Caixa e BB são responsáveis por 72% do avanço dos empréstimos

Carolina Mandl e Felipe Marques
Valor Econômico

Sozinha, a Caixa Econômica Federal engordou em quase R$ 100 bilhões o estoque de crédito do país nos últimos 12 meses, contabilizados a partir de setembro de 2011. Dos R$ 243 bilhões de expansão do volume de empréstimos e financiamentos dos cinco maiores bancos do Brasil, a Caixa foi responsável por R$ 97,5 bilhões. Outro importante quinhão ficou com o Banco do Brasil, cuja carteira engordou R$ 78,2 bilhões.

Apesar de menor do que o avanço da Caixa, a cifra do Banco do Brasil supera a evolução dos três maiores bancos privados do país. Juntos, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander tiveram um crescimento de R$ 67,4 bilhões no estoque de empréstimos e financiamentos.

A agressividade dos bancos públicos ainda não modificou o ranking de bancos por ativos neste ano. O BB já era líder e continua, enquanto a Caixa segue em quarto lugar, atrás de Itaú e Bradesco. No ano passado, a Caixa já havia ultrapassado o Santander.

Sustentado pelas instituições públicas, o estoque de crédito dos cinco maiores bancos do país avançou 17,2% em 12 meses, para R$ 1,67 trilhão em setembro.

Nem de longe, porém, essa expansão de dois dígitos se refletiu no resultado das instituições, sejam elas públicas ou privadas. Os cinco bancos somaram um lucro de R$ 10,9 bilhões no terceiro trimestre deste ano, com queda de 6,5% na comparação com igual intervalo de 2011.

Sem exceção, todos também viram o retorno sobre o patrimônio líquido – importante indicador de rentabilidade avaliado por investidores – cair. Despesas com provisões para devedores duvidosos e juros em queda foram os fatores que mais atingiram os bancos.

Só Bradesco e Caixa conseguiram exibir resultados maiores. O lucro líquido do banco da Cidade de Deus atingiu R$ 2,86 bilhões, com alta de 1,7% em um ano.

Na Caixa, a expansão de 43% da carteira de crédito se traduziu em um avanço bem mais parco do lucro, de 4,6%, para R$ 1,35 bilhão. A pressão do governo pela redução do custo do crédito impediu um crescimento maior do resultado líquido. “As taxas [de juros] estão caindo, mas tentamos compensar com o volume de crédito”, afirma Raphael Rezende Neto, vice-presidente de controle e risco da Caixa.

Só em contas correntes, o banco abriu 3,36 milhões de novos cadastros em 12 meses, impulsionados principalmente pela propaganda dos juros mais baixos do programa Caixa Melhor Crédito.

O avanço dos bancos públicos frente aos privados não é um fato novo. Resta saber até onde ou quando o movimento seguirá.

A Caixa ainda prevê ganhar participação no mercado de crédito até o fim do ano, encerrando 2012 com uma fatia de 15% ou 0,5 ponto percentual a mais do que em setembro. Um ano atrás, a Caixa tinha 11,76%. Em meados deste ano, a Caixa tirou do Bradesco a posição de terceira maior carteira de crédito do país.

Ainda em fase de reuniões de planejamento para 2013, a Caixa evita fazer projeções. No entanto, Márcio Percival, vice-presidente de finanças da Caixa, dá pistas de que a velocidade do ano que vem não deve esmorecer. “O ritmo de 40% é um parâmetro importante para a Caixa. Vem sendo seguido pelo banco há alguns anos”, diz.

Em recente reunião com jornalistas, executivos do BB foram mais cautelosos em relação ao cenário de expansão dos bancos públicos em 2013. “O que prevemos é que a concorrência no ano que vem deve ser mais acirrada”, disse Ivan Monteiro, vice-presidente financeiro.

Um fator que pode limitar a expansão de Banco de Brasil e Caixa no ano que vem é a inadimplência. Por enquanto, o indicador dá sinais de acomodação, mas ainda é cedo para se afirmar que essa é a tendência daqui para a frente.

No terceiro trimestre, enquanto os atrasos acima de 90 dias do Itaú Unibanco e do Bradesco recuaram marginalmente, na Caixa e no Banco do Brasil a inadimplência teve um leve aumento. O Santander, porém, acabou sendo o ponto fora da curva nos privados, com inadimplência avançando 0,2 ponto percentual na comparação com período imediatamente anterior por causa dos calotes das pessoas físicas.

Caso a inadimplência continue a avançar, esse pode ser um dos limitadores do apetite dos bancos públicos no ano que vem, na medida em que uma expansão dos calotes costuma resultar em uma velocidade mais moderada de concessões. Ainda assim, como não cansam de repetir os bancos públicos, seus índices de atraso são hoje quase metade do de seus pares privados.

Independentemente da trajetória da inadimplência, as despesas com provisão para devedores duvidosos tiveram mais um trimestre de crescimento expressivo. O avanço foi de 18,3% contando as cinco instituições como um todo, comparado a igual período de 2011. Juntas, elas provisionaram cerca de R$ 18,2 bilhões para créditos de má-qualidade.

Depois da expansão do crédito neste ano, a Caixa também pode voltar a precisar de uma nova injeção de capital. Mesmo depois da recente capitalização de R$ 1,5 bilhão feita pelo governo, o banco está com o índice de Basileia em 12,6%. Está acima do patamar mínimo de capitalização de 11% fixado pelo Banco Central, mas com uma folga não tão grande, a depender do ritmo de crescimento.

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