Toni Sciarretta
Folha de S.Paulo
Pressionados pelo governo Dilma, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal vão reduzir os preços dos pacotes de serviços e de algumas das principais tarifas que estavam com valores em linha com os da concorrência.
O Banco do Brasil anunciou na segunda-feira (8) o corte, e a Caixa deve confirmar a redução até o final desta semana.
A iniciativa promete ser a nova ofensiva dos bancos públicos na disputa com as instituições privadas após a diminuição das taxas de juros.
Esperado desde a semana passada, o corte nas tarifas do Banco do Brasil foi considerado tímido pelo mercado. A principal mexida foi o fim da cobrança pela abertura de novo cadastro, coisa que o Santander já fazia para ganhar novos clientes.
A maioria das tarifas consideradas básicas teve corte entre 20% e 24%, sendo que a maior redução foi de 38%, para emissão da segunda via de cartão de crédito.
Serviços como transferência por DOC ou TED tiveram redução de apenas 7,5% – de R$ 8,00 para R$ 7,40. A nova tabela vale a partir do dia 15.
“Optamos por reduzir as tarifas de maior impacto para o cliente. Não estamos fazendo nenhum corte maluco, mas ficamos com os preços mais baixos do mercado”, disse Alexandre Abreu, diretor de Varejo do BB.
“É muito pequeno esse corte de tarifas. Mas pegou mal a ingerência política no BB. A pergunta é: podem vir mais coisas pela frente?”, disse João Augusto Salles, analista da Lopes Filho.
Segundo Abreu, a iniciativa do BB deve rebater as críticas daqueles que diziam que o banco reduziu os juros, mas que elevou as tarifas para compensar. “Esse discurso não pega mais”, disse.
DISPUTA ACIRRADA
A Caixa promete fazer cortes mais agressivos nas tarifas, sendo que as maiores reduções serão naquelas endereçadas a novos clientes, como aqueles que têm conta-salário ou fazem portabilidade.
“Estamos em um mercado de extrema concorrência. A redução que teremos é apoiada nos ganhos de custos, no aumento da produtividade e na eficiência que tivemos”, disse Marcio Percival, vice-presidente da Caixa.
Após a redução dos ganhos com juros, os bancos passaram a buscar novas fontes de receita, como as comissões pela venda de produtos (seguro, previdência, fundos etc.) e serviços financeiros (cadastro, análise de crédito, emissão de documentos etc.).
Diferentemente do que acontecia com as taxas de juros, as tarifas são bastante alinhadas entre os bancos e monitoradas pelo BC.
Desde abril de 2008, os bancos só podem elevar tarifas a cada seis meses e após comunicar os clientes com um mês de antecedência.
À época, o BC também padronizou os nomes dos principais serviços e criou pacotes básicos de serviços isentos. Para reduzir uma tarifa, o banco pode fazer a alteração sem qualquer aviso.
Os bancos sempre tiveram como objetivo cobrir, por meio da receita de tarifas, os gastos com o pagamento dos funcionários.
De acordo com Salles, da Lopes Filho, a maioria das instituições, incluindo o BB, consegue pagar os funcionários com folga utilizando a receita de serviços. “Com a redução de tarifas, talvez o Banco do Brasil não tenha mais essa folga ou fique com um pouco menos.”
Com a confirmação do corte de tarifas, as ações do BB caíram 2,98% ontem.
Procurado, o Bradesco preferiu não dizer se vai reduzir as tarifas. O Itaú afirmou que, quanto maior o relacionamento do cliente, menor o valor dos pacotes, e que criou uma conta 100% eletrônica isenta de mensalidade.
Já o Santander disse que oferece um pacote competitivo. “Estamos analisando todos os movimentos de mercado, de forma a garantir para os clientes o melhor conjunto de oferta e preço.”