Valor Econômico
Aline Lima
Enquanto boa parte dos bancos de varejo direciona esforços para crescer nas regiões Nordeste e Centro-Oeste, o Banco do Brasil (BB) faz o caminho inverso e tenta expandir a atuação em São Paulo, centro financeiro do país, onde sua presença sempre foi tímida comparada à força exibida pelos concorrentes. Um ano após a incorporação da Nossa Caixa e a realização de investimentos de R$ 816 milhões em expansão e modernização da rede de agências, o BB confere novos contornos à disputa bancária no Estado mais rico do Brasil.
Em número de agências, o BB passou da quarta para a primeira colocação desde julho do ano passado para cá, totalizando 1.424 pontos de atendimento em São Paulo. Grande parte desse crescimento veio com a migração das 566 agências da Nossa Caixa, ocorrida entre março e junho. Foram inauguradas outras 74 novas agências, além de contratados 2 mil funcionários. Itaú, que nesse meio tempo também integrou suas agências com as do Unibanco, vem em segundo lugar, com 1.366 unidades, seguido de Bradesco, com 1.318 agências, e Santander, 1.237.
Somente em São Paulo, o BB deve abrir, em 2011, mais 66 agências – 43 de varejo e 23 dedicadas ao segmento de alta renda “Estilo”. O investimento vai consumir, aproximadamente, R$ 120 milhões. Celso Grise, diretor presidente do instituto de pesquisa Fractal, explica que a “topologia” de rede do BB privilegiou, tanto em São Paulo como no Rio de Janeiro, o atendimento a clientes corporativos. “O BB foi ficando mais competitivo com o passar do tempo e essa distribuição se mostrou inconveniente”, diz. “A aquisição da Nossa Caixa, em grande medida, corrigiu essa deficiência.”
Além de expandir a rede, o banco estatal também vem investindo na modernização dos espaços. O azul e amarelo do banco ganharam tons mais fortes e a decoração ficou mais arrojada. Para aumentar a sensação de privacidade dos clientes, as mesas dos gerentes passaram a contar com divisórias.
Os caixas eletrônicos também mudaram de lugar para integrar o ambiente interno das agências – algo muito semelhante com a transformação em curso nas agências do Itaú Unibanco, que tem na remoção das inconvenientes portas giratórias o ponto mais emblemático.
“A ideia é que o conceito de varejo se aplique, de fato, aos bancos, transformando as agências em verdadeiras lojas”, explica Alexandre Correa Abreu, vice-presidente de varejo e distribuição do BB.
Ao mesmo tempo em que tenta demarcar território em São Paulo expandindo o número de agências, o BB também amplia seu espaço no crédito. A contratação de financiamento por pessoas físicas nas agências oriundas da Nossa Caixa já ultrapassam, inclusive, o desempenho das agências “próprias” do BB.
Ao longo do terceiro trimestre, por exemplo, as agências que eram da Nossa Caixa responderam por 56,2% do volume desembolsado pelo BB no Estado. Na atividade de consórcio, 50% das cotas vendidas em São Paulo de julho até a primeira quinzena de novembro foram realizadas por essas antigas agências da Nossa Caixa.
Para alcançar esses resultados, a estratégia do BB tem sido, basicamente, aprimorar os negócios herdados do banco paulista. Uma das primeiras providências, nesse sentido, foi ampliar o portfólio de produtos oferecido na rede. Até o fim de 2009, a Nossa Caixa oferecia 14 linhas de empréstimos e financiamentos para o segmento de pessoa física e oito para o de pessoa jurídica. Depois da migração, as modalidades de crédito para os clientes de varejo passaram para 36, e para as empresas, 27.
Os limites de crédito disponíveis também foram ampliados. No caso das pessoas físicas, passou de R$ 9,9 bilhões em novembro de 2009 para R$ 10,8 bilhões em setembro de 2010. Nesse mesmo período, o limite para pequenas e médias empresas sofreu um incremento ainda maior – de R$ 4,3 bilhões para R$ 9,8 bilhões. O BB tem cerca de 12 milhões de clientes em São Paulo, 5 milhões originários da Nossa Caixa.
“São Paulo representa, hoje, cerca de 30% do resultado do banco e nosso objetivo é que chegue a 40%”, afirma Corra. Ele lembra que o BB criou uma diretoria específica para São Paulo, comandada pelo diretor Dan Conrado, dada a importância desse mercado para a instituição.
O esforço se justifica também pela necessidade de ajustes a serem feitos. Os cartões de crédito emitidos pela Nossa Caixa, por exemplo, não tinham chip. Em janeiro o BB começou a corrigir essa deficiência e reduziu o número de fraudes eletrônicas em 98%. Em janeiro de 2009, entre 5 mil e 6 mil clientes sofriam, por mês, fraudes no cartão. Com o chip, o índice caiu para a casa da centena.