Folha de São Paulo
Clóvis Rossi
Os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) fugirão de qualquer definição mais precisa nos temas polêmicos, no comunicado final de sua terceira reunião de cúpula a realizar-se hoje no balneário de Sanya, sul da China, uma espécie de Cancún do comunismo chinês devidamente aburguesado.
O ponto mais próximo de algum avanço é o uso de moedas locais, em vez do dólar, nas transações entre os cinco membros do grupo. Ontem, os presidentes dos bancos de desenvolvimento aprovaram acordo pelo qual trocarão experiências sobre operações de financiamento em moeda local.
É um passo muito preliminar para substituir o dólar, até porque, como reconhecem os negociadores brasileiros, trata-se de uma questão demasiado complexa para ser resolvida rapidamente. Tanto que mecanismo similar, implantado apenas entre Brasil e Argentina, funciona com muita dificuldade.
Outra iniciativa menos genérica é o apoio dos Brics ao plano de paz para a Líbia apresentado pela União Africana, aceito em princípio pelo ditador Muammar Gaddafi mas e rejeitado por rebeldes.
Apoio não significa envolvimento direto no tema, mas o acompanhamento do painel proposto pela UA.
O que os Brics rejeitam diretamente é o uso da força, não apenas na Líbia mas em todas as delicadas situações que se vivem no mundo árabe-muçulmano. Rejeitam, especificamente no caso líbio, a divisão do país e a violação de sua soberania.
A questão cambial, que tanto preocupa o Brasil, nem entrou na agenda, porque é tema que está sendo tratado no G20, grupo ao qual pertencem todos os Brics.
Faz todo o sentido jogar a questão para o G20, porque o desarranjo cambial não é apenas provocado pelo valor artificialmente baixo do yuan chinês mas também pelo dólar. Encaminhar o tema sem a presença dos Estados Unidos seria inútil.
Outro tema que está no centro das preocupações do G20, a volatilidade nos preços das commodities, também não ganhou, no documento final, uma declaração contundente. Os Brics manifestam, como todos, sua preocupação com a volatilidade, “especialmente dos preços de alimentos e da energia”, mas não fazem nenhuma proposta para enfrentá-la.
A ideia de controle de preços, lançada pelo presidente francês Nicolas Sarkozy, nem passou perto do texto final, até porque o Brasil se opõe frontalmente.