O movimento sindical bancário se reuniu na manhã do último dia 15, terça-feira, com Wagner de Siqueira Pinto, representante da Unidade de Desenvolvimento Sustentável do Banco do Brasil, e com o comitê SOS Região Serrana, formado por funcionários voluntários do banco. O objetivo do encontro, organizado pela Gepes-Rio, foi discutir a ajuda aos bancários afetados e às cidades atingidas pelas chuvas de janeiro na região serrana.
A reunião contou com representantes dos três sindicatos da Serra – Nova Friburgo, Teresópolis e Teresópolis -, o presidente do Sindicato do Rio de Janeiro, Almir Aguiar, mais Sérgio Farias, representante da Federação na Comissão de Empresa dos Funcionários do BB, Ricardo Maggi, diretor de Bancos Públicos da Federação, e Marcel Barros, secretário-geral da Contraf.
Os representantes dos três sindicatos da Serra relataram a situação dos moradores das cidades atingidas e a de muitos bancários. Mais de um sindicalista ressaltou a importância do banco disponibilizar apoio psicológico a todos os funcionários e seus familiares.
“No meu bairro não houve muitos problemas, mas minha filha não dorme e eu tenho pesadelos à noite, sonho que estou sendo soterrado”, relata Dalberto Louback, diretor de Finanças e Patrimônio do Sindicato de Nova Friburgo.
Wagner de Siqueira Pinto, da Unidade de Desenvolvimentos Sustentável, garantiu que vai encaminhar à direção da Cassi um pedido para dar atenção especial a esta necessidade. “Mas esta ajuda não pode ser somente pontual. O estresse pós-traumático pode levar muito tempo para se manifestar. Nesse momento tão difícil um aperto de mão pode valer muito mais que qualquer ajuda financeira”, destaca Wilson José Pereira vice-Presidente do Sindicato de Teresópolis.
Para os bancários, o banco tem que considerar isto na hora de fazer as avaliações de desempenho. “Um funcionário que passou por este tipo de situação não pode ser avaliado pelos mesmos critérios que um, de outra região, que não viveu tamanha catástrofe”, reivindica Sérgio Farias.
Metas e PLR
Outra preocupação dos dirigentes é com a cobrança de metas dos funcionários. “Não dá para exigir metas neste momento. A economia está arrasada, ninguém vai comprar os produtos. E os empregados não têm condições psicológicas de bater metas”, avalia Wilson.
Os representantes dos trabalhadores entendem que esta medida não pode ser pontual, mas prolongar-se até que as cidades se recuperem. “O banco tem que suspender a cobrança de metas até, pelo menos, o fim deste ano. E, para 2012, as metas da região devem ser diferentes das estabelecidas para o resto do país”, reivindica Marcos André Alvarenga, funcionário do BB e diretor do Sindicato de Petrópolis.
Outra reivindicação dos sindicalistas é que o banco ajude a injetar dinheiro na economia local antecipando a PLR e o 13º. “Além de ajudar o próprio funcionário a se reerguer, ajuda os comerciantes da cidade. Mesmo que não se tenha ainda os balanços, o BB pode pagar a regra mínima. As pessoas precisam de dinheiro, e precisam agora”, ressalta Sérgio Farias.
Reconstrução
Indústrias, agricultura, comércio e turismo das cidades serranas foram afetados e o desemprego está crescendo. “Tem empresários que não sabem se vão poder manter os funcionários no mês que vem, porque a fábrica ficou arrasada”, relata Wilson Pereira.
Wagner Pinto ressalta que o banco está tomando medidas estruturantes que possam ajudar as cidades a se reerguer. “Para os clientes, temos ações como a flexibilização dos parâmetros de linhas de financiamento, carência, renegociação de dívidas, novas linhas de financiamento, já com esta carência maior, etc. para dinamizar economia local”, informa o executivo.
A preocupação dos sindicalistas também se volta para os pequenos negócios e para a agricultura familiar. “O banco precisa criar uma linha de microcrédito especial para atender aos microempreendedores. Muitos não têm documentos, estão na informalidade, e não são elegíveis às linhas de financiamento oficiais. Com os produtores rurais é a mesma coisa, a maioria não pode se inscrever no PRONAF por conta da informalidade, são meeiros, arrendatários. Mas todos precisam de crédito para retomar suas atividades”, argumenta Sérgio Farias. O dirigente entende que é necessária uma ação emergencial para socorrer estes empreendedores.
O executivo do BB informa que, além das medidas estruturantes para ajudar na reconstrução, este também é um bom momento para estimular a legalização dos empreendimentos. E o banco também vai dar especial atenção às exigências legais relativas à ocupação do solo e preservação ambiental.
“O banco já faz isso, a análise sócioambiental faz parte da avaliação do risco de crédito. A obediência à legislação ambiental – nacional e local – é prevista no sistema do banco. Situações como esta evidenciam a importância deste cuidado”, destaca o executivo.
Solidariedade
Quanto à ajuda financeira, parte dela virá dos próprios funcionários. Desde que houve a enchente em Santa Catarina, em 2008, os empregados do banco se mobilizam para socorrer os colegas em dificuldade. No Rio de Janeiro, as ligações que começaram a chegar de todo o país levaram um grupo de funcionários a se reunir e abrir uma conta para receber as doações.
Foi formado, então, o Comitê SOS Região Serrana, composto por funcionários dos setores integrantes do Fórum Tático Operacional – Fotao, que reúne um grupo de departamentos do banco, mais representantes das ECOAs – Equipes de Comunicação e Autodesenvolvimento. Estes empregados estão trabalhando voluntariamente e abriram uma conta de pessoa física, com três titulares escolhidos entre eles, para receber doações em dinheiro do funcionalismo.
“Tivemos doações de todo o Brasil. Agora estamos levantando as necessidades, relacionando os funcionários atingidos e do que eles estão precisando. Em seguida, faremos a compra dos móveis, eletrodomésticos e utensílios”, informa Janice Mendes, funcionária da Gepes-Rio e integrante do comitê.
Este modelo de organização voluntária não é novo. A ideia surgiu em 2008, quando o estado de Santa Catarina foi castigado por chuvas e inundações que deixaram um rastro de morte e destruição. No ano passado movimento semelhante aconteceu para ajudar os bancários e colaboradores do BB atingidos pelas chuvas em Alagoas e Pernambuco.
Mas, ao contrário do que se imagina, o comitê do Rio está tendo menos trabalho que o de Santa Catarina, onde a tragédia teve proporções menores. “O número de funcionários nossos atingidos foi maior lá. Não só do próprio BB, mas também do BESC, que tinha acabado de ser incorporado”, informa Janice.
Como o banco estadual catarinense tinha imensa capilaridade, assim como o BB, presente na maioria dos municípios do Brasil, o número de funcionários que sofreram diretamente as consequências do cataclismo foi maior.
A ajuda aos funcionários vem também do próprio banco, através dos adiantamentos salariais. “Estes adiantamentos são operações em que o banco não tem nenhum lucro, porque o funcionário paga em 50 vezes e sem juros”, informa Wagner.
Os sindicalistas reivindicam que, em alguns casos, o adiantamento, que é pago pelo empregado, seja convertido em auxílio, já que aqueles que perderam tudo terão que recomeçar do zero. “Tem gente que vai levar duas gerações para reconquistar a casa de R$ 30 mil e o carro de R$ 2 mil. Para estas pessoas, o adiantamento não é suficiente”, destaca Wilson Pereira, de Teresópolis.
Muita gente precisando
Durante a reunião, o Comitê SOS Região Serrana apresentou uma relação de nomes de funcionários que receberiam a ajuda. Mas os sindicalistas presentes informaram que havia mais bancários em dificuldades do que a relação apresentava.
Ficou acordado que os sindicatos locais informariam os nomes que faltavam, com dados completos e necessidades, para que a ajuda realmente chegasse a todos. Os dirigentes sindicais da Serra aproveitaram para reivindicar que, na medida do possível, as compras dos produtos fossem feitas no comércio local, para ajudar a reerguer a economia das cidades afetadas. Embora isto possa encarecer e tornar mais complexo o trabalho, o comitê ficou de avaliar esta possibilidade.
Max Bezerra, presidente do Sindicato de Nova Friburgo, ressaltou que alguns empregados com cargos e salários mais elevados se sentiram constrangidos de receber a ajuda, já que há profissionais com remuneração menor que perderam tudo.
Mas os membros do comitê ressaltaram que a ajuda não vai discriminar o poder aquisitivo de nenhum empregado. Max aproveitou para fazer uma reivindicação que revela o espírito solidário que reina até mesmo entre as vítimas da tragédia. O dirigente, que teve prejuízos materiais, reivindica que a ajuda seja, realmente, estendida a todos, porque um funcionário que pode se reerguer sozinho tem a possibilidade de passar adiante o bem recebido, ajudando a quem precisa mais do que ele.
Batismo de fogo
Na reunião de dezembro de 2010, o Conselho Diretor do BB definiu a sistematização de um programa para enfrentamento de calamidades. A experiência com as catástrofes de Santa Catarina, em 2008, e Alagoas/Pernambuco, em 2010, evidenciou a necessidade do banco estar preparado para lidar com situações emergenciais.
“Algumas coisas já vinham sendo feitas, mas faltava o arranjo orgânico”, esclarece Wagner Pinto. Mas ninguém esperava que, logo na primeira quinzena de janeiro deste ano, o plano já teria que ser posto em prática.
Mas ninguém foi pego desprevenido. “Não dá para prever as necessidades específicas de cada comunidade. O que temos é uma infraestrutura de gestão, com um conjunto básico de ações e a definição de quem é responsável por cada uma. Nas situações básicas já há soluções definidas, o processo já pode ser deflagrado”, informa Wagner.
Uma das ações emergenciais é a antecipação do Projeto Voluntariado, que acontece anualmente. “Normalmente, o programa começa a ser planejado no início do segundo semestre, para ser aplicado perto de dezembro. Este ano, antecipamos para março”, informa o executivo.
O projeto consiste no apoio financeiro a ações de ajuda realizadas pelos funcionários voluntários. “Os recursos para este ano somam R$ 3 milhões, sendo R$ 2 milhões do banco e R$ 1 milhão da Fundação Banco do Brasil. Parte deste montante será aplicado, agora em março, para atender à Região Serrana do Rio de Janeiro”, adianta Wagner Pinto.