Alex Ribeiro de Brasília
A Caixa Econômica Federal, que acaba de receber um reforço de capital de R$ 2 bilhões, vai anunciar novas metas de crescimento da sua carteira de crédito. O objetivo de crescimento deste ano será revisto de 40% para “pouco mais de 50%”, informa a presidente da instituição, Maria Fernanda Ramos Coelho. Para 2010, os planos são uma expansão de 30% no volume de empréstimos, acima da média de 22% prevista para o mercado como um todo. Se os números forem cumpridos, a Caixa deverá voltar a ser o quarto maior banco em crédito no país, posição perdida para o Santander após a aquisição das operações do ABN AMRO Real no Brasil.
Nessas contas, está incluído apenas o chamado crescimento orgânico do crédito – ou seja, as operações contratadas pelas agências e demais canais de atendimento do banco. Com compras de participações em outras instituições financeiras, a expansão poderá ser ainda maior.
“Até o fim do ano, a gente efetiva algumas operações importantes”, afirma Maria Fernanda, sem dar detalhes das negociações. No ano passado, o governo publicou medida provisória, já transformada em lei, que autoriza o banco federal a criar uma empresa de participações, a CaixaPar, e a comprar ações de instituições financeiras. “No balanço de 2010, já devem aparecer os resultados desses operações”, afirma.
Na semana passada, o Tesouro Nacional fez uma emissão de R$ 2 bilhões em títulos públicos para reforçar o chamado capital nível 2 da Caixa. Em outubro, o governo anunciou um reforço de capital de até R$ 6 bilhões. Os R$ 4 bilhões restantes deverão ser emitidos ao longo de 2010, de acordo com as necessidades do banco federal. O capital novo reforça em cerca de R$ 70 bilhões a capacidade da Caixa de contratar novas operações de crédito.
O mercado bancário como um todo tem acompanhado com interesse o desempenho da Caixa, para medir até quando o banco federal tem capacidade de crescer sua carteira de crédito com juros mais baixos do que os demais bancos de varejo. A Caixa tem sido usada pelo governo como um indutor importante de concorrência no mercado, forçando a queda dos juros cobrados pelos bancos privados.
A capitalização feita pelo Tesouro eliminou a principal restrição ao crescimento. O índice de Basileia do banco federal, que havia caído a 16%, sobe para 20%. As regras prudenciais do BC determinam um capital mínimo de 11% para os bancos operarem.
Outra frente que a Caixa tem que atuar para manter seu crescimento é nas captações, afirma o diretor de controladoria do banco, Marcos Vasconcelos. “No último trimestre ganhamos participação de mercado em várias modalidades de depósito”, afirma. Em depósitos à vista, a fatia da Caixa subiu de 9,7% para 11,8% do mercado; em poupança, de 34,3% para 34,7%; e, em depósitos a prazo, de 3,3% para 4,2%. O aumento do volume de depósitos, por outro lado, tende a pressionar cada vez mais as despesas do banco com captações.
Nos últimos anos, boa parte do aumento da carteira de crédito da Caixa foi feito com o redirecionamento de recursos que estavam aplicados em Tesouraria. A Caixa tem grande posição em títulos públicos em virtude da reestruturação feita no banco em 2001. Em setembro, pela primeira vez, o crédito passou a ser o ativo mais importante do banco (com participação de 32%), superando os títulos (31,7%). O diretor de finanças da Caixa, Marcio Percival, explica que a estratégia daqui por diante é crescer tanto em crédito quanto em tesouraria. “Queremos crescer em ativos totais para aumentar nossa escala”, afirma ele. “Por isso, a expansão de nossa carteira de crédito tem que ser feita com base no aumento de captações.”
Outro desafio para a Caixa é a capacidade física para processar um volume crescente de operações. Uma das saídas é a abertura de pontos de correspondentes bancários e lotéricos, que aumentaram 33% no período de um ano e meio terminado em setembro, chegando a 23 mil. Outra frente na estratégia da Caixa é a compra de participações em instituições financeiras privadas. Os interesses do banco federão incluem as áreas de financiamento de veículos, “leasing”, financiamentos a médias empresas e serviços financeiros, como cartões de crédito. A Caixa também está procurando parceiros para a área de seguro de financiamentos habitacionais.