimentos em depósitos interfinanceiros. Isso representa 89% dos R$ 30,5 bilhões liberados pelo BC para ajudar bancos menores.
As instituições financeiras, porém, só cumpriram as aplicações exigidas graças a mudanças nas regras promovidas pelo BC, que permitiram que os grandes bancos aplicassem dinheiro do compulsório em instituições financeiras que não necessariamente enfrentam problemas. A regra estabelecida pelo BC permite que os grandes bancos façam depósitos interfinanceiros em instituições com patrimônio de referência de até R$ 7 bilhões. Nesse grupo, estão bancos ligados a conglomerados financeiros estrangeiros que têm posições sólidas de liquidez no Brasil. O BC permitiu também que os bancos aplicassem R$ 6,2 bilhões em depósitos interfinanceiros no BNDES, que seriam dirigidos a financiamentos a empresas.
O BC informa que, até agora, não separou o que é compra efetiva de carteiras de crédito e o que são depósitos interfinanceiros. Até meados de novembro, antes de a autoridade monetária flexibilizar as regras, os grandes bancos haviam aplicado apenas R$ 10,208 bilhões. Eles reclamavam que não havia mais boas carteiras disponíveis e relutavam a assumir riscos excessivos em período de desaceleração da economia, que poderá levar ao aumento da inadimplência nos empréstimos bancários.
Além da compra direta de carteiras, o BC socorreu os bancos com injeção de R$ 5,374 bilhões no Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Os bancos tiveram compulsórios sobre depósitos a prazo liberados para antecipar mensalidades à instituição. Desde o início da crise, o recolhimento de depósitos compulsórios das instituições já foi reduzido em R$ 84,642 bilhões, passando de R$ 272,015 bilhões para R$ 187,373 bilhões entre setembro e novembro, segundo o BC. Da queda de R$ 84,642 bilhões, R$ 80,719 bilhões se referem aos compulsórios remunerados e R$ 3,923 bilhões aos não-remunerados.