Quem sustenta a mídia golpista é o governo do PT

Por Renato Rovai

Enquanto a Executiva do PT lança uma nota hoje onde “convoca a militância, os detentores de mandatos e instâncias partidárias a enfrentar a mais nova ofensiva da direita, articulada com setores da mídia, contra o PT e o governo Lula”. E aonde ainda afirma que “a grande mídia privada é, ao mesmo tempo, instrumento e Estado-Maior desta campanha.”. O governo do PT faz exatamente o que todos os outros governos anteriores fizeram nas comunicações. Coloca a quase totalidade das verbas publicitárias nas mãos do grandes grupos econômicos. Ou como insinua a nota do PT, na mão dos grupos que articulam golpes sucessivos contra o governo e o PT.

É irônica a coisa, mas é assim. E não estou aqui falando em nome da Fórum. Quem me conhece sabe que quando participo de encontros, fóruns etc., sempre falo no plural. Digo que é necessário ter instrumentos republicanos para ampliar a democratização na mídia. E se o governo ainda tem dúvida de como pode contribuir para fazer isso, vamos lá, vou tratar de novo do tema. E se quiserem ainda me disponho a dar palestras pros burocratas que só sabem dizer “precisamos fazer uma análise técnica”. Sei, entendi, fazem análise técnica e botam 50% das verbas no cofrinho da família Marinho.

Ao que interessa. Apenas cinco ações que virariam a mídia de cabeça para baixo.

1 – Limitar qualquer grupo de comunicação, holding ou qualquer família que atue na área a ter mais de 10% das verbas publicitárias totais do governo federal, seja de empresa pública ou da administração direta.

2 – Ampliar substancialmente a verba para o jornalismo regional, fazendo com que os recursos atinjam sempre ao menos os dois maiores veículos de cada localidade a ser atingida. Isso acabaria com a publicidade apenas no líder regional, que é o que quase sempre acontece em campanhas federais. E mata a concorrência e concentra a mídia.

3 – Não permitir que em nenhuma campanha com verbas publicitárias públicas um único segmento receba mais de 1/3 dos recursos. Ele precisa ser distribuído entre TVs, rádios, revistas, jornais, sites, outdoors etc., sem estar completamente concentrada. Hoje às TVs ficam com 60% das verbas governamentais.

4 – Criar um percentual obrigatório para que todos os anunciantes do governo destinem, por exemplo, 10% dos seus orçamentos para veículos de caráter predominantemente educativo e cultural.

5 – Fortalecer o jornalismo regional, garantindo que 50% das verbas sejam destinadas a veículos com essas características. O cidadão da pequena e média cidade também paga impostos. Esse dinheiro também tem de voltar para ele como investimento em democratização da sua mídia local.

Há mais umas 100 idéias como essa que podem ser aplicadas por um governo que queira de fato mudar algo nas comunicações do país. Mas esse debate não prospera porque sempre há um expert, ou se quiserem uma melhor tradução, um espertinho, para dizer que “isso não pode porque o governo precisa de ações de resultados nas suas campanhas”. E garante com planilhas que os melhores resultados acontecem quando eles jogam tufos de recursos na Globo e na Veja. É mentira. Se essa mídia garantisse os resultados que esses experts afirmam que ela garante, já teriam conseguido derrubar o Lula da presidência. Os milhões de minutos em TV e rádios e a milhares de páginas de revistas e jornais que eles usaram fazendo campanha publicitária para derrubar o governo não foram suficientes. Sabem por quê? Entre outras coisas, porque eles não têm a audiência e nem o público que dizem ter.

Se o PT quer de fato fazer alguma coisa para defender o governo e qualquer projeto de esquerda, deve começar abrindo um debate sério sobre como o governo poderia a começar a fazer isso. SO resto, colegas, é conversar para boi dormir. E disso, plagiando a turma da Oscar Freire, eu cansei.

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