A partir desta terça-feira, dia 6, às 20h, durante todo o mês de janeiro, o Observatório da Imprensa relembra o período mais sombrio da história do país – a ditadura militar – pela ótica da mídia: uma das protagonistas do golpe, logo convertida em vítima do regime de exceção.
Apresentado pelo jornalista Alberto Dines, o programa da TV Brasil entrevistou 35 personagens, entre jornalistas, historiadores, ex-guerrilheiros e famílias de vítimas da ditadura.
Em quatro episódios, a série especial Chumbo Quente revela porque grande parte da imprensa, apavorada com a guinada à esquerda do país, conspirou para a queda do presidente João Goulart e apoiou a tomada do poder pelos militares. A atração jornalística examina as reações dos veículos de comunicação à quartelada e a mudança de posição de algumas publicações logo após o golpe.
“A série Chumbo Quente embute dentro dela a proposta de história continuada, história viva, principalmente porque a imprensa, cujo papel desgraçadamente foi tão relevante para o golpe e a ditadura militar que a ele se seguiu, também é um organismo vivo e como tal precisa ser permanentemente observado”, explica o experiente Alberto Dines.
Durante os programas, que serão exibidos sempre às terças-feiras neste mês de janeiro, o apresentador discute o tema com personalidades como a escritora Ana Arruda Callado, os jornalistas Carlos Heitor Cony, Fernando Gabeira, Hildegard Angel, Mário Magalhães, Milton Temer e Sérgio Cabral, além dos historiadores Alzira Abreu, Carlos Fico, Daniel Aarão Reis e James Green.
O jornalista Carlos Heitor Cony recorda o agravamento da situação a partir de 1968. “O AI5 realmente matou a esperança de muitas pessoas. Lembro que muita gente mudou de ideia por causa do AI5. Aí foi que veio a escalada da tortura”, analisa o também escritor.
Já Mário Magalhães é ainda mais enfático. “A imprensa brasileira divulgou não só acriticamente a palavra da ditadura. A imprensa chancelou as iniciativas da ditadura”, afirma o jornalista.
No quarto programa da série, gravado em estúdio, que vai ao ar no dia 27 de janeiro, Alberto Dines recebe o também jornalista Chico Otávio e o historiador Carlos Fico para refletir sobre as consequências dos 21 anos de ditadura militar no país. O trio discute assuntos como a lei da anistia, a redemocratização e o recente trabalho da Comissão Nacional da Verdade.
Censura e resistência
A proposta da série é também resgatar o impacto do AI-5 e mostrar como os jornalistas driblaram a censura. Com a mídia convencional amordaçada, nasceram os jornais alternativos, bravos adversários da ditadura militar.
As mortes de Carlos Marighella, Frei Tito, Carlos Lamarca, Vladimir Herzog, Stuart e Zuzu Angel e do embaixador José Jobim também são recuperadas, além de casos emblemáticos como o atentado do Riocentro e a guerrilha do Araguaia.
O programa da emissora pública ainda destaca uma das mais eficientes táticas da esquerda nos anos de chumbo: o sequestro de embaixadores. Além de trocar os diplomatas por presos políticos, a resistência exigia a publicação de manifestos nos grandes jornais e a garantia a visibilidade perdida com a censura.
Primeiro programa
Na estreia da série Chumbo Quente, o jornalístico apresentado por Alberto Dines analisa em que a imprensa errou no período do Golpe Militar. Ao costurar entrevistas com imagens de arquivo, o Observatório da Imprensa traça um panorama sobre os motivos que levaram à ditadura no Brasil e a influência dos veículos de comunicação nesse momento histórico.
Poeta e imortal da Academia Brasileira de Letras, Ferreira Gullar é taxativo ao lembrar os nos de chumbo. “Tem que apurar o que aconteceu e fazer parte da história do Brasil para as gerações que vêm aí a verdade desse regime abominável”, opina o renomado escritor.
O programa mostra que a imprensa não levou em conta a crise política e se submeteu a um cronograma militar sem dar chance para recuos, ajustes e negociações. Mesmo com o avanço da violência e a concretização do novo regime, a imprensa não se uniu. O mínimo de solidariedade corporativa poderia ter abortado o ímpeto da linha dura comandada por Costa e Silva, mas com hipóteses, não se faz história, nem se evitam tragédias.
Participam do episódio inicial da série sobre os 50 anos do regime militar realizada pelo Observatório da Imprensa os historiadores Alzira Abreu, Carlos Fico e Daniel Aarão Reis, os escritores Marco Antônio Coelho e Moniz Bandeira, a professora de Ciência Política Maria Celina d’Araújo, além dos jornalistas Ana Arruca Callado, Carlos Chagas, Carlos Heitor Cony, Ferreira Gullar, Fuad Atala, Gilles Lapouge, Hélio Fernandes, José Maria Mayrink, Milton Coelho da Graça, Milton Temer, Pinheiro Júnior e Wilson Figueiredo.