A retomada do Complexo do Alemão pelas forças de segurança pública no Rio de Janeiro está sendo comemorada pelos cariocas como uma derrota importante imposta ao tráfico de drogas. Mas as consequências desta vitória não são somente positivas, já que o desmonte do quartel-general do crime no Estado provocou um enorme prejuízo para os criminosos e muitos bandidos estão foragidos.
E não é só na capital que estas medidas precisam ser tomadas. Quando a repressão ao crime se intensifica no Grande Rio, é comum o interior sofrer as consequências, já que muitos criminosos fogem para cidades menores e, em alguns casos, passam até a operar e comandar suas ações deste esconderijo. Sempre que isso acontece, o índice de criminalidade nesses municípios sobe muito e requer ações específicas do poder público.
Diante desta situação, é preciso que os bancos dêem mais atenção às medidas de segurança para evitar que bancários, vigilantes e clientes fiquem vulneráveis. Assaltos e sequestros de bancários tendem a aumentar neste período, bem como as saidinhas de banco.
Os dispositivos e procedimentos reivindicados por dirigentes dos bancários e dos vigilantes tornam mais difícil a ação de bandidos e, com isso, podem coibir os crimes. A colaboração entre a Contraf/CUT e a CNTV – Confederação Nacional dos Trabalhadores Vigilantes levou à elaboração de um projeto de lei que já está no Congresso Nacional, protocolado pelo deputado Paulo Pimenta (PT-RS) no dia 6 de julho deste ano, sob o número 7592/2010.
A proposta abrange não só os bancos, mas qualquer instituição que realize operações bancárias e também as empresas de segurança. Os correspondentes bancários e assemelhados – como banco postal, casas lotéricas e financeiras – não ficaram de fora. Isto é inédito, já que estas instituições não têm que cumprir a atual legislação que impõe o uso de dispositivos de segurança aos bancos.
Os bancários e vigilantes reivindicam que é preciso garantir a presença e vigilantes em número suficiente durante todo o expediente bancário; que somente empresas especializadas guardem as chaves das agências e façam transporte de numerário; que as portas giratórias das unidadades sejam instaladas antes do autoatendimento, com detector de metais e trava funcionando corretamente; que os sistemas de alarme estejam sempre em perfeitas condições, ligado a uma empresa especializada, à matriz do banco ou a uma unidade policial; que as câmeras de vigilância monitorem, gravem e armazenem externamente as imagem da movimentação em todas as dependências das agências; que o atendimento seja agilizado, com a contratação de mais bancários, para evitar que os “olheiros” das quadrilhas de saidinhas se misturem aos clientes e permaneçam muito tempo nas agências; e que sejam instalados dispositivos de barreira visual que garantam a privacidade dos clientes no momento do saque, tanto nos guichês quanto nos caixas eletrônicos.
O bancário que se cuide
Diante da onda de violência que aconteceu na cidade, o presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, Almir Aguiar, enviou carta à Fenaban, solicitando que os bancos liberassem seus funcionários mais cedo nos dias que antecederam a tomada do conjunto de favelas do Alemão. Essa medida era emergencial, enquanto carros e ônibus eram incendiados e aconteciam arrastões quase diários.
Já os bancos transferem para os empregados a responsabilidade de se proteger, principalmente após a tomada do Complexo do Alemão, sobretudo por se tratar do final do ano, época em que normalmente o número de assaltos a banco – e também as saidinhas – costuma aumentar.
Assim fez o Santander, que enviou aos gestores da rede um comunicado em que orienta que os bancários tomem certos cuidados neste período. O banco recomenda, entre outras coisas, alerta máximo na realização de tarefas rotineiras, como abastecimento de caixas eletrônicos e acesso dos prestadores de serviço às dependências das unidades. O texto diz até que os empregados devem “alertar familiares com relação a suas residências, roubo de veículos, pequenos furtos, assaltos e extorsões telefônicas”.
“Há poucos meses houve diminuição do número de vigilantes em várias agências. Em algumas unidades, no horário de almoço de um dos vigilantes, só um guarda fica de serviço, porque não há um vigilante contratado para render os colegas. Enquanto um almoça, o outro não pode nem ir ao banheiro, para não deixar a agência totalmente desguarnecida. Há também casos de agências e PABs onde só há um vigilante”, afirma Luiza Mendes, diretora da Federação dos Bancários do RJ-ES.
“Agora o banco quer que o próprio funcionário tome cuidados com segurança, mas não toma nenhuma medida para que os locais de trabalho fiquem mais seguros e adequados à atual situação”, aponta a dirigente sindical.