Bancos também pagavam propina, afirma delator do caso ISS de São Paulo

Folha de São Paulo
Rogério Pagnan e José Ernesto Credencio

O auditor fiscal Luis Alexandre de Magalhães, delator da máfia do ISS, disse em depoimento à Promotoria que empresas de estacionamento, segurança privada e bancos também pagavam propina ao chefe da quadrilha.

Segundo ele, além do esquema do grupo com construtoras, outros setores tinham acertos paralelos para a redução do imposto devido aos cofres municipais.

O delator declarou que isso envolvia outros fiscais, que abasteciam Ronilson Bezerra Rodrigues, subsecretário da Receita da gestão Gilberto Kassab (PSD).

Em seu depoimento, Magalhães não citou nomes de supostos corruptores nem deu detalhes do esquema.

Mas disse que, com todos os “tentáculos” de atuação, Ronilson chegou a ganhar R$ 6 milhões em uma semana. O “filé-mignon”, segundo ele, eram os recursos arrecadados do setor bancário.

O promotor Roberto Bodini diz que Magalhães não explicou quanto tempo essa arrecadação milionária durou.

A Folha apurou que a Controladoria-Geral do Município investiga auditores de outras áreas além do setor de quitação do ISS para liberação do Habite-se de empreendimentos imobiliários.

Parte deles está numa relação de dez nomes citados por Magalhães anteontem como “corretores” da máfia do ISS (que levavam clientes para a quadrilha).

Nem a Promotoria nem a Controladoria citam os nomes dos auditores para não atrapalhar as investigações.

Um dos setores em que as apurações estão avançadas é na área de estacionamento. O envolvimento de Ronilson com esse segmento foi uma das primeiras denúncias a chegar à prefeitura ainda no ano passado.

Ontem, Promotoria abriu um cofre apreendido em um dos apartamentos de Ronilson na operação em que ele foi preso, em 30 de outubro.

Dentro dele, foram encontrados R$ 72,7 mil. O cofre só foi aberto ontem porque deveria ser feito na presença de um defensor do auditor.

Os promotores já tinham encontrado anteriormente R$ 88 mil em um cofre apreendido no escritório da quadrilha, na região central.

‘ABSURDO’

O advogado de Ronilson, Marcio Sayeg, diz que não teve acesso ao novo depoimento e, por isso, não tinha conversado com seu cliente.

Disse, porém, que a acusação é falsa e que é um “absurdo” Magalhães falar em R$ 6 milhões semanais. “Quanto daria isso desde 2007? Só ele arrecadava imposto? A prefeitura não?”

As informações foram repassadas pelo delator ao detalhar uma planilha encontrada em um de seus computadores apreendidos – na qual são listados 410 supostas transações de propina.

Magalhães tem um acordo de delação premiada com a Promotoria (para ajudar em troca de redução de pena).

A Folha procurou ontem entidades dos setores mencionados pelo auditor – Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Sindepark (sindicato de estacionamentos) e SESVESP (das empresas de segurança), que não se manifestaram.

(Colaborou BRUNO BENEVIDES)

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