Rede de Comunicação dos Bancários
André Rossi (Seeb-SP)
A atuação do Banco do Brasil no Paraguai tem como linha mestra a exploração, seja dos bancários seja da sociedade daquele país. Além de uma intensa perseguição aos trabalhadores, especialmente os ligados ao movimento sindical, o banco ainda paga mal, não respeita leis federais e também não aplica lá o dinheiro que tira do mercado local. A denúncia foi feita neste sábado, durante a 10ª Conferência Nacional dos Bancários.
Atualmente, segundo o secretário-adjunto do sindicato dos empregados do Banco do Brasil, Osmar Marecos, o que interessa na hora da contratação de novos empregados não é experiência, currículo ou capacidade profissional. Os novos funcionários têm que, impreterivelmente, estar afastados do movimento sindical e também assumir contratualmente que não irão se aproximar de representações profissionais sob o risco de serem demitidos.
Importante ressaltar que os trabalhadores paraguaios do BB não gozam dos direitos dos colegas brasileiros servidores federais. Além disso, a organização sindical lá é por bancos.
Esta verdadeira fobia ao movimento sindical teve início em janeiro de 2006, quando o conselho diretor do banco resolveu fechar uma das duas agências no país, a de Ciudad del Este – a outra fica na capital Assunção. Mobilizados e apoiados pelo movimento sindical brasileiro, os 36 funcionários que tinham seus empregos sob risco conseguiram reverter a situação. “Foi a primeira vez que o Conselho Diretor teve que recuar em uma decisão”, diz Marecos.
Apesar da vitória, o banco contra-atacou trocando os três manda-chuvas da agência e, a partir daí, o processo de seleção tomou as características atuais. Hoje, dos cerca de 100 funcionários paraguaios do BB, 30 se enquadram nas novas determinações.
Vigilância – A cruzada anti-sindical não poupou aqueles que já trabalhavam no banco e são ligados a representações trabalhistas. “O mais grave, na minha opinião, é que eu trabalho com uma câmera sobre a minha cabeça tão focada em mim que não dá nem para eles dizerem que é por segurança. É um verdadeiro Big Brother do Banco do Brasil”, diz Diego Hermosa, secretário-geral do sindicato. “O gerente tem uma tela enorme na sala dele só para me acompanhar”, completa. Vale ressaltar, na hierarquia da representação, o posto mais alto é do secretário-geral (Hermosa) seguido pelo secretário-adjunto (Marecos).
Outra ação da empresa é evitar um contato mais prolongado dos funcionários em seus departamentos, a fim de dificultar a mobilização. “Para isso, ficam nos transferindo constantemente, sem nos dar nem tempo para aprender direito as funções”, diz Hermosa.
Miséria – Como se a perseguição fosse pouco, o banco ainda paga mal os trabalhadores. O salário médio lá é de US$ 800, algo em torno de R$ 1,3 mil e já há dois anos sem reajuste. Em um passado recente, os trabalhadores ficaram oito anos ganhando exatamente a mesma quantia.
“Na ocasião, o banco disse que estava mal e que teríamos que fazer um sacrifício para que ele não fechasse. Aceitamos e, agora que as coisas melhoraram, eles ‘esqueceram'”, explica Hermosa, que revela ainda que as negociações para um novo contrato coletivo para os funcionários do BB estão paradas pela tradicional intransigência dos patrões. “Eles não avançam em nada.”
Fora da lei – Por conta do impasse, o contrato está há dois anos vencido. Pelas leis paraguaias, o contrato vencido permanece vigente até que se assine o novo. Mas o banco simplesmente ignora a legislação, demitindo, por exemplo, dirigentes sindicais que têm estabilidade prevista. A prática do banco já gerou, inclusive, uma representação na justiça feita pelo ministério do trabalho local.
A falta de respeito com as leis paraguaias estende-se também à sociedade. O banco praticamente não aplicada nada no país do que retira, preferindo investir quase 100% do total na Europa. “Eles não fazem o trabalho de fomentador do desenvolvimento no Paraguai”, critica Hermosa.