Os sindicatos precisam se apropriar do debate sobre a inclusão das pessoas com deficiência, trazer estes bancários para o movimento sindical e mobilizar a categoria para exigir dos bancos um programa efeitvo sobre a questão. Essa foi uma das conclusões do Encontro Nacional de Bancárias e Bancários com Deficiência, realizado nesta quarta-feira, dia 16, na sede da Contraf-CUT.
“Foi um encontro de grande importância, realizamos um debate intenso sobre o tema”, afirma Deise Recoaro, secretária de Políticas Sociais da Contraf-CUT. “Esperamos que a discussão repercuta nos sindicatos e federações para que possamos cada vez mais trazer esses trabalhadores para dentro do movimento sindical. Não podemos esperar que o espaço do sindicato seja adaptado para receber essas pessoas. Vamos recebê-las já e discutir com elas as medidas necessárias para essa adaptação, construir juntos”, acrescenta.
Em sua manifestação, o presidente da Contraf-CUT, Carlos Cordeiro, também defendeu a importância de que o tema chegue até a base. “Essa discussão precisa ser levada até os bancários de base, por meio dos sindicatos, para que possamos ter clareza das demandas dos trabalhadores com deficiência”, afirmou. “Além disso, acreditamos que os dirigentes devam se especializar para que possamos aprofundar o debate sobre o tema”, completou.
Inclusão de verdade
Os trabalhadores fizeram uma avaliação da atuação dos bancos na questão da inclusão, com foco no programa de inclusão de pessoas com deficiência realizado pela Febraban. “Os bancos fazem alarde sobre sua atuação frente ao tema, mas não fazem mais do que cumprir a lei. E mesmo isso só começou após o movimento sindical bancário exigir o cumprimento da lei de cotas em 2006”, afirma Isaías Dias, coordenador do Coletivo Estadual de Pessoa com Deficiência da CUT-SP.
Isaías destaca que o programa da Febraban não foi discutido com os trabalhadores e que apresenta uma série de problemas. Entre eles, o mais grave é a diferenciação que coloca entre os bancários com deficiência e o restante dos trabalhadores.
“As pessoas com deficiência trabalham apenas 4 horas por dia e recebem salários menores do que o restante da categoria. Na prática, essas pessoas são tratadas como bancários de segunda categoria. Isso pode gerar preconceitos entre os trabalhadores, o que vai contra a própria intenção da inclusão”, afirma.
“Queremos que as empresas debatam o programa conosco, o que nunca foi feito, para que possamos encontrar formas de melhorá-lo e de garantir uma efetiva inclusão das pessoas com deficiência nos bancos”, sustenta.
Grande participação
O evento recebeu mais de 50 trabalhadores de todo o país, entre dirigentes sindicais e bancários de base. Uma delas foi a bancária Karen Nishimura, que trabalha no setor de Recurso Humanos do Santander. Formada em economia e deficiente física, Karen conta que sua monografia de conclusão da graduação foi dedicada à inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho brasileiro.
“Procuro todas as chances para ter mais informações sobre a inclusão e não tinha dados específicos sobre o setor bancário. O evento foi bastante positivo nesse sentido”, afirma.
Outro participante foi Pedro Loss, funcionário do BB, diretor do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e deficiente auditivo. Para ele, o evento foi bastante produtivo e mostrou a importância da organização dos trabalhadores do ramo financeiro com deficiência para que possam fazer valer seus direitos.
“Os sindicatos e federações precisam cobrar dos bancos que sigam a legislação brasileira a respeito do tema. Essa demanda, legítima, não é apenas das pessoas com deficiência, mas de toda a sociedade brasileira”, afirma.
O funcionário do Santander e secretário de Imprensa da Federação dos Bancários do Rio de Janeiro e Espírito Santo, Paulo de Tarso, comemorou o grande número de participantes do evento. “Isso vai refletir em ações para garantir a acessibilidade e outras questões nos próprios sindicatos, para que possamos cobrar dos bancos, que sempre tentam colocar uma espécie de cortina de fumaça sobre o tema”, afirma. “O encontro certamente é um passo grande para chegar a ações que atinjam a base”, acrescenta.
Encontro Nacional
Nos dias 21 e 22 acontece o Encontro Nacional do Coletivo de Trabalhadores/as com Deficiência da CUT. O dia 21 é o Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência e a data será marcada por um ato público nacional que acontece em São Bernardo do Campo. Durante a manifestação está prevista a assinatura, por várias entidades, do protocolo de adesão à Campanha da Acessibilidade “Siga essa idéia”.
No dia seguinte, haverá o encontro propriamente dito, onde serão reunidas as propostas de emendas e acréscimos ao texto enviado às estaduais e ramos para apreciação em seus eventos regionais.