Copom diminui juros para 11,5%, mas spread continua nas nuvens

(São Paulo) O Brasil deixou o posto de campeão mundial em taxas de juros reais. O corte da taxa Selic de 12% para 11,5% ao ano deixou os juros reais do país em 7,7%, passando a liderança para a Turquia, com taxa de 8,2% ao ano no ranking elaborado pela UpTrend Consultoria Econômica.

 

Os analistas em geral consideraram a redução positiva para a economia, podendo ter impacto na valorização do dólar frente ao real. A CUT, em nota oficial, ironizou o corte, lembrando que o país ainda é “medalha de ouro” pan-americano de juros. “Ninguém tira sua condição de campeão pan-americano dos juros reais altos. Muito menos essa pequenina redução anunciada hoje, de 0,5%, afirma a nota, assinada pelo presidente nacional da entidade, Artur Henrique. “Sugerimos aos senhores do Copom um pouco de exercício para combater essa ridícula gordura”, prossegue.

 

Ana Carolina Tosetti Davanço, da subseção do Dieese no Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, lamenta que os sucessivos cortes da Selic não têm sido seguidos muito de perto pelos bancos na definição das taxas de juros praticadas. “O que temos verificado é que o preço dos empréstimos cai num ritmo muito mais lento do que a Selic. Isso ocorre em função da falta de concorrência no setor bancário, que permite que o spread bancário [diferença entre a taxa Selic e o valor cobrado nos empréstimos pelos bancos] caia de forma menos acelerada”, analisa.

 

Miguel Pereira, diretor executivo da Contraf-CUT, concorda: a queda nos juros é importante, mas é preciso que também diminua o spread bancário. “Sem isso, o tomador de crédito na ponta não se beneficia. Várias medidas foram tomadas para criar condições para a diminuição dos juros dos bancos, como a aprovação da Lei de Falências e a redução do compulsório, além da queda da inadimplência, mas os bancos mantêm as taxas nas alturas”, sustenta. “Os bancos pagam no máxi 1% nas aplicações e cobram 12% nos empréstimos. É um absurdo”, completa.

 

“O sistema financeiro nacional não tem regulamentação. É preciso uma lei que diga para que ele serve, quais suas atribuições na sociedade. Bancos lidam com o dinheiro da população, não como próprio e atuam por meio de concessão pública. Assim sendo, é justo que governo e sociedade tenham contrapartidas desse trabalho”, avalia Miguel.

 

Davanço aponta como solução uma intervenção governamental na forma de regulamentação nesse mercado. Uma das formas possíveis para essa intervenção é o crédito direcionado. “É o caso da poupança. 65% dos depósitos que ela recebe tem que ir para o sistema de credito para a habitação compulsoriamente e com taxas reguladas”, exemplifica.

 

Outro exemplo é o credito consignado em folha de pagamento, fruto parceria entre governo, bancos e centrais sindicais. No entanto, na avaliação da técnica, a modalidade precisa de melhorias. “As centrais precisam intervir para melhorar as taxas que estão sendo praticadas, que são muito altas para um empréstimo de risco quase zero”, explica.

 

Ele lembra que, quando o empréstimo com desconto em folha de pagamento foi criado, no final de 2003, a taxa Selic estava em patamares bem mais altos, em torno de 18% ao ano. “Houve mudanças no cenário e o acordo continua o mesmo. É preciso aproveitar o espaço de negociação e pressionar pela redução das taxas”, defende Davanço.

 

Fonte: Contraf-CUT

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