(São Paulo) O secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Fernando Corrêa, recebeu a Contraf-CUT nesta segunda-feira, dia 9, e disse que o problema da segurança bancária é preocupante e que é preciso encontrar uma forma de os bancos assumirem a sua responsabilidade para conter o crescente número de assaltos. Durante a audiência, em Brasília, Corrêa se comprometeu a levar o problema ao ministro da Justiça, Tarso Genro, para também aumentar a mobilização da polícia no combate ao problema.
“O secretário Nacional de Segurança Pública foi muito receptivo e se mostrou bastante preocupado com a questão da segurança bancária. Expusemos todos os problemas que o movimento sindical bancário sempre denunciou e o deixamos a par da situação. O secretário Corrêa achou um absurdo, por exemplo, que os bancários sejam obrigados a ficar com chaves de cofres e agências, além de transportar ilegalmente o dinheiro dos bancos sem qualquer segurança. Ele reconheceu a necessidade de os bancos se envolverem mais para resolver o problema da insegurança e vamos aguardar um retorno dele nos próximos dias sobre os resultados da reunião com o ministro”, comentou Vagner Freitas, presidente da Contraf-CUT.
O secretário Nacional também conheceu o trabalho da Contraf-CUT na Comissão Consultiva para Assuntos de Segurança Pública (CCasp), órgão do Ministério da Justiça. “Ele viu com bons olhos o desempenho da Ccasp e se assustou com elevado número de infrações dos bancos. Mostramos que 55% das autuações que os bancos tiveram de 2002 para cá se deve a falta de vigilantes e que as instituições financeiras facilitam a ação dos marginais ao deixarem a segurança de lado. Expusemos também a situação dos bancários e mostramos alguns casos em que o trabalhador acabou morto, vítima do desleixo dos bancos”, disse Gutemberg Oliveira, diretor da Fetec São Paulo e representante da Contraf-CUT na Ccasp.
Luiz Fernando Corrêa solicitou à Contraf-CUT um levantamento minucioso sobre os assaltos à banco e a insegurança que aflige desde as pequenas cidades até as grandes metrópoles. “Vamos organizar esta pesquisa e em breve procuraremos as federações para elaborar um quadro”, disse Vagner Freitas.
Os bancários ainda destacaram o problema da subnotificação, já que muitos assaltos ocorrem sem que os bancos registrem ao menos um Boletim de Ocorrência. Corrêa ressaltou que o IBGE está realizando uma pesquisa de casa em casa para traçar um quadro sobre a violência no Brasil e que este levantamento pode colocar as subnotificações dos bancos nas estatísticas.
“A reunião foi muito boa, o secretário foi receptivo e pudemos pautar a irresponsabilidade dos bancos com o problema da insegurança. Colocamos a necessidade de as instituições financeiras investirem num sistema que privilegie a proteção à vida e não ao dinheiro”, comentou Rodrigo Lopes Britto, diretor do Sindicato de Brasília.
Confira abaixo a íntegra da carta que os bancários entregaram ao secretário Luiz Fernando Corrêa.
Senhor Secretário,
Os bancários de todo o país estão preocupados com o crescente número de assaltos a bancos que atinge praticamente todas as regiões do Brasil, desde as pequenas cidades até as grandes metrópoles.
A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), que representa mais de cem sindicatos e 90% dos bancários do país, vem ao senhor solicitar que esta Secretaria intervenha para que o problema da segurança bancária seja resolvido.
Esta Confederação participa desde 1995 da Comissão Consultiva para Assuntos de Segurança Pública (CCASP), que assim como a sua Secretária é parte integrante do Ministério da Justiça. Por meio deste órgão, temos constatado um aumento significativo das autuações contra os bancos por falta de segurança. Os números impressionam, principalmente de 2004 para cá, como o senhor pode observar no documento em anexo.
A negligência das instituições financeiras vai desde a falta de porta giratória com detector de metais nas agências e, principalmente, no auto-atendimento, até a ausência de sistema de alarme, passando pelo número de vigilantes, que é insuficiente e sem treinamento. Inclusive há agências que não contam com nenhum vigia.
Ao invés de corrigir as falhas, os bancos preferem pagar as multas, porque saem mais baratas que a contratação de mais vigilantes ou a implantação de uma porta giratória, por exemplo. No afã de lucrar cada vez mais, os bancos estão deixando a vida de clientes e usuários à mercê dos bandidos, que se sentem praticamente “convidados” a assaltar os bancos, tamanha a facilidade que encontram.
Mas, se a situação das agências está assim, pior é para os correspondentes bancários, cuja segurança é praticamente zero. As casas loterias, lojas de departamentos e grandes magazines fazem hoje praticamente os mesmos serviços das agências bancárias, sem passar por qualquer adaptação no sistema de segurança.
Há também o problema do transporte irregular de valores feito por bancários. Os bancos também costumam obrigar os funcionários a levar as chaves das agências e dos cofres para casa, expondo-os a um risco desnecessário. Lutamos contra esta irregularidade há anos, mas os bancos continuam com este tipo de atuação.
Por tudo isso, pedimos a intervenção do senhor nesta luta que hoje é de toda a sociedade brasileira, não mais apenas dos bancários. A população está assustada e a mídia tem repercutido muito o problema da segurança bancária. Os dados obtidos pelos próprios meios de comunicação mostram crescimento de mais de 100% nos números de assaltos na cidade de São Paulo nos três primeiros meses deste ano, comparados com igual período do ano passado. Mostram ainda que em Minas, Rio, Rio Grande do Sul e até em Rondônia a violência bancária tem crescido vertiginosamente.
Uma das formas de combatermos o problema é com a atualização da lei 7.102, que ainda prevê multas em Ufirs e seu baixo valor incentiva a infração. Outra ação fundamental é o apoio da Polícia Federal. Queremos a intensificação da vistorias nas agências, com mais efetivo policial.
A situação está insustentável e, se não tomarmos medidas eficazes para combater o assalto, a violência vai continuar crescendo, porque os bancos não estão interessados em coibir o problema. Muito pelo contrário, sua negligência expõe a vida de clientes, usuários, vigilantes e bancários.
Na certeza de contarmos com o seu apoio, agradecemos a audiência e nos colocamos à disposição para qualquer coisa.
Fonte: Contraf-CUT