Valor Econômico
Alex Ribeiro, de Brasília
Os grandes bancos usaram pouco mais de um terço do dinheiro dos depósitos compulsórios liberado para a compra de carteiras de crédito de instituições financeiras pequenas e médias, mostram dados oficiais fornecidos pelo Banco Central. Balanço feito ontem apontava um total de R$ 10,208 bilhões aplicados na compra de carteiras, frente um total de R$ 29,5 bilhões em compulsórios liberados para a autoridade monetária para este fim. Amanhã entra em vigor a regra baixada pelo BC que pune com corte de remuneração os bancos que não usarem os compulsórios para adquirir carteiras de pequenos e médios.
Até anteontem, já haviam sido efetivamente liberados R$ 5,778 bilhões dos compulsórios sobre depósitos a prazo para a compra de carteiras e outros ativos. Segundo informações do BC, ontem estavam sendo processado mais um total de R$ 4,430 bilhões dessas operações que, em breve, vão sensibilizar os compulsórios. No total, portanto, os bancos investiram R$ 10,208 bilhões da compra de carteiras de crédito.
Assim, na melhor hipóteses, os grandes bancos serão obrigados a recolher ao BC R$ 19,292 bilhões em compulsórios não remunerados. No ajuste a ser feito amanhã, a perda de remuneração tende a ser ainda maior, pois o cálculo da punição toma como base as carteiras que haviam sido compradas entre os dias 3 e 7 de novembro. A penalidade representa perda anual de receita estimada em R$ 2,652 bilhões para os grandes bancos, considerando a taxa Selic atual, de 13,75% ao ano.
Os números sobre a compra de carteiras tabulados pelo BC diferem dos dados apresentados anteriormente pelos bancos porque, nas contas na autoridade monetária, entram apenas as carteiras compradas com recursos dos compulsórios, dentro de regras bem delimitadas, que definem, por exemplo, percentuais máximos para cada operação e porte máximo dos bancos vendedores.
Balanço divulgado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) na semana passada registrava a compra de R$ 6 bilhões em carteiras por bancos privados. O BB havia anunciado a compra de R$ 5,3 bilhões, e a Caixa, de R$ 2 bilhões. Além dos recursos dos compulsórios, os bancos usaram dinheiro do próprio caixa para aquisição desses ativos.
A autoridade monetária liberou compulsórios para a compra de carteiras e outros ativos, como títulos privados, para reforçar o caixa das instituições financeiras pequenas e médias que, por causa da crise financeira internacional, estão sofrendo problemas de falta de liquidez. Insatisfeito com a resposta dos grandes bancos aos incentivos, o BC resolveu puni-los com o corte da remuneração de compulsórios. Balanço do BC, com dados de ontem, mostra que, além desses R$ 10,208 bilhões, os bancos pequenos e médios foram beneficiados com a liberação direta de R$ 21 bilhões em depósitos compulsórios, como a que aconteceu com o aumento da faixa de isenção nas exigências incidentes sobre o depósito a prazo e sobre o recolhimento adicional sobre depósitos a vista e a prazo.
No total, os bancos pequenos e médios receberam uma injeção de R$ 31 bilhões com essas liberações. O BC autorizou, também, o uso de R$ 6 bilhões dos compulsórios sobre depósitos a vista para o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) comprar carteiras dos pequenos e médios. Assim, mais da metade dos R$ 56 bilhões em compulsórios até agora liberados pelo BC foram para os bancos pequenos e médios. Em setembro, o recolhimento dos depósitos compulsórios pelo sistema somava R$ 272,015 bilhões e, no dado mais recente, referente a 7 de novembro, havia caído para R$ 215,947 bilhões.
A política do BC tem sido fazer a liberação dirigida dos depósitos compulsórios para fornecer liquidez a quem precisa. Ao mesmo tempo em que injetava recursos, o BC agiu para evitar expansão do volume de dinheiro em circulação na economia – o que poderia acelerar a inflação. O recolhimento foi feito principalmente por meio de operações compromissadas. A chamada base monetária, uma das medidas mais importantes do volume de dinheiro em circulação, somou R$ 135,737 bilhões em 7 de novembro, abaixo dos R$ 136,936 bilhões de setembro.