Oferta de crédito opõe bancos e Obama

Business Week
Bradley Keoun

A administração Obama não perdeu tempo ao passar sua mensagem econômica para Wall Street. Na metade do mês, enquanto os últimos grandes bancos lutavam para devolver os recursos que receberam do governo, Obama convocou figurões de Wall Street à Casa Branca e os exortou a aumentar a concessão de empréstimos a empresas e indivíduos. “Agora que eles voltaram a andar por conta própria, esperamos um comprometimento extraordinário deles na reconstrução de nossa economia”, disse o presidente no dia 14.

Mas será preciso mais que explorar o sentimento de culpa para ampliar o crédito. Com o Citigroup e o Wells Fargo unindo-se ao J.P. Morgan Chase e o Bank of America (BofA) no pagamento dos recursos de urgência que receberam, o governo federal perdeu uma grande alavanca para os empréstimos. Não que o Programa de Ajuda aos Ativos Problemáticos (Tarp na sigla em inglês) tenha se mostrado eficiente em fazer o crédito fluir.

Mesmo quando estavam com o dinheiro que receberam do governo, os bancos estavam de cócoras por causa dos prejuízos. Os empréstimos concedidos totalizaram apenas US$ 239 bilhões em setembro, uma queda de 14% em relação à média de US$ 279 bilhões dos seis meses anteriores, segundo pesquisa feita pelo Tesouro entre os 22 maiores bancos socorridos. Sem o Tarp, os presidentes dos bancos provavelmente vão emprestar ainda menos.

É por isso que os bancos ainda não se recuperaram. Jamie Dimon, diretor-presidente do J.P. Morgan disse a investidores que sua unidade de cartões de crédito – com quatro trimestres seguidos de prejuízos – poderá perder US$ 1 bilhão por trimestre até junho de 2010. O Citi está com ativos de risco avaliados em US$ 182 bilhões, dos quais quer se desfazer.

O Wells Fargo tem US$ 135,2 bilhões em empréstimos imobiliários comerciais; as perdas do portfólio aumentaram 21% do segundo para o terceiro trimestre. O Fed estimou em maio que as perdas totais desse grupo até 2010 poderiam atingir US$ 600 bilhões. Até agora, apenas 20% delas foram reconhecidas.

Como as perdas com empréstimos estão aumentando, os bancos vão juntando dinheiro. BofA, Citigroup e Wells Fargo captaram ou pretendem captar US$ 50 bilhões pelo menos. O caixa do Citigroup dobrou ao longo do último ano para US$ 244 bilhões, segundo documentos encaminhados às autoridades reguladoras. Richard X. Bove, da Rochdale Securities, diz que este é o maior estoque que ela já viu em qualquer banco em seus 44 anos como analista.

As autoridades reguladoras estão encorajando a postura cautelosa. Os níveis de capital pós-Tarp poderão se tornar a nova norma para os grandes bancos, afirma Ernie Patrikis, ex-conselheiro-geral do Fed de Nova York, hoje sócio da firma de advocacia White & Case. O Citi disse que a medida de capital será de 11% dos ativos após pagar o Tarp e vender de ações.

Sob as regras bancárias internacionais, um banco bem capitalizado deve ter um colchão de 6% dos ativos. “Se o presidente quer que os bancos comecem a emprestar mais, ele poderia passar menos tempo reclamando para os presidentes dos bancos e mais tempo conversando com suas autoridades reguladoras”, diz o gerente de fundos de hedge Tom Brown em em seu site especializado em análises financeiras, Bankstocks.com. Autoridades reguladoras “agora parecem insistir para que bancos mantenham os padrões de capital mínimo significativamente acima dos níveis oficiais publicados”.

Na medida que o capital aumenta, os empréstimos diminuem. O JP Morgan cortou a parcela não usada das linhas de crédito dos clientes de cartões de crédito em 6,3% este ano, para US$ 584,2 bilhões, até 30 de setembro, segundo documentos enviados às autoridades. Ele reduziu as linhas imobiliárias em 32% para US$ 64,8 bilhões. Os empréstimos dos bancos para empresas caíram 17% para US$ 1,35 trilhão ao longo do último ano, segundo o Fed. “Esses sujeitos estão nisso para ganhar dinheiro”, diz Patrikis. “Quem quer ser o primeiro banqueiro a fazer um empréstimo ruim?”

Com os grandes bancos saindo do Tarp, os EUA terão que encontrar novos meios para exercer pressão. Um método poderá ser aumentar a taxa básica de juro do Fed, que é o que os bancos cobram uns dos outros por recursos emprestados no overnight, diz Allan H. Meltzer, pesquisador da história do Fed e professor da Carnegie Mellon University de Pittsburgh.

Os bancos ganham dinheiro tomando emprestado do Fed e investindo em títulos e empréstimos de maiores rendimentos. Com o juro básico perto de zero, os bancos podem ter bons lucros simplesmente mantendo títulos do Tesouro. Com uma alta do juro, os bancos seriam forçados a transferir dinheiro para os empréstimos. No momento, “você pode conseguir três pontos porcentuais, o que é bastante para um banco, sem fazer nada”, diz Meltzer. “Por que os bancos deveriam assumir riscos?”

Se os bancos não abrirem logo suas carteiras, o governo poderá optar por reduzir os padrões de subscrição para empréstimos vendidos à Fannie Mae e Freddie Mac, afirma Bose George da Keefe Bruyette & Woods. “Não há dúvidas de que se a Fannie e a Freddie afrouxarem seus padrões, muito mais empréstimos serão produzidos. O único provedor de crédito no momento é o governo”, diz.

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