A mulher e sua representação na mídia foi o tema central do debate promovido pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo e pela Rede de Mulheres UNI Brasil, como parte da programação do 25 de novembro, Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher. O encontro, que reuniu dirigentes sindicais e militantes de movimentos feministas, aconteceu na quinta-feira, dia 24, na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).
“A violência contra a mulher também deve ser combatida no plano simbólico e isso deve acontecer principalmente em duas frentes: nas escolas e nos meios de comunicação”, disse a palestrante convidada Rachel Moreno, psicóloga e coordenadora geral do Observatório da Mulher.
Rachel criticou a forma estereotipada com que a mídia representa a mulher e a banalização que ela faz da violência contra o gênero. “Os veículos espetacularizam a violência. Precisamos de espaços onde possamos discutir essa cultura da violência que é naturalizada nas escolas, nos filmes, nos desenhos animados, nos videogames, na mídia.”
A psicóloga pesquisou a legislação de 10 países onde há leis que regulamentam a forma como a mídia retrata a mulher. “Em Barcelona (Espanha), por exemplo, a mídia tem de tratar a violência como um ataque à dignidade da mulher, e deve seguir uma série de regras como evitar o sensacionalismo, contextualizar as informações, corrigir qualquer informação errada que se tenha divulgado sobre o fato, e entrevistar sempre um especialista para mostrar caminhos para a denúncia. Essas medidas diminuíram muito a violência”, contou.
Ela citou também a Argentina. “Eles têm uma lei que define vários tipos de violência contra a mulher, entre elas a simbólica, a física, a sexual e a psicológica, e estabelece regras proibindo que a mídia transmita e reproduza a ideia estereotipada da mulher. A aplicação da lei é supervisionada pelo conselho de mulheres com a participação da sociedade civil.”
E todas as leis pesquisadas, acrescentou, são de países democráticos, onde se defende a liberdade de imprensa. “Aqui não se pode criticar uma publicidade como a da Hope – estrelada por Gisele Bündchen -, que todo mundo fala em cerceamento da liberdade de expressão. E o que é pior: o Brasil é campeão mundial em violência contra a mulher”, ressaltou Rachel.
Legislação
Pouco antes do debate, o deputado estadual e ex-presidente do Sindicato, Luiz Cláudio Marcolino (PT), falou sobre a importância de se criar leis que combatam o problema. “As mulheres no Brasil sempre foram discriminadas, seja em relação a salário, seja no espaço político. Mas além da discriminação, ainda lidamos com o problema da violência contra a mulher. É preciso combater isso em todos os espaços, e transformar essa luta em ações concretas. Estamos comprometidos em pensar leis no plano estadual e moções para o âmbito federal que combatam o problema.”
A diretora do Sindicato Neiva Ribeiro deu um exemplo: “Estamos pensando em um projeto de lei que torne obrigatória a exigência de conhecimentos sobre a Lei Maria da Penha em todos os concursos públicos. Seria uma forma de difundir um dos mecanismos de denúncia e combate à violência”.
Teatro
O evento na Alesp contou também com a apresentação da peça teatral Acorda Raimundo, encenada pelos diretores do Sindicato Marcos Antônio do Amaral, o Marquinho, e Tânia Balbino. Trata-se de uma fábula sobre como seria a inversão dos papéis de gênero na sociedade.
Ato
O Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher será marcado, em São Paulo, com uma manifestação na Praça do Patriarca, no Centro, a partir das 16h30. O ato será promovido pela CUT em parceria com a Marcha Mundial de Mulheres.