Em lamentável entrevista publicada no Correio Brasiliense de domingo 13, o presidente interino do banco, Francisco Flávio, confunde a opinião pública e lança várias inverdades, inconsistências parciais ou totais a respeito da situação desse patrimônio do povo e instrumento estratégico de governo que é o BRB. Mas deixa claro aquilo que o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), tem alardeado, contradizendo frontalmente seu discurso falado e escrito de campanha eleitoral, sobre a determinação de vender o banco.
A novidade é o tom claramente preferencial para a privatização, ou seja, a entrega do Banco de Brasília a grandes banqueiros privados, embalada com o empenho declarado do presidente interino em ‘garantir’ a estabilidade no emprego por um ano. Só falta pedir para os funcionários agradecerem, não fosse tamanha a arrogância e o mal disfarçado preconceito contra a empresa pública.
Em primeiro lugar, cabe ressaltar que Francisco Flávio é interino, ou seja, nem sequer responde oficial e plenamente pelo banco, uma vez que ainda será sabatinado pela Câmara Legislativa, requisito formal para sua investidura no cargo. Nessa condição, é de se estranhar que nem o próprio interino, nem a reportagem mencionem o fato. Além da precocidade e inabilidade para um dirigente que tivesse compromisso com o futuro do banco público, estranhamos também a dimensão e o conteúdo da matéria, duas páginas no domingo, com manchete bombástica, o que permite desconfiar dos interesses que conduzem tamanha exposição do assunto.
As distorções e contradições são patentes, e preocupam por evidenciar que não houve boa fé em expor o quadro real do banco.
O governador tem reiterado de público que agora o banco teria passado, com diferencial significativo, a doador de recursos para o Governo do Distrito Federal (GDF). O interino diz que o banco demandará aporte governamental, sem apresentar qualquer base de evidência, além de uma numerologia retirada talvez do mesmo saco de maldades usado na privataria da era Fernando Henrique Cardoso. Momento de tenebrosas transações em que as empresas públicas (incluída a maioria dos bancos estaduais), depois de desmoralizadas, saqueadas e com ativos recompostos com dinheiro público eram ofertadas ao mercado a preços, digamos, generosamente subavaliados.
Mas o interino não só desmerece a palavra do governador, mas se auto-contradiz. Pois na mesma entrevista alega que o BRB é forte, vem dando lucros crescentes, tem marca consolidada e capacidade operacional. Aliás, Francisco Flávio manda um recado aos servidores, dizendo que agora há um ‘corpo diretivo’. Não diz que nem ele mesmo está confirmado no cargo, a não ser que julgue não ter de prestar contas à Câmara e à sociedade. Também não aponta que nem mesmo a diretoria, depois de quinze meses de governo eleito, está completa, afora o fato de que não houve presidência que não fosse interina ou efêmera, por motivo de prisão do único titular oficializado.
Mesmo assim, o atual interino se vangloria de que teria varrido para fora os desmandos de dirigentes anteriores, estando o banco agora sob uma administração séria. Resta saber, a ser verdade, para que servirá essa seriedade, para privatizar o banco que agora está bem administrado e cada vez mais lucrativo?
Francisco Flávio não escondeu sua defesa apaixonada da ‘filosofia do capitalismo’, selvagem, díriamos, posto que banco tem que dar lucro pelo lucro, e qualquer coisa afora isso, como desenvolvimento e prestação de serviços públicos e governamentais, seriam anti-filosóficos, e irracionais, por certo.
Chegou até a afirmar que o Banco do Brasil, uma das opções de destino do BRB que o governador divulgou e está em negociação oficial, poderia participar de leilão privatista, o que não é verdade.
Deixou a entender também que tem pressa em decidir, tendo a empresa contratada para precificar o banco prazo até fevereiro, quando nem mesmo o edital para sua contratação foi efetivamente cumprido.
Além disso, na sua ‘opinião’, os bancos públicos provaram-se inviáveis, o que, dito assim, sem mais, revela puro preconceito, ou, seria mais honesto, a verdadeira face ideológica desse homem tão preparado, bem como do seu mentor, o governador Arruda, que continua num discurso ambíguo acerca do futuro do banco do povo do DF.
Essas atitudes revelam falta de transparência e desrespeito para com a sociedade, a clientela, usuários, funcionários que dedicam trabalho honrado para construir essa empresa no dia-a-dia, e para com toda a população em geral.
O Sindicato repudia veementemente essa iniciativa temerária da parte de um gestor que se proclama tão competente, chegando à ironia de conclamar os funcionários a ajudarem, talvez a optar por demissão imediata ou a barganha de um ano de estabilidade no emprego.
Como já vimos realizando numa série de ações na Campanha em Defesa do BRB, de seus Funcionários e Contra a Privatização, é um momento de aumentar a atenção e a ação. Nesse sentido, ao lado de todo tipo de medidas, incluídas as judiciais, o Sindicato fará todos os esforços para que seja devidamente reparada e esclarecida a maliciosa intenção tão imprudentemente veiculada na malfadada entrevista.
Na extensão da formação da Frente Parlamentar de Defesa do BRB Público, de seus funcionários e contra a privatização, que, como se sabe, contou com as assinaturas de todos os parlamentares locais, cobraremos que a sabatina de Francisco Flávio seja o mais breve possível. E que seja absolutamente rigorosa em verificar se ele tem mesmo estatura para conduzir o BRB, bem como, para que rumos, e ainda se tem capacidade para exercer o cargo com espírito de servidor público qualificado para o debate honesto e verdadeiramente democrático.