Em ato qualificado de histórico e difícil pelo secretário geral da Confederação Sindical Internacional (CSI), Guy Ryder, a unidade de duas grandes centrais sindicais do continente, a Central Latinoamericana de Trabalhadores (CLAT) e a Organização Regional Interamericana de Trabalhadores (ORIT) virou realidade com o nascimento nesta quinta-feira (27) da Confederação Sindical das Américas (CSA).
A cidade do Panamá foi o cenário da criação da entidade que congregara 50 milhões de trabalhadores de todos os países do continente americano, e que se integra à CSI.
De acordo com o dirigente da Confederação Sindical das Américas, “o mundo precisa de mudanças e é precisamente no continente americano, mais especificamente na América Latina, que os povos, os governos e os sindicalistas estão na vanguarda, buscando afirmar um projeto alternativo ao neoliberalismo. Hoje, a história nos chama para avançar com unidade e solidariedade, abrindo caminho para a justiça social. Que estejamos à altura deste desafio”.
Na avaliação do presidente da CUT, Artur Henrique, “é significativo o fato da CSA estar sendo fundada em solo panamenho, porção territorial que demarca os limites entre as Américas, não como linha de separação, mas como pólo irradiador das transformações aqui produzidas pelos indígenas, negros, mulheres, camponeses, operários e intelectuais, e por todos os corações que batem pela justiça e a fraternidade entre os povos. O continente americano vive um período de oportunidade para aqueles que lutam pela justiça social e pela solidariedade”.
Para Vagner Freitas, presidente da Contraf-CUT e secretáiro de Organização Sindical da CUT, a conjuntura em que estamos hoje pede a criação de uma organização sindical mundial que tenha capacidade de organizar todos os sindicatos livres e democráticos do mundo para promover um enfrentamento mais eficaz com o capital, que já está totalmente internacionalizado. “A criação da CSA traz para as Américas uma alternativa de central com essas características que seja efetivamente representativa dos trabalhadores em nível continental”, avalia. “E, embora a CSA reúna diversas matizes e visões do sindicalismo, nós da CUT, uma das maiores entidades dentro da central, vamos trabalhar para que ela atue com uma visão classista e represente os trabalhadores de forma independente”, sustenta.
Lutas
“As lutas populares abriram novos caminhos e devido a isso existem hoje governos que resistem ao imperialismo e ao neoliberalismo. Juntas, tais forças rompem o discurso único e não podemos esperar de nós mesmos nada que não seja o desejo de aprofundar as mudanças e o comprometimento que isso exige”, declarou o presidente cutista. Artur conclamou os dirigentes a ampliarem a mobilização dentro de cada país em defesa do desenvolvimento nacional soberano e pelos direitos da classe trabalhadora. Condenou ainda a política belicista de Bush e manifestou apoio aos trabalhadores norte-americanos e de toda a América em sua luta contra as perseguições sindicais.
Colômbia e Guatemala foram citados pelos presentes como exemplos de práticas criminosas contra os trabalhadores, com o relato de vários casos de perseguição e assassinatos.
O presidente da República do Panamá, Omar Torrijos Pinedo, saudou os representantes das numerosas delegações que se uniram no auditório Vasco Nuñez de Balboa, do Hotel El Panamá, frisando a importância do protagonismo sindical na construção democrática do país e agradeceu a contribuição à luta para que o governo norte-americano devolvesse o canal ao país. “O movimento sindical internacional se somou a reivindicação dos panamenhos. Hoje somos um povo livre, independente, soberano e dono do seu próprio destino”, declarou o presidente, filho do histórico comandante Omar Torrijos, assassinado pela CIA em 31 de julho de 1981.
A nova confederação terá sua sede em São Paulo e recebeu uma mensagem de congratulações do presidente Lula, que frisou que em meio à diversidade é possível vencer os grandes desafios que enfrenta a população mundial. Representando o governo brasileiro, o ministro Luiz Dulci citou a experiência histórica do movimento sindical brasileiro na luta pelo desenvolvimento e pela distribuição de renda, e elogiou o exemplo de unidade das entidades sindicais presentes, “que se somam contra a globalização excludente, na luta pela superação histórica do estigma do neoliberalismo”.
Experiência
Conforme Julio Roberto Gómez, até ontem presidente da extinta CLAT, diante do esgotamento das políticas do FMI e do Banco Mundial, que cada vez mais cavam um abismo em nossas sociedades, concentrando riqueza e poder, não resta outro caminho que a unidade da classe trabalhadora, e esta deve ser a principal força para pensar com inteligência, alcançar respostas e enfrentar os grandes desafios que impossibilitam uma vida social verdadeiramente digna para os nossos povos.
Com igual determinação, Linda Chávez Thompson, presidenta da também extinta ORIT, de descendência norte-americana e filha do desaparecido líder camponês César Chávez, encerrou seu discurso com uma expressão que simbolizava o que estava ocorrendo com a fundação da CSA: “com nosso trabalho, sim podemos enfrentar as políticas que afetam os trabalhadores e as decisões governamentais que amparam a quem se converterem em inimigos do sindicalismo”. “Sim, podemos”, respondeu o plenário.
Segundo Rafael Freire, um dos principais responsáveis pela unificação da CLAT e da ORIT, começa a construção da unidade do movimento sindical das Américas. “A CSA servirá de instrumento catalizador das lutas e reivindicações da classe trabalhadora. Nosso desafio é construir uma entidade que una a diversidade de pensamento dentro de um posicionamento progressista e de esquerda, que garanta direitos e amplie conquistas, com a democratização das estruturas sindicais e o combate a todo e qualquer cupulismo e burocratismo”, acrescentou.
Protagonistas de importantes momentos da historia da CLAT e da ORIT, Euardo García Moure e Víctor Báez Mosqueira, também destacaram a transcendência da unidade.
Nesta sexta-feira o congresso unitário analisará os diferentes problemas sociais e econômicos que enfrentam os trabalhadores e ao final elegerá a primeira junta diretiva da nova entidade sindical.