Depois da Argentina, a expansão do Banco do Brasil na América do Sul deve seguir pelo Uruguai. Estuda-se a possibilidade de transformar a filial uruguaia do Patagônia, que hoje atua como instituição financeira para estrangeiros, em banco comercial.
A decisão sobre a viabilidade do negócio sairá ainda neste ano e antes mesmo da compra de participações acionárias em outros três países da região onde o BB está de olho em aquisições – Chile, Peru e Colômbia.
A filial do Patagônia está no luxuoso balneário de Punta del Este e lida basicamente com depósitos de argentinos que preferem levar suas economias para os cofres uruguaios. Traumatizada com a quebra de bancos e medidas do governo que impedem saques, como o “corralito” de 2001 (restrição de saque de dinheiro pelo governo), a classe média na Argentina cultiva o hábito de carregar dinheiro vivo até o Uruguai e depositá-lo nos bancos do país vizinho, que aceitam contas em dólares e são vistos como mais confiáveis.
Pesa nisso a legislação uruguaia de proteção ao sigilo bancário, que o deixa na incômoda lista cinza de paraísos fiscais da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), apesar de mudanças na lei desde janeiro.
Antes de avançar em negociações para a aquisição de um banco local, o BB decidiu que essa era a melhor alternativa para entrar no Uruguai, principalmente devido à pesada legislação trabalhista do país. O Patagônia em Punta del Este tem uma estrutura muito reduzida e pode crescer sem a herança de passivos com trabalhadores, algo que poderia atrapalhar a vida do BB em caso de compra de uma entidade financeira maior.
O próprio BB viveu na pele o peso das cláusulas trabalhistas uruguaias. Em 2001, em meio a um plano de redução de custos, o banco fechou sua agência em Montevidéu, com 42 funcionários, que era deficitária e cujo custo com mão de obra era o mais alto na América do Sul.
Somente em 2007, por insistência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o BB voltou a operar em Montevidéu. Depois de anos de disputa na justiça local, onde os sindicalistas uruguaios cobravam indenizações pela demissão dos funcionários, chegou-se a um acordo para fazer o pagamento e encerrar os processos judiciais.
Essa experiência ainda está fresca na memória do BB e joga a favor da transformação da filial do Patagônia em base para o crescimento do banco no Uruguai. De qualquer forma, ainda não é uma decisão tomada. A palavra final será dada somente nos próximos meses.